Uma das nossas principais atividades econômicas, o turismo, encontra-se em plena ebulição: o hub aéreo da Air France/KLM e a ampliação das frequências para os Estados Unidos, via Latam e Gol vão, até o final do ano, ligar o Ceará à Europa e aos EUA com voos diários. Além disso, o novo voo da Copa Airlines e a consolidação dos outros voos – pela Condor, Avianca, TACV e o já tradicional TAP para Lisboa – inseriram o Estado com competitividade no mercado internacional.
A expectativa do secretário do Turismo, Arialdo Pinho, é alta: além de consolidar os novos voos e ampliar as frequências já existentes, atrair até R$ 10 bilhões em investimentos de cadeias de hotelaria internacional. Outro ponto são os novos financiamentos internacionais junto ao Banco Andino de Fomento (CAF) e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), de US$ 100 milhões cada, “para investir a maior parte principalmente em saneamento básico e preservação ambiental”.
De acordo com Arialdo, o Estado precisa investir na proteção dos atrativos naturais e regulamentação das atividades no litoral, garantindo a sustentabilidade do turismo. Para tanto, defende a instituição, pelo Governo Federal, de distritos com legislação e incentivos específicos.
Nesta entrevista, o secretário também fala sobre promoção do Ceará no exterior, sobre a busca pelo mercado asiático e do Oriente Médio, atração de outros voos e também do incentivo a modalidades pouco exploradas por aqui, tais como mergulho e trilhas.
Agora que o Ceará conseguiu atrair o hub da Air France/KLM e diversos outros voos internacionais, a atuação da Setur deve se centrar em quais ações?
A partir de agora é promoção e propaganda para lotar os voos, consolidar o novo terminal de passageiros do Porto do Mucuripe, que o Governo Federal vai privatizar. Se a gente conseguir um bojo de incentivos para que os navios possam embarcar e desembarcar do Ceará, ofertando benefícios, e se passar mais de um dia tem acesso a benefício, a gente vai ter uma capacidade imediata, a partir de 2020, de receber 40 navios por ano. Isso significa mais ou menos 100 mil pessoas. Para se ter uma ideia, Lisboa recebeu esse ano 352 navios.
Os voos implementados nos últimos meses (para Paris, Amsterdã, Orlando e Miami) devem ganhar novas frequências em breve?
Nós estamos em fase de implantação dos voos. Até o dia quatro de novembro nós vamos implementar novos voos da Gol (Miami e Orlando), somados aos da Latam (duas para Orlando e quatro para Miami), vamos ter voos diários para os Estados Unidos e também para a Europa. Até o final do ano, serão cinco voos da KLM/Air France, em março haverá um sexto voo e talvez em julho o sétimo. A análise deles é que o mercado comportaria, se o cenário econômico e o dólar não variarem tanto, até 10 voos semanais.
Também estão em prospecção outros voos para a Europa?
Os próximos voos que nós trabalhamos para atrair são para a Itália e a Espanha, além de Londres, cuja negociação já foi divulgada. Um destes está bem adiantado, mas não podemos comentar ainda por questões estratégicas.
A Itália sempre foi um dos maiores emissores de turistas estrangeiros para o Ceará, no entanto, os voos nunca permaneceram por muito tempo. O senhor atribui isto a quê?
A Itália hoje é o segundo emissor, já foi o primeiro por 15 anos. O problema da sustentação dos voos para lá é que sempre tivemos voos operados por companhias de pequeno porte, e também por causa disso, pouca promoção. Nós fizemos uma campanha muito forte na Itália nos anos 1990, em parceria com a Varig, mas depois disso pouca coisa foi feita para aquele mercado e sem promoção os voos não se sustentam. Cerca de 70% da nossa verba de promoção é empregada no exterior. Na nossa concepção, para cada destino novo tem que ser feita uma promoção continuada, com seminários, participação em feiras e propagandas para o público final, principalmente na internet. O segundo passo não é sair buscando novos voos a toda hora, mas consolidar os que já existem. Até o final deste ano vamos ter 48 voos internacionais por semana, acredito que no final de 2019 sejam 60. Com esses, nós temos que dar garantia para eles continuarem, fazendo promoção contínua por três ou quatro anos até formar uma base, como acontece com o voo da TAP para Lisboa, por exemplo, que é sempre lotado.
Os mercados da Ásia e do Oriente Médio também estão no radar da Setur?
Emirados Árabes e China são os próximos mercados que nós vamos buscar, começando com participação em feiras, para ir abrindo portas para um possível voo no futuro. Hoje nós temos um voo bem interessante para a Ásia, que é o Fortaleza – Paris – Pequim, ou Xangai. É a maneira mais rápida de chegar à China, são 19 horas de voo, e em permanência, 22 horas. Por causa do fuso horário, dá pra chegar no mesmo dia, porque sai daqui às 1h e chega em Pequim às 17h.
Os mercados asiáticos ainda têm participação ínfima no fluxo turístico para o Ceará. O senhor espera que haja um aumento do interesse nos próximos anos?
A participação da Ásia é pequena não só aqui, mas no Brasil todo, eu diria que até em toda a América do Sul. Exceto Buenos Aires, Foz do Iguaçu e talvez o Rio de Janeiro, quase ninguém ouviu falar de outro lugar. E é o maior mercado do mundo, são 150 milhões de pessoas viajando para fora da China todos os anos. É a mesma coisa que acontece com o mercado da Escandinávia, que é o quinto maior do mundo, mas o que tem o maior gasto per capita, com média de aproximadamente 2,2 mil euros gastos por dia. A gente não pode deixar passar essas oportunidades, mas tem uma sequência de trabalho, promoção, adequação de retirada de visto, trabalhar o mercado interno pra falar mandarim. É um trabalho que vai acontecer, mas você começa agora pra dar resultado em oito ou dez anos.
Atualmente, qual é a principal demanda dos órgãos estaduais de turismo para estimular o setor em todo o país?
É a criação dos Distritos Turísticos em todo o Brasil. É um pacote de leis que deve ser encabeçado pelo Governo Federal para mudar o perfil de ocupação em regiões turísticas, incentivando a atividade e preservando o meio ambiente. Com isso, cada estado vai determinar onde vão ser instituídos cada um dos distritos. Na nossa visão, devem ficar perto dos aeroportos, então no Ceará deve ser um a Leste e outro a Oeste. Eu vou além, acho que deveríamos criar os distritos rodeados de áreas de preservação. Se são 15 km de extensão, 45 km de parque para cada lado, para preservação dos atrativos.
A Setur está trabalhando no momento para trazer novos equipamentos ou modalidades de turismo para o Ceará?
Estamos fazendo prospecções junto com a Inveravante (gigante espanhola do setor hoteleiro e de parques temáticos) para mapear potencial para novos parques e também estudando áreas para incentivar no Ceará os parques de mergulho. Nós temos muitos locais de águas claras, com potencial para esse nicho, e queremos estudar as maneiras de incentivar, inclusive afundando barcos para atrair vida marinha. Fora isso, nós temos vários outros potenciais que precisam ser explorados, como trilhas e montanhismo no Cariri e nas serras, voo de asa delta em Quixadá, muitas coisas.
E em Fortaleza, de que forma a PPP com o grupo Dias Branco, para conclusão do Acquario e revitalização do Centro/Praia de Iracema, deve impactar na cidade?
Ainda tem um longo caminho, o grupo está fazendo estudos para ver o que é viável ou não, mas não se sabe nem o se o grupo Dias Branco vai ganhar a concorrência. Claro que quem tem estes estudos sai na frente. Mas já é uma saída, é uma das possibilidades de recuperação daquela região e que vai melhorar a atratividade da cidade, sem mexer com os moradores que já estão lá. E de preferência preservando e recuperando o que foi mudado no trecho da Praia de Iracema entre o Acquario e o espigão, resgatando o lado lúdico da cidade.
O Ceará deve ganhar um programa stop over para aumentar a permanência dos passageiros que aproveitam o hub aéreo?
Nós podemos ser os mentores, mas creio que é uma coisa mais da cidade do que propriamente da Setur. Ela tem que pensar amplo, e as secretarias municipais promoverem as ações em cada destino.
O trade local está disposto a apoiar este projeto?
O trade está disposto, nós temos uma relação muito boa, de confiança. Tem que ter envolvimento do trade sim, mas principalmente da companhia aérea, ela tem que estar disposta a fazer, afinal, o novo embarque tem custo. A TAP, por exemplo, comprou a ideia e hoje cerca de 65% do público do stop over de Portugal é de brasileiros, que aproveitam o programa para passar uns dias em Portugal a caminho ou na volta de outros países europeus. Agora nós temos um fluxo grande de pessoas vindas principalmente da Bahia, Pará, Pernambuco e Maranhão indo para a Europa, nós temos que aproveitar e dar condições para que os passageiros passem dois ou três dias aqui no Ceará.
O senhor havia declarado em dezembro, para a revista Tapis Rouge, que o Ceará deve priorizar também a atração de grandes bandeiras da hotelaria. Há outros projetos em negociação, além do terceiro Vila Galé, no Preá?
Estamos em busca de resorts, conversando com duas grandes cadeias hoteleiras dos Estados Unidos, além de outra francesa e o próprio Vila Galé, que recentemente divulgou o projeto para o Preá, aproveitando o aeroporto de Jericoacoara. A única maneira da gente competir com o Caribe é atraindo hotéis all inclusive. Nós temos condições de, em cinco anos, atrair R$ 10 bilhões em infraestrutura de hotelaria.