Prestes a completar 30 anos de fundação, o Grupo Geppos é um dos mais tradicionais do mercado cearense e possui cinco restaurantes de bandeiras diferentes: os dois italianos Geppos (Jardins Open Mall e Beira Mar), o japonês contemporâneo Misaki e os dois argentinos Cabaña del Primo (Jardins e RioMar Fortaleza); além de duas unidades em Teresina, sendo uma Misaki e outra Cabaña, e a franquia de Fortaleza da Grand Cru, a maior importadora e distribuidora de vinhos no Brasil.
Seu idealizador, o empresário Crica Bezerra, atuava na indústria de confecção há 10 anos e viu na gastronomia uma nova oportunidade de negócio que acabou se revelando a sua grande paixão.
Seus restaurantes, tocados em parceria com Deda Gomes, primam pela gestão eficiente. Segundo Crica, o grupo trabalha com vários indicadores. “Para tudo. Monitoramos o orçamento e buscamos cumprir à risca e corrigir os riscos. Nunca é exatamente o que a gente planejou, mas é importante planejar pra ter norte, mesmo que tenha desvios no caminho”, ensina.
Confira os destaques da entrevista em vídeo:
Você deixou de atuar no ramo de confecção para abrir restaurante. Como foi essa mudança de foco nos negócios?
O Brasil estava vivendo uma crise muito séria na indústria têxtil e de confecção, e eu estava num aperto danado. Até que um cunhado meu passou a insistir para eu abrir uma pizzaria em Fortaleza, e eu dizia: nem de pizza eu gosto, pra que eu vou abrir uma pizzaria? Acabei indo pra São Paulo e ele intermediou um contato com a Micheluccio. Eu me encantei, era uma pizza que não tinha aqui. Até que eu abri uma filial. Era a primeira pizza assada em forno a lenha de Fortaleza. Em 1989. Foi um sucesso de cara e acabei fechando a fábrica para me dedicar exclusivamente ao negócio de restaurantes.
E hoje você gosta de pizza?
Ahhh! Hoje eu adoro!
Como foi o processo de transição de uma filial para rede própria?
Passamos uns três anos com a marca Micheluccio, até que abrimos uma praça de alimentação na Beira Mar, o Beach Side, com a segunda unidade da gente, que também foi um sucesso. Quando a gente estava se preparando para fazer um segundo Beach Side, na Praia de Iracema, que tinha acabado de ser requalificada, os sócios da Micheluccio resolveram separar, comprei a parte deles aqui em Fortaleza e abri a Geppetos. E aí começa uma segunda história, que foi a mudança para Geppos. Depois de um ano e meio usando a marca e no processo de registro, uma pizzaria em Jacarepaguá (Rio de Janeiro) se opôs ao registro, porque já usava o nome há 17 anos. Até que, em uma conversa no restaurante, um cliente – criança, por sinal – sugeriu o nome Geppos. Eu gostei, registramos e estamos até hoje utilizando o nome.
Você migrou de setor e hoje comanda uma das principais redes de alimentação do Ceará. Que avaliação você faz deste período?
O setor de gastronomia de Fortaleza melhorou muito nos últimos 15 anos. Eu diria que é uma das principais capitais gastronômicas do Brasil. Pra ter sucesso nesse setor, e em qualquer outro, é preciso ter amor. Mas com restaurante é mais complicado. Abrir um restaurante é fácil, só ter dinheiro pra contratar um bom arquiteto e um bom cozinheiro, mas manter é que é difícil. Tem que manter técnicas de gestão atualizadas, é uma atividade complexa, que abrange comércio; e indústria, porque você transforma os insumos no produto final e serviço, até porque tem o retorno do cliente na mesma hora. Os clientes hoje em dia estão cada vez mais viajados, mais exigentes, e demandam da gente uma renovação constante.
O grupo investe em pesquisa para aprimorar os restaurantes?
A gente tem por cultura empresarial pesquisar bastante, viajar para conhecer e trazer pra cá o que a gente vislumbre como sucesso para adaptar para o público local. Assim como a gente procura os melhores profissionais. Eu, como empresário, preciso estar cercado de pessoas melhores do que eu. Tenho que ser um generalista, entender um pouco de tudo, não um especialista.
Como ocorreram as decisões de abrir casas com outras especialidades, além da italiana?
Cada um teve um processo diferente. O Geppos inicialmente era só pizza, depois fomos aprendendo, inserindo coisas novas e hoje somos um restaurante italiano. O da praia tem um outro conceito, mais voltado para turista, e o do Jardins Open Mall é essencialmente italiano. Foi uma mutação contínua para atender às necessidades do mercado e às nossas também. Já o Misaki foi feito com muito mais pesquisa prévia. Viajamos muito, pelo Brasil, pela Europa e Estados Unidos. Foram quase três anos pesquisando, e optamos por seguir uma linha inspirada no Nobu (New York), que é uma cozinha japonesa contemporânea. O Cabaña foi uma pegada diferente, queríamos uma expansão, mas não sabíamos exatamente de quê. Na pesquisa de mercado concluímos que o brasileiro tem muita aderência a carne, mas aqui tinha muitas churrascarias, rodízio, essas coisas. E, nessa busca da gente pelo diferente, fomos à Argentina e optamos por fazer nesse formato, que tem sido um sucesso.
Qual das três bandeiras responde pela maior fatia de faturamento do grupo?
Atualmente, mais ou menos 50% é do Cabaña e os outros 50% distribuídos entre Geppos e Misaki.
O Cabaña é o seu xodó?
Meu xodó é o Geppos, é o primeiro, meu filho mais velho. Mas, como um bom pai, gosto de todos os filhos. Frequento todos eles.
A rede tem planos de expansão, tanto para o Ceará quanto para o Piauí?
Temos um projeto arquitetado, mas demos uma pausa em função dessa situação que o Brasil passou e vem saindo agora. Estamos só aguardando o momento adequado. Para Fortaleza seria de outro segmento. Não vislumbro isso no momento, vislumbro as nossas marcas em outras praças, preferencialmente no Nordeste.
Você se sente realizado como empresário, ou ainda tem algum outro ramo que você pensa em investir?
Eu estou longe de me realizar! Quero fazer muita coisa ainda, continuar a expandir, preparar a sucessão, porque nós somos passageiros, mas espero que as empresas continuem. E penso também em investir em negócios imobiliários, fazer investimentos para gerar renda.