Confira os melhores momentos da entrevista em vídeo e a íntegra no texto abaixo:
Mostrar melhor uma marca ou reposicioná-la no mercado é um desafio cada vez maior diante da quantidade de conteúdo disponível na Internet. Ao mesmo tempo, a rede é um mundo de oportunidades para alavancar as empresas e garantir o sucesso de novos produtos.
É com estes desafios que o consultor empresarial e sócio da agência Being Marketing, Bosco Couto, lida há 25 anos. Sua empresa, que abrange consultoria, marketing digital, design e tecnologia, atua há 10 anos em diferentes segmentos, da alimentação à indústria, passando por moda, shopping e saúde.
Com toda essa experiência, Bosco aponta que as principais tendências da comunicação empresarial envolvem três pontos estratégicos: o crossmarketing (parceria para promoção entre empresas de segmentos diferentes), o marketing de experiência (valorização da experimentação para reforçar as características positivas do produto) e a valorização da imagem nas ações de comunicação.
Quais são as principais tendências de comunicação empresarial no momento?
O crossmarketing e o marketing de sensação, que é a valorização da experiência para ter uma tangibilização maior do valor do produto. Por isso, a tendência da comunicação de experenciar o serviço ou produto vai crescer. De uma forma geral, você não tem só a narrativa, tem o visual, tem o cheiro, o toque, a audição. Então, todos os sentidos são impactados com a experiência. Quando se está em um evento de experiência, todos os sentidos estão aguçados para perceber aquela marca.
As empresas estão preparadas para acompanhar essa tendência, ou ainda é algo inicial?
Eu acho que elas estão tateando. De uma forma geral, se faz muito evento, mas não se tira o proveito adequado do que se pode fazer, não tem o antes e nem depois. Esse conteúdo sensorial ainda é um conteúdo muito recente, as pessoas ainda confundem muito comunicação com branding e branding com branding sense, que é o marketing sensorial. Mas acredito que isso vai evoluir, algumas marcas já fazem muito bem.
Você pode fazer essa diferenciação?
O marketing trabalha com todos os elementos que impactam na escolha do cliente pelo produto. Comunicação, preço, produto, força de venda… É comum confundir propaganda com marketing, mas a comunicação é pensada como um todo e a propaganda está dentro do marketing. O branding é a gestão da marca. O ser humano precisa de um atalho mental, e a marca é esse atalho, um balizador de qualidade, e o branding é a área que gerencia isso, gestão e potencialização da marca. E o branding sense é a característica da marca, o cheiro, o toque, se é bossa, jazz, samba ou rock. A personalidade da marca tem que ser traduzida em elementos sensoriais, que é o que a gente chama de branding sense.
Como essas novas formas de comunicar a marca impactam nos produtos de comunicação?
O principal é a valorização da imagem em relação ao texto, porque o excesso de informação diminui o tempo de leitura. Embora este seja muito importante, precisa de interpretação, tem um caminho a ser percorrido. A imagem, tanto em vídeo quanto fotografia ou arte, são elementos mais aderentes. Com a evolução da tecnologia, tanto na qualidade de captação quanto na banda larga pra distribuir, o vídeo deve crescer muito, porque é mais fácil de ser compreendido e é mais rápido. As empresas têm que aproveitar isso e aproveitar em vídeos, principalmente se forem curtos, provocativos e que tenham um caráter real, sem excesso de produção.
Você concorda que estamos vivendo um momento de transição na comunicação empresarial? Qual o principal desafio que as empresas vão lidar nessa fase?
Sim, concordo. Pode parecer uma coisa boba, mas o desafio maior é dialogar. Antes, as empresas falavam para o público, era um canal de via única. Agora elas têm que conversar, falar e escutar. E também precisam fazer isso com informalidade. Estamos saindo de uma era onde as coisas são mais plastificadas, engessadas; e entrando na era do diálogo, que nem sempre é positivo. Por isso, as empresas têm que criar coisas relevantes e ter um diálogo aberto e franco com o consumidor. As redes sociais pedem isso.
O crossmarketing é cada vez mais comum e envolve duas ou várias empresas em uma ação. Como isso se dá?
As empresas estão percebendo que é positivo cruzar as suas carteiras de clientes. Se você tem uma empresa que vende joias e uma carteira de cinco mil clientes, ele pode ter o mesmo perfil de outra empresa de outro segmento. Ele compra a joia na loja A, janta no restaurante B, compra o carro na concessionária C e se hospeda no hotel D, mas é a mesma pessoa, que tem várias necessidades. Crossmarketing é juntar empresas que não correm entre si para aproveitar um momento, trocar experiências com os seus clientes e fazer uma divulgação conjunta. Além de eventos, podem ser feitas comunicação em conjunto, bônus etc., e todo mundo ganha. Essa promoção cruzada vai acontecer cada vez mais no nosso mercado. A gente aproveita o acesso que a empresa tem a determinado cliente e corta esse caminho.
A comunicação geralmente é o primeiro setor afetado em crises. Como você avalia essa prioridade que não é dada, na maioria das vezes?
Tem muitas empresas que já não têm essa visão, que não cortam comunicação porque sabem que gera receita, mas muitas outras têm a visão de custo. A tendência nas empresas, quando a crise aperta e as vendas começam a cair, é a mesma do ser humano: lutar ou fugir. Algumas vão investir mais em marketing, remodelar as estratégias para que os custos sejam menores, mas existe também o comportamento de medo, que é cortar tudo o que puder. E muitas vezes as empresas cometem o erro de cortar o que poderia trazer cliente. É um erro estratégico.