Cearense Servtec se prepara para leilões de energia térmica com 2,6 GW

 

A Servtec, empresa de origem cearense comandada por Pedro Fiuza, se prepara para os leilões de contratação de energia termelétrica com 2,6 gigawatts. São dois projetos, o maior deles com 1,7 gigawatts. “A fonte termelétrica é muito importante para dar estabilidade ao sistema”, diz Pedro, que tem duas térmicas em operação no portfólio.

Em outra frente, a empresa se associou à norte-americana Franklin Templeton na construção de uma holding de energias renováveis. O modelo é atrair diversos investidores para gerir uma carteira de ativos de geração eólica, solar e distribuída. “Muito provavelmente daqui a sete, oito anos, com essa plataforma consolidada, vamos acessar o mercado e listar essa companhia”.

A Servtec tem ventos favoráveis no mercado de energia, que impulsionam o negócio mesmo na maré instável da economia nacional e mundial. Para Pedro, o Brasil não está “conseguindo transmitir para o investidor estrangeiro que somos um País que cumpre o que apresenta”. As reformas em curso, avalia, são requisito mínimo. No entanto, recuperar a confiança é “trabalho de toda uma geração”.

Com histórico de atuação político-partidária, Pedro diz que se afastou um pouco dessa esfera quando assumiu o comando da Servtec. Mas deixa claro que “é uma coisa que eu gosto e me identifico”. Questionado se disputaria outra eleição – como fez em 2010, quando se candidatou a vice-governador pelo PSDB -, responde: “tem muita gente muito mais preparada”. Uma participação mais ativa, no entanto, segue nos planos.“Certamente em mais em longo prazo”.

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Você tem uma atuação profissional em diversas frentes. Onde está o seu foco atual?

Hoje meu foco de atuação é à frente do grupo Servtec Energia, empresa que faz 50 anos em 2019 e tem os últimos 20 anos dedicados ao setor de geração de energia. Fomos pioneiros na geração eólica. Começamos aqui no Ceará. Um dos primeiros parques de geração eólica fomos nós que desenvolvemos, investimos, atraímos investidores. Desde então, a gente implantou quase mil megawatts no Brasil inteiro. Isso soma mais de US$ 1 bilhão de investimento, com investidores que trouxemos ao longo desses 20 anos. Mais recentemente, estamos muito focados na geração renovável – solar, eólica e pequenas centrais hidrelétricas. Nessa nova frente, nós trouxemos a segunda maior gestora de recursos do mundo, chamada Franklin Templeton, com R$ 650 bilhões sob gestão. Nos associamos a ela no Brasil para desenvolver uma plataforma de geração renovável. É uma iniciativa relativamente recente da Servtec, constituímos um fundo com eles e, através desse fundo, faremos diversos investimentos no segmento. Hoje, já temos quatro ativos adquiridos nessa plataforma. Logo mais, vamos iniciar também investimentos na área de geração distribuída. Entre 80 a 90% do meu tempo, hoje, são dedicados à iniciativa do grupo Servtec.

Como funciona essa plataforma?

O conceito que a gente usa de plataforma é um pouco diferente dos nossos primeiros 18 anos em de geração. Até pouco tempo atrás, nós fazíamos investimentos em cada projeto, atraindo sócios para cada um. Nesse período, fizemos sociedade principalmente com investidores brasileiros – BTG Pactual, Rio Bravo, Brasil Rural, Boticário, Família Siebel, Equatorial Energia. Todos esses são sócios investidores nos diversos projetos que desenvolvemos ao longo desses 20 anos. O que desenvolvemos com a Franklin agora é que os investidores entram direto num veículo de investimento. Agora, a maioria é estrangeiro, com o maior sendo um fundo de pensão australiano. Este veículo é que vai fazer os diversos investimentos, comprar diversos ativos, investir em greenfield, que são projetos em que a gente entra desde a implantação, desenvolvendo toda a construção.

Por que a Servtec optou por esse formato?

O fato de estar numa mesma holding, com sócios participando de todos os projetos, nos permite ter maior eficiência operacional, eficiência de gastos, controle melhor de custos, desenvolver contratos com fornecedores de mais longo prazo, envolvendo todas as usinas. Muito provavelmente daqui a sete, oito anos, com essa plataforma consolidada, vamos acessar o mercado e listar essa companhia ou, eventualmente, vender para um player estratégico, que enxergue valor nesse pacote de ativos.

Quais são os ativos já adquiridos?

São ativos de geração eólica e pequenas centrais hidrelétricas, que estão no Ceará e no Mato Grosso. Já temos alguns ativos de geração solar mapeados, algumas iniciativas em negociação, muito brevemente a gente deve anunciar o nosso primeiro investimento numa usina de geração solar.

A Servtec também trabalha com termelétrica. Vocês pretendem se manter nesse segmento?

A Servtec, por ser uma empresa com DNA muito forte de engenharia, a gente começou no negócio de geração através de termelétricas. Primeiro, fazíamos eficiência energética nas indústrias e, logo na sequência, começamos a fazer plantas de co-geração e plantas te peack shave – que é basicamente utilizar geradores para suprir energia no horário de pico, quando a da distribuidora é mais cara. Essa (térmicas) é uma frente muito forte que a gente tem. Hoje, temos duas termelétricas em operação, uma em Manaus, outra próxima a São Luís no maranhão. São duas usinas espetaculares, operam muito bem. A Gera Maranhão é de 330MW e, sozinha, abastece toda a Ilha de São Luís. É uma usina super eficiente e muito importante para o sistema. Uma coisa que a gente precisa entender é que as fontes renováveis, apesar de serem muito mais eco friendly, são intermitentes. Então a fonte termelétrica é muito importante para dar estabilidade ao sistema. Durante um bom tempo, se contratou termelétrica a óleo, agora estamos entrando numa leva de contratação de termelétricas a gás. A Servtec tem dois projetos em fase final de preparação, para participar dos leilões, um de 920 MW e um de 1,7 GW. São projetos extraordinários, grandes e estruturantes para o País. Entendemos que as termelétricas são necessárias, importantes para o sistema ter um bom balanceamento das suas fontes. Essa frente de atuação é independente da atuação a nós temos com a Franklin, que é voltada para geração renovável.

 

O Ceará vem perdendo o seu protagonismo em energia renovável. Você acredita que o estado pode recuperá-lo?

O Ceará, de fato, despontou há 20 anos. As primeiras iniciativas foram na época do governador Tasso (Jereissati), quando a Colece ainda era estatal. Foi importante aquele primeiro movimento que ele fez. Naquele momento, despertou para todo mundo não só o interesse na fonte renovável, mas também começou a mostrar que aquilo é uma vocação natural do nosso Estado. Vento nós temos muito. O Ceará não só foi o primeiro, como foi protagonista. Esse parque que eu citei, por exemplo – que foi o primeiro projeto que a Servtec desenvolveu – Bons Ventos Aracati – foi durante dois anos o maior parque de geração de energia eólica no Brasil. No final, nós acabamos vendendo esse parque para a CPFL. Outros estados, como Rio Grande do Norte e Bahia acabaram assumindo esse protagonismo e o Ceará perdeu espaço nos últimos anos. Acho que, em boa parte, nos faltou a infraestrutura necessária para transmissão de energia. Os outros estados correram atrás, enxergaram que energia eólica não era mais um negócio de nicho e foram buscar linhas de transmissão. Acredito que o Ceará está voltando ao seu protagonismo e entendo que esses serão os três estados que continuarão na linha de frente da geração renovável.

E qual o cenário brasileiro?

O País já é um grande produtor de energia renovável. Hoje, mais de 60% da eletricidade produzida no Brasil vem de hidrelétricas. É diferente de grandes países, como Austrália e Estados Unidos, onde a maior parte da geração vem de carvão. Fomos abençoados por ter muito recursos natural, que nos permite gerar energia de forma limpa e sustentável. A energia eólica já está chegando em 10% da nossa matriz, já temos 15GW, 16GW de geração eólica implantada. A geração solar vem crescendo, muito rápido também, e a própria geração distribuída já atingiu 1GW. É um caminho virtuoso sem volta.

Que novas tecnologias estão chegando ao mercado de geração de energia?

Existem duas tecnologias que nós vamos começar a ver no setor elétrico em breve. Primeiro: parques híbridos, uma combinação de eólica com solar no mesmo ambiente, utilizando da mesma infraestrutura. Essa é uma coisa que boa parte dos fabricantes já estão trabalhando. A segunda vai ser de fato revolucionária: o armazenamento. Você vai ter as usinas solares com armazenamento em baterias. O primeiro desenvolvimento em grande escala foi na Austrália, pela Tesla, com uma planta solar de 100MW e um sistema de baterias ao lado. A velocidade com que custo e preço das baterias estão caindo é impressionante. Nas áreas mais remotas, você vai ter o sistema solar com bateria, inclusive e casa. Você passa o dia na rua, o consumo de energia vai lá para baixo, aí passa o dia gerando energia, armazena na sua bateira, quando você chega em casa, usa. Hoje não é economicamente viável, mas nos próximos três cinco anos a gente vai ver isso acontecendo em larga escala.

O Brasil e o mundo atravessam instabilidades econômicas. Como é atrair investimentos de longo prazo agora?

O Brasil passou uma década difícil. Houve um boom de consumo de consumo da classe média uns 15 anos atrás, mas tem um bom tempo que a gente vem patinando. Não estamos conseguindo transmitir para o investidor estrangeiro que somos um País que cumpre o que apresenta. Os investidores estrangeiros que vêm ao Brasil, na grande maioria, com capital de longo prazo. No meu negócio, por exemplo, são investimentos de oito, dez anos, uma maturação muito longa. Toda a área de infraestrutura requer investimento de muito longo prazo, com baixa liquidez de saída. Se ele não encontra aqui um ambiente seguro para fazer esses investimentos, o mundo está cheio de oportunidade buscando essa liquidez em excesso que vemos hoje. O primeiro sinal muito ruim foi a perda do grau de investimento. Esse foi um sinal horroroso que demos ao mercado internacional, fruto das políticas que foram desenvolvidas. Então quando a gente imaginava que estava vivendo um voo estruturante, a gente viveu um voo de galinha. Precisamos resgatar essa credibilidade e, infelizmente, isso não acontece em dois, quatro, cinco anos. É trabalho, provavelmente, de uma geração inteira para a gente conseguir atrair esse capital de longo prazo para o Brasil. A Bolsa, recentemente, ultrapassou os 100 mil pontos e o que a gente tem visto é uma movimentação muito grande dos brasileiros. Os gringos ainda não entraram no Brasil.

O quanto as reformas em curso vão ajudar?

Especula-se que depois da aprovação definitiva da Previdência, isso aconteceria. Já não é mais tão verdade, já não existe tanto consenso de que a reforma da Previdência é um divisor de águas. Acho que ela é absolutamente básica para que o Governo consiga começar fazer outras reformas tão importantes quanto para nos dar credibilidade no mercado internacional. A reforma tributária vem aí, vai ser dificílima porque não existe consenso ainda sobre qual delas deve ser apresenta. Acho que o estado brasileiro, sim, precisa de uma reforma administrativa. O estado é pesado, é difícil conseguir fazer as coisas acontecerem. O que a gente tem visto nesses primeiros meses de governo é que há medidas relativamente simples que estão sendo tomadas que devem trazer algum impacto para a economia. Mas coisas mais estruturantes levam tempo e acho que precisa de fato de engajamento de muitas frentes para fazer essa coisa acontecer.

Você tem uma atuação política e partidária no seu histórico. Já disputou eleição. Como está seu engajamento hoje?

Todo ser humano é um ser político, não dá para a gente ver tudo o que está acontecendo e não se manifestar. Durante os últimos cinco, seis anos em que estou à frente do grupo Servtec, tenho dedicado pouco tempo à política. Mas busco me informar, conversar com as pessoas. Tenho grandes amigos que fazem política, da extrema esquerda à extrema direita – se é que existe esquerda e direita no Brasil. Busco conversar com todo mundo. Acho que, no final das contas, o que a gente precisa é de gente séria, comprometida com o desenvolvimento da nossa Cidade, do nosso Estado, do nosso País. Uma coisa que está faltando muito no nosso País é liderança. Precisamos de lideranças que consigam inspirar as pessoas. Ninguém faz nada sozinho. Nem grupos pequenos conseguem fazer as verdadeiras transformações. Já vivemos dias piores na política brasileira. Estamos longe do ideal, mas fiquei encantado com o engajamento da população nas últimas eleições. Às vezes é preocupante dado os radicalismos, esses anos de recessão despertaram no brasileiro um pouco mais de interesse político de participar, de ser ouvido. Assim, se aglutinaram em grupos para tentarem fazer à sua maneira as transformações que são necessárias para o País.

Você cogita disputar mais uma eleição?

Tem muita gente muito mais preparada do que eu para disputar eleições. Acho que ainda vou dar uma contribuição maior. Em algum momento, vou voltar a participar mais ativamente da vida política, coisa que eu gosto e me identifico. Certamente em mais em longo prazo.

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