A Revista Mapa reúne artistas e moradores de bairros de Fortaleza para mapear alguns dos espaços afetivos para quem vive no local. A ideia é ir além da simples malha urbana. O que interessa é como o morador enxerga o seu lugar
Naara Vale
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Mapear uma cidade de afetos. Destacar recantos que vão além de um ponto histórico de um bairro ou de um simples espaço de lazer para os seus moradores. Desde que começou a ser pensada, em 2017, pelos artistas visuais Emi Teixeira e Rodrigo Costa Lima, a Revista Mapa tem redesenhado espaços urbanos de Fortaleza a partir do olhar de artistas e pessoas que vivem ou transitam pelos bairros mapeados. Com a sua primeira edição impressa lançada em 2018, a revista já mapeou os bairros Praia de Iracema, Centro e Cidade 2000.
Os três primeiros locais já retratados foram escolhidos a partir de vínculos afetivos e de memória que os próprios criadores do projeto têm pelos bairros. Após a decisão dos locais, eles convidaram para desenhar os mapas artistas que também tivessem relações de familiaridade, de intimidade com as suas ruas e paisagens, relações de vizinhança e amizade com as pessoas que por ali habitam. “É um processo que envolve presença, escuta, caminhadas, pesquisas. É muito importante para nós que não sejam mapas ‘sobre’ algum bairro; e, sim, que sejam mapas ‘com’ os moradores daquele lugar”, explica o casal de designers coautor do projeto.
Na primeira edição da revista (que teve 3.500 exemplares impressos distribuídos gratuitamente) o convidado para desenhar os mapas foi o artista plástico Daniel Chastinet, que mapeou a Praia de Iracema com a colaboração da estilista e antiga moradora do bairro Silvânia de Deus. O segundo número da Mapa (com 1.500 exemplares distribuídos) foi ilustrado pela artista Luci Sacoleira, que percorreu o Centro de Fortaleza, destacando seus pontos históricos, culturais e vivos na memória afetiva do cearense.
Na edição mais recente, que por enquanto está somente em edição digital fomentada com recursos da Lei Aldir Blanc, por meio da Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza, a Cidade 2000 foi mapeada em parceria com Simone Barreto e Estácio Facó. As ilustrações do bairro retratam as ruelas e alamedas do local, cada uma com os seus nomes peculiares e seus ícones. “Nesta edição, trouxemos também as árvores, outras forças de vida, que crescem junto aos seus moradores, e que são grandes guardiãs de tantas memórias”, destacam os editores.
Escolhas editoriais
Segundo Emi e Rodrigo, a decisão por aquilo que se quer destacar e pelo que se quer silenciar em um mapa é uma escolha política. “Durante o processo de conversa e escuta dos moradores de cada bairro, decidimos aquilo que seria interessante incluir na publicação. Falamos daquilo que a comunidade quer que exista, que ganhe força. É comum trazermos lugares de encontro, de descanso, de namoro; pessoas que muitas vezes são anônimas ao restante da cidade, mas que ali, naquele lugar, fazem rede de apoio a tanta gente”, pontuam os designers.
As edições da Mapa ganham vida através do estúdio de design e impressão Litoral, que os proprietários Emi e Rodrigo definem como uma “gráfica lenta”, por trabalharem com técnicas de duplicação mais artesanais, como risografia, serigrafia e carimbos. “A partir dessa gráfica, conseguimos dar aos mapas da Praia de Iracema e do Centro versões impressas. Ambos duplicados em risografia, em duas cores – decisões que tomamos quando elaboramos o projeto gráfico da Revista”, descrevem os criadores da Mapa.
A partir de sugestões de leitores, para as próximas edições, já estão previstos os bairros Benfica, Jacarecanga, Messejana e Barra do Ceará. O acesso às edições já publicadas pode ser feito através do perfil no Instagram @revistamapa.