Porto Iracema das Artes exibe hoje (4) o documentário O que Pode uma Mulher que Borda?, seguido de uma roda de conversa com as bordadeiras Dinha Fonsêca e Oda Ferreira. Produtora do material, Dinha conta ao O Otimista como a prática perpassa pelo caminho de propagação de vozes femininas na sociedade
Danielber Noronha
danielber@ootimista.com.br
Para além de desenhos bonitos, peças de vestuário e de decoração, o bordado pode ter nuances que dizem muito sobre quem os produz e para quem eles são direcionados. Esta ideia é o mote a ser desenvolvido no documentário O que Pode uma Mulher que Borda?, que será exibido hoje (4), às 18h30min, no canal do YouTube da Escola Porto Iracema das Artes, instituição vinculada à Secretaria da Cultura do Ceará (Secult). Em seguida, será feita uma roda de conversa com Dinha Fonsêca, bordadeira e produtora da obra, e Oda Ferreira, também amante da arte do bordado. A atividade faz parte da programação da 9ª edição do Laboratório de Artes Visuais.
Dinha conta que cresceu vendo as tias e avó bordando, mas não tinha interesse em aprender as técnicas. Contudo, em 2018, motivada por um desejo de tirar a cabeça do foco da conjuntura político-social do Brasil, resolveu dar uma chance. “Meu companheiro sugeriu que fizesse alguma atividade manual como uma forma de dar vazão aos meus sentimentos, expressar não somente os meus medos, mas como também os meus desejos para o futuro. Foi aí que surgiu o bordado! Aprendi dois pontos e depois disso não parei mais”, resgata.
Ampliar vozes
Com a pandemia, Dinha ficou impossibilitada de expor as produções e foi aí que surgiu a ideia de fazer um crossover entre bordados e o audiovisual. “Percebi que precisava de outro recurso capaz de propagar as discussões que estava fazendo com os bordados. Foi aí que surgiu o curta Pontos, Linhas e Nós: uma abordagem feminista no bordado, e um mundo de possibilidades se abriu”, destaca. A união, segundo ela, é uma forma de aumentar o acervo de produções sobre esta temática, além de tirar mulheres que bordam de um lugar de invisibilidade. “Penso que no processo das lutas devemos usar tudo o que sabemos e pudermos para comunicar. Quanto mais diversidade na comunicação, melhor para conquistar corações e mentes. O bordado pode estabelecer vínculos de comunicação com todas as idades e propagandear nossas lutas e as aspirações para a construção de uma outra sociedade”, frisa a bordadeira.
Na obra transmídia a ser exibida hoje, dirigida pelo artista FluxoMarginal, o objetivo é pensar e expor a diversidade que compõe o universo das mulheres bordadeiras do Cariri cearense, trazendo um diálogo sobre as possibilidades de resistência a partir do bordado e da condição de ser mulher. “O documentário foi produzido com recursos da Lei Aldir Blanc, durante o período de isolamento social. O grande desafio foi realizar a produção com uma equipe reduzida, como também garantir que todo o processo fosse feito da forma mais segura possível”, detalha Dinha.
Programação híbrida
O cenário epidemiológico, de acordo com a coordenadora do Laboratório de Artes Visuais do Porto Iracema, Aline Albuquerque, tem trazido muitos desafios e incertezas, fazendo surgir a necessidade de constantes mudanças na programação do equipamento, que, nesta edição, está atuando no formato híbrido. Por outro lado, celebra, estão se abrindo novas pontes de troca no Ceará. “Nesta Temporada Formativa, temos 50% dos artistas e pesquisadores que são do Interior do Estado. Então, a possibilidade de nos aproximarmos, de compartilhar trabalhos de diferentes municípios, tem sido uma parte bastante positiva desse desafio que nos é imposto”, pontua. A gestora acrescenta também que a programação do mês de fevereiro conta com exibição de outras obras, debates e oficinas, divulgados nas redes sociais do equipamento.
Serviço
Documentário “O que pode uma mulher que borda?”
Exibição hoje (4), às 18h30
No canal da Escola Porto Iracema das Artes no YouTube
Mais: @portoiracemadasartes