Diretor do novo filme da Turma da Mônica, Mauricio Eça fala sobre o projeto e antecipa novidades

Responsável pela direção do recém estreado Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo e pela trilogia de sucesso sobre o Caso Richthofen, o cineasta Mauricio Eça detalha ao O Otimista os processos por trás de projetos tão distintos e antecipa longas-metragens que estão por vir  

Danielber Noronha
danielber@ootimista.com.br

Está em cartaz nos cinemas brasileiros o filme Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo, aventura que traz atores reais para as histórias em quadrinhos criadas pelo icônico Maurício de Sousa. A direção é assinada pelo paulistano Mauricio Eça, que encarou o desafio com muita seriedade, levando em consideração o fato de ter crescido folheando gibis da turma do Bairro do Limoeiro – cenário fictício da Turma da Mônica. “A Turma da Mônica Jovem eu diria que é uma extensão da clássica no sentido que os valores dos personagens estão ali. A Mônica e os demais têm toda a essência dos personagens, mas, agora, em um outro momento de suas vidas, com novos desafios, sonhos e conflitos”, ambienta.

Além de trazer os personagens em versões crescidas, há um toque de suspense pairando no ar, elemento bastante comum em outras produções de Eça. Não é preciso ir muito longe, basta lembrar da trilogia recente sobre o emblemático Caso Richthofen – disponível no Prime Video. É também lá que estará disponível, no segundo semestre de 2024, mais um trabalho dirigido por Eça: O Maníaco do Parque, cujo protagonista é o cearense Silvero Pereira. O projeto do gênero true crime é focado na história do assassino Francisco de Assis Pereira, que ficou conhecido pela alcunha que dá nome ao filme. O cineasta afirma estar a par dos debates existentes no País acerca de produções como esta, mas defende a importância delas, desde que feitas com cuidado: “Em nenhum momento glorificamos os personagens, mas, sim, tentamos mostrar quem são eles e o que aconteceu”. Em entrevista ao O Otimista, o premiado diretor detalha este e outros projetos em andamento, além de avaliar o atual cenário cinematógrafo do Brasil. Confira! .

O Otimista – Como foi a experiência de dirigir o projeto da Turma da Mônica Jovem, que já chega como uma das estreias nacionais mais aguardadas de 2024? 

Mauricio Eça – A experiência foi muito especial por ser algo que faz parte da minha formação. A Turma da Mônica me ajudou a me alfabetizar e me passou várias lições de vida e valores. Quando recebi o convite para dirigir esse projeto, aceitei de pronto pois sabia da responsabilidade e do desafio incrível que seria!

O Otimista – Qual o peso de dirigir um projeto que traz personagens tão presentes no imaginário do público brasileiro e que têm uma legião de admiradores de todas as idades? 

Mauricio – Uma responsabilidade enorme, pois os valores e a essência do universo do Mauricio de Sousa têm sempre de ser respeitados e preservados. Fiz parte dessa legião de fãs e sei o quanto esse projeto impactará pessoas de várias idades, então, só aumenta o desafio!

O Otimista – Tivemos duas adaptações um tanto recentes da Turma da Mônica. Como fez para estabelecer a sua própria visão deste universo? 

Mauricio – A Turma da Mônica Jovem eu diria que é uma extensão da Turma da Mônica clássica no sentido que os valores dos personagens estão ali. A Mônica e os demais têm toda a essência dos personagens da clássica, mas, agora, em um outro momento de suas vidas, com novos desafios, sonhos e conflitos. A TMJ na revista tem formato mangá, além dos temas um pouco mais adolescentes e também uma linguagem diferente da clássica, que eu tive o desafio de transpor para tela com uma visão mais jovem, mas sempre com a essência do clássico.

O Otimista – Além da subjetividade do realizador, Reflexos do Medo tem um diferencial que é o clima de suspense. Como foi trabalhar isso em um projeto que é muito voltado para o público infanto juvenil sem pesar o tom? 

Mauricio – Exatamente. Nesse filme, temos um pouco de suspense, mistério e um clima um pouco diferente, mas também temos vários temas que fazem parte do universo jovem em um momento em que eles estão passando por novas questões em suas vidas, como a entrada para o Ensino Médio, novos medos e anseios… escolhemos ter esse tom de suspense para agradar a esse público que já consome projetos como esse e tem familiaridade com esse tom.

O Otimista – Por parte de uma parcela do público, houve uma certa resistência em aceitar esses novos atores para o selo Jovem da Turma da Mônica nos cinemas. Agora, com a estreia, qual o seu veredito para os novos rostos que toparam viver esses personagens tão marcantes? 

Mauricio – Acredito que para todo processo que eu faço parte, um dos fatores principais para escolha de atores é a vontade e a entrega deles para fazer o projeto. Posso dizer que os atores desse filme queriam muito fazer o longa e se entregaram de corpo e alma. Eles sabiam da responsabilidade, mas todos tinham adoração pelo universo e as escolhas que fizemos foram muito felizes. Tenho certeza de que o público vai amar e vibrar com eles e sentir o quanto eles estavam bem preparados e o quanto o quesito ‘turma’ está impresso na tela!

O Otimista – Seu 2024 terá também O Maníaco do Parque. Como surgiu o convite para dirigir a obra? 

Maurício – Acho que após o sucesso da trilogia do caso Richthofen, eu buscava mais um projeto intenso como esse e acabamos realizando em coprodução com o Amazon Studios e ele será lançado no Prime Video no segundo semestre deste ano. O filme está em processo de edição, mas posso adiantar que será um filme muito intenso e que discutirá muitas coisas.

O Otimista – Pode detalhar as estratégias que estão traçando para haver um protagonismo feminino mesmo em uma história tão brutal, que chega como uma espécie de “reparação histórica”? 

Mauricio – Exatamente. Esse em particular, infelizmente, foi um caso absurdo onde tanto a mídia quanto a polícia tiveram responsabilidade muito séria. A polícia, porque poderia ter prendido ele por duas vezes e não o fez, o que poderia ter significado algumas mortes a menos. A mídia, por glorificar esse cidadão e em muitos momentos questionar as próprias vítimas. Criamos uma protagonista feminina, uma jornalista que investiga o caso, e de uma forma muito delicada acaba, sim, reparando historicamente o que essas mulheres sofreram nesse caso. Mas isso em breve poderemos falar um pouco mais!

O Otimista – Existe uma parcela da audiência que não vê com bons olhos filmes do tipo true crime, pois alegam que seria como dar mídia para pessoas criminosas. Qual o seu olhar a esse respeito e por que acha importante retratar essas histórias? 

Mauricio – Olha, já recebi várias críticas sobre isso e acho o debate interessante. Em nenhum momento glorificamos os personagens, mas, sim, tentamos mostrar quem são eles e o que aconteceu. Fazer true crime é muito delicado e temos o máximo de cuidado em abordar essas histórias, respeitando os fatos reais e utilizando tudo que nos é possível com relação ao acesso aos autos dos processos, pesquisa e tudo que possa, com cuidado, contar essas histórias. Acredito que entender a mente humana, debater porquês e também, que de uma forma ou de outra, para que crimes como esses não sejam repetidos são algumas das razões que me fazem realizar com o máximo de cuidado e respeito projetos como esses.

O Otimista – Você foi o responsável pelo exitoso projeto em três volumes do Caso von Richthofen. Pode detalhar um pouco da experiência de dirigir essas visões diferentes e os desdobramentos de um dos casos mais emblemáticos do País? 

Mauricio – Foi algo muito intenso e o alcance atingido foi muito grande e além do esperado, o que demonstra o quanto o público tem curiosidade em entender esses casos e também debater. Até hoje, perguntam a minha opinião sobre os casos e sei o quanto as pessoas se envolveram com os três filmes, pois realizamos um projeto muito original. Transcrevendo o julgamento, descobrimos que cada um dos dois, do casal, contou uma história diferente sobre o caso. Com a realização desses filmes, entram vários debates, como até quando a verdade de um é a verdade real ou só a verdade pessoal. Algumas questões que transcendem os próprios filmes…

O Otimista – Assim como os três citados anteriormente, O Maníaco do Parque chegará no streaming. Como avalia o momento efervescente que o Brasil tem vivido de produções para essas plataformas, a exemplo também de Cangaço Novo, e o quanto isso é positivo para o audiovisual nacional? 

Mauricio – Muito positivo. O streaming está produzindo muitos projetos e estimulando a formação de novos profissionais bem como a profissionalização e o amadurecimento de tantos outros de forma muito intensa. Muitos projetos de qualidade estão vindo ao mundo e retrato disso também são vários filmes independentes brasileiros que estão indo a festivais mundo afora.

O Otimista – Ainda sobre avanços, foi aprovado no fim do ano passado um PL que recria a cota de exibição para filmes nacionais no cinema. No seu olhar, quanto isto pode valorizar as produções nacionais e atrair mais investimentos? 

Mauricio – Demais! Ano passado, por exemplo, tivemos uma boa produção de longas-metragens, mas que tiveram baixíssimo público no cinema. A cota de tela vai ajudar para que o público tenha acesso aos nossos filmes e para a grande questão que ainda precisamos melhorar: a exibição e a distribuição de nossos projetos para que eles tenham mais chance de chegar ao grande público, além de incentivar a formação de público para o nosso cinema.

O Otimista – Por fim, pode comentar um pouco dos outros projetos que está trabalhando em paralelo? Tem mais terror, cinebiografia e o quê de Eça por vir? E como faz para conciliar tantas agendas? 

Mauricio – Estou trabalhando no desenvolvimento de alguns projetos de gêneros diferentes que, sem dúvida, me agradam demais não me ater a só um gênero e, sim, a desafios que façam sentido para mim e me estimulem. No momento, não posso falar especificamente dos novos projetos, mas em breve poderei dar mais detalhes.

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