Tapis Rouge conferiu a 75ª edição do Salão de Abril e traz um panorama da tradicional mostra cearense

Fortaleza se veste de cultura e arte para celebrar o 75º Salão de Abril, homenageando a trajetória expressionista do artista cearense Descartes Gadelha. Tapis Rouge esteve lá e traz um panorama do tradicional evento

Sâmya Mesquita
samya@ootimista.com.br

Alguns diriam que a força da arte cearense está no constante impulso de inovação. E, de impulso em impulso, vamos criando uma tradição disruptiva. É assim que podemos descrever o Salão de Abril, marco cultural de Fortaleza que já trouxe nomes como Sérvulo Esmeraldo e Antônio Bandeira, mas que hoje apresenta também novos nomes em sua 75ª edição.

Celebrando a arte nordestina, o evento presta uma homenagem ao artista Descartes Gadelha, que aos 80 anos continua a inspirar com sua obra expressionista. A mostra ocorre no Centro Cultural Casa do Barão de Camocim, com entrada franca, e exibe, além de obras do homenageado, 38 trabalhos de outros artistas da região, selecionados pelos curadores Aldonso Palácio, Cecília Bedê, Lucas Dilacerda e Júnior Pimenta.

A exposição, que estará aberta até 29 de junho, oferece uma programação diversificada, incluindo performances, seminários e intervenções artísticas. Para o secretário da Cultura de Fortaleza, Elpídio Nogueira, a importância do evento vai além da tradição. “O Salão de Abril é um marco na cultura de Fortaleza e no panorama artístico nacional. É uma grande oportunidade de apreciar o talento dos nossos artistas e celebrar a riqueza da arte brasileira”, diz.

Destaques

O Salão de Abril é uma vitrine para o talento local e um ponto de encontro para os amantes da arte há mais de sete décadas em Fortaleza. Dos mais de 400 trabalhos inscritos, foram selecionados aqueles que refletiam anseios comuns, mesmo com suas especificidades. Segundo Júnior Pimenta, um dos curadores da edição, o processo de seleção das obras tem mais a ver com encaixe temático e expressão de nosso tempo do que qualquer julgamento do que é o não é arte. “Os artistas sempre estão tratando de questões que estão no cotidiano. São questões desse embate da própria existência, do tempo em que a gente vive, do desejo de transformação. Um trabalho pensa em ecologia, outro em relações de gênero, outro em territórios… E a partir desses trabalhos a gente começa a pensar em núcleos e tenta construir uma narrativa: uma leitura das várias leituras possíveis”, explica o também editor da revista Reticências.

Outro ponto importante é a diversidade de experiências retratadas nas obras expostas. Uma delas é a pintura Ato I: Brasileirismo, do fortalezense Vors, que ressalta os modos político-sociais de se pensar dentro da periferia. Ou a pintura Linha do Tempo, da artista Efímia Meimaridou: uma mandala tão profunda em vivências quanto seus 70 anos de idade. A instalação Desde Pequeno, de Luiz Freire, também nos faz refletir sobre a importância da memória e da ludicidade com fotografias de pescadores da barra do Ceará em pequenas jangadas de corrida. E BedBoy, de Marcos Martins, que nos confronta com a busca por padrões de beleza, especialmente dentro da comunidade LGBT+.
“É uma coisa interessante, essa possibilidade para trazer Descartes para ser um dos homenageados. Você tem, na mesma exposição, o trabalho dele, que tem mais de quarenta anos de trajetória, e um artista jovem que está expondo pela primeira vez no Salão de Abril”, pontua o curador e artista.

Justa homenagem

A homenagem a Descartes Gadelha é o reconhecimento por sua carreira, marcada por um forte lirismo de quem gosta de observar o comportamento humano. Nascido em Fortaleza em 1943, o artista autodidata retrata, com uma sensibilidade própria do Expressionismo, os personagens populares do Nordeste.

O quadro de Descartes selecionado para a mostra fica bem na entrada do Casarão, Côrte Mascarada. Maracatu Flor da Senzala. O artista, que participou do grupo tradicional Maracatu Solar por anos, trouxe para o Salão toda a vitalidade de um grupo que sobreviveu à pandemia e que, hoje, luta para trazer alegria além da tradição de Carnaval. Inclusive, foi em um Salão de Abril que o artista, quando ainda era muito jovem, assistiu à primeira de muitas exposições. Tudo para que, décadas depois, não só expusesse no mesmo evento como também fosse homenageado.

Serviço

75º Salão de Abril


Centro Cultural Casa do Barão de Camocim. Rua General Sampaio, 1632, Centro.
Aberta para visitação até 29 de junho. De terça a sexta-feira das 10h às 17h e aos sábados das 10h às 16h.
Gratuito.

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