Carreira, projetos, cinema, TV, e futuro são os principais temas abordados em entrevista exclusiva com o ator. Um dos galãs mais requisitados da atualidade, ele também revela ao O Otimista a sua visão sobre diversos assuntos que orbitam sua vida
Onivaldo Neto
onivaldo@ootimista.com.br
Hoje, com quatro décadas de vida, o ator Romulo Estrela desfruta do sonho que nutria desde a maioridade: o de viver da arte cênica. Carismático e talentoso, o artista tem construído uma carreira sólida na televisão brasileira. Com mais de 20 anos de experiência no ramo artístico, o astro, natural do Maranhão, conquistou o público ao encenar mocinhos e vilões com diferentes camadas em folhetins marcantes como Bom Sucesso (2019), Deus Salve o Rei (2018), Verdade Secretas 2 (2022) e Travessia (2022).
Já nas telonas, Romulo seguiu experimentando diferentes vertentes. O artista também já dublou personagens em séries, novelas e filmes, sendo Transformers: O Início (2024), longa-metragem internacional de animação baseado na franquia Transformers, a sua última experiência no campo. Além disso, a produção de um longa ficcional também está incluso nos planos. Idealizado pelo ator, o filme, que tem como pano de fundo as vaquejadas no interior do Maranhão, deve abordar a relação complicada pai e filho.
Outros detalhes que englobam sua vida e sua profissão Romulo conta em entrevista ao O Otimista. O ator revela suas perspectivas pessoais sobre seus papeis na TV, curiosidades acerca de sua atuação e preparação para o filme Perfekta, e outros temas como a desconstrução da masculinidade, planos futuros de uma carreira internacional e seu desejo de abranger uma nova função dentro das artes cênicas.
O Otimista – Na infância/adolescência você já pensou em ser lutador de jiu-jitsu e piloto de avião. Chegou a ser modelo e atualmente possui uma carreira em constante crescimento como ator. O Romulo de hoje, com 40 anos, diria para o Romulo de 18 anos, que ainda sonhava com a arte cênica, que a atuar é de fato a vocação da vida dele?
Romulo Estrela – A gente acaba, no decorrer da vida, desejando ser um milhão de coisas, mas de fato eu me encontrei nesse meu ofício e sou muito feliz e muito realizado como ator. Ainda tenho muitas coisas para realizar dentro do audiovisual, não somente como ator mas também eventualmente como produtor e diretor. Então, sim, eu diria para o Romulo mais novo “continua estudando, segue o seu caminho que você vai ter cada vez mais satisfação”.
O Otimista – Maranhense, você é mais um dos talentos nordestinos que tiveram que migrar para o sudeste em busca de oportunidade. Como você avalia o cenário artístico brasileiro hoje? Acredita que caminhamos para uma descentralização da arte no Brasil?
Romulo – Acredito que sim, mas no audiovisual isso está acontecendo de uma maneira mais lenta. O teatro sempre teve muito prestígio no Nordeste, assim como no Sul do País, tendo então sempre um espaço diferente do destinado ao audiovisual. Quando eu comecei, por exemplo, tive que, para a televisão, tentar neutralizar ao máximo o meu sotaque nordestino e hoje já vemos o oposto disso. O regionalismo vem ganhando um espaço cada vez maior, e isso é muito bom, inclusive com autores que já escreveram grandes histórias sobre o Nordeste – a gente tem visto histórias contemporâneas, mais urbanas, que mostram o Nordeste que a gente quer ver, e não de maneira caricata, como foi por muito tempo.
O Otimista – Você está nos cinemas com Perfekta: Uma aventura da Escola de Gênios. No filme nos é mostrado um outro lado seu como ator, diferente do que o público está acostumado a ver. O que te atraiu para este projeto? Acredita que a paternidade o influenciou a atuar na obra?
Romulo – Eu fico muito feliz toda vez que tenho a oportunidade de criar personagens que são diferentes de mim, e que eu tenha feito pouco ao longo dos meus 20 anos de carreira. Gosto do desafio de criar e desenvolver um personagem, e contar uma história que é distante de mim. O ator não quer ser só visto como ele espera que seja visto, ou seja, quanto mais oportunidade tiver de desenvolver personagens diferentes, mais feliz o ator fica. E no caso de Perfekta: Uma aventura da Escola de Gênios não é diferente, é um filme para a família toda porque a relação que meu personagem tem com a filha faz a gente refletir muito sobre o olhar que a gente tem com os nossos filhos. Sempre que está próximo desse universo, faço e penso no meu filho, sempre.
O Otimista – Você mudou o seu visual para Perfekta. Deixou o cabelo crescer e fez uso de apliques. Essa transformação visual ajudou na concepção do personagem? Quais foram os maiores desafios na construção do Édison?
Romulo – Sempre gosto de mudar o visual, acessar melhor o personagem e a caracterização é parte fundamental do meu trabalho. Eu gosto sempre de fazer algo diferente porque assim não me limito, e a imagem é algo super importante, já que ela é o que primeiro chega no espectador. O nosso objetivo maior era buscar ali, naquela relação de pai e filha, uma verdade, e isso é sempre muito desafiador. Precisa sempre de muita pesquisa, de um estudo mais profundo, e tive um time muito bom (além do João Daniel, que é um grande diretor), além de atores muito talentosos, o que facilitou tudo.
O Otimista – Como foi a experiência de se conectar com o público infantojuvenil?
Romulo – Eu adoro me conectar com o público infantojuvenil, eu comecei a minha vida profissional no teatro infantil, eu acho que é um público muito criterioso e atento. É legal poder renovar meu próprio público.
O Otimista – Falando em carreira, em novelas você já emplacou diversos protagonistas, inclusive em sequência. No seu trabalho cênico, como você busca distinguir esses personagens que geralmente têm aspectos (bom moço, trabalhador, honesto) tão semelhantes?
Romulo – Falando especificamente de novela, acaba sim tendo um lugar que é repetitivo, mas cabe ao artista buscar novos desafios e provocações. Eu gosto disso, e estou em busca disso na minha carreira. Para diferenciar um do outro a gente precisa se debruçar no texto, na ideia do autor, e dar verdade pra ele
O Otimista – Você também atuou recentemente na animação Transformers: O Início, dublando a versão jovem de Megatron. Aliás, como dublador você já acumula algumas experiências. Como é a sua relação com a dublagem? Pensa em investir mais nessa área?
Romulo – Eu adoro dublar, esse é um trabalho muito específico, extremamente técnico, e que eu faço com muito prazer. A dublagem é muito diferente da atuação, e também é carregada de sentido, de emoção, de verdade. Tive chance de estar em trabalhos muito legais, com grandes diretores, onde tive a oportunidade de aprender muito. Tive o prazer de fazer o Megatron (que eu adoro, e adoro ainda mais a franquia Transformers), e ele é um grande vilão, talvez um dos maiores da cultura pop.
O Otimista – Aproveitando o tópico sobre a animação internacional, você pensa em expandir a sua carreira para o exterior? Se sim, que tipo de produção você gostaria de fazer?
Romulo – A chegada do streaming era o que faltava para a gente entender que a nossa carreira não se limita só ao Brasil. Eu sempre me preparo para, quando chega uma oportunidade de fazer algum trabalho em inglês ou espanhol, eu não perder. O nosso mercado é global, e é importante estarmos prontos para trabalhar em outros idiomas, outros países. O mais importante é estar preparado, e essa é uma máxima minha, que me acompanha desde o início da minha carreira.
O Otimista – Você se prepara para produzir seu primeiro longa ficcional. Segundo informações dadas à imprensa, o filme deve discutir temas como desconstrução da masculinidade. A escolha de abordar esse tópico se relaciona com a sua vivência como galã de novelas, onde os personagens são quase sempre estereótipos do machão? Como você enxerga essa questão da exigência da masculinidade na sua vida profissional?
Romulo – Esse é um tema que muito me interessa. Vivi a desconstrução dessa masculinidade, e continuo vivendo. A televisão, claro, traz um ideal do imaginário do que se espera de um homem, e isso cansa a gente. Quando faço um papel que se espera muito desse lado masculino, faço sempre com algum tipo de provocação. Falando sobre Por Um Fio [adaptação do livro homônimo de Drauzio Varella para os cinemas], o tema está próximo a mim, não apenas pela desconstrução, mas porque existe no lugar de onde eu venho.
O Otimista – Você tem em seu currículo trabalhos como ator, dublador e agora como produtor. Pensa em se arriscar em mais alguma área diferente num futuro próximo? Já tem em vista novos projetos e planos?
Romulo – Tenho muitos projetos e desejos, e naturalmente somos estimulados a sempre pensarmos em novos desafios. Ainda estou ‘germinando’ a ideia de ser diretor, mas ainda está em construção, esperando a hora certa.