Museu da Imagem e do Som do Ceará lança “MoneraFungi” e promove mostra “Transmutações”

Nesta sexta-feira (24), será exibida pela primeira vez a obra audiovisual “MoneraFungi” (2024), trabalho de finalização da segunda turma do Ateliê de Criação – Tecnologias Transvestigêneres, do programa contínuo Trair o Cistema, do Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS CE). O lançamento acontece durante a programação da Mostra “Transmutações”, que ocorre nos fins de semana deste mês de janeiro. O MIS integra a Rede Pública de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, com gestão parceira do Instituto Mirante de Cultura e Arte.

A Mostra “Transmutações” celebra a arte e a expressão, inspirando novas narrativas. A iniciativa é realizada no contexto da celebração de dois anos de existência do programa “Trair o CIStema” e do mês da visibilidade Trans, Travesti e Não-binária. A mostra celebra obras que fazem parte do acervo do Museu desde a sua reabertura, demarcando a presença de pessoas trans, travestis e não binárias e buscando destacar as realizações artísticas e culturais dessas comunidades. A programação especial foi planejada, partindo da museologia comunitária LGBTQIA+.

O objetivo da iniciativa é suscitar reflexões sobre a existência de pessoas trans, travestis e não-binárias produzindo possibilidades de vida e a manutenção da memória por meio da arte para criar um espaço de celebração e discussão sobre as diversidades das identidades de gênero, mas também de suas produções e perspectivas de mundo. Serão exibidas as obras que compõem o acervo do MIS-CE a partir do Edital Ocupa MIS 2022 e 2023 e das 1ª e 2ª edição do Ateliê de Criação – Tecnologias Transvestigêneres.

A realização dessas obras conta com profissionais trans, travestis e não binárias. A curadoria traz um panorama da produção artística que olha para pessoas fazedoras de cultura do Estado para além de proponentes, abrangendo também as redes de pessoas artistas, técnicas, produtoras, fotógrafas, performers e em várias outras funções.

Obra resultante de segunda edição do Ateliê

A obra audiovisual “Monera Fungi” (2024) tem pouco mais de sete minutos e é criação da coletividade formada por Abeju Ara, Cardoza Santos, Souma, Sunny Maia, Luli Pinheiro, Sy Gomes, Maittê, Oziel Seu Rosinha e Alessandra Flor Ferraz, múltiplas em suas trajetórias artísticas. O roteiro enxuto conta a história de um grupo de pessoas que é excluído de um banquete na alta sociedade cearense.

O desejo por desintegrar o mundo contemporâneo e construir um outro mundo possível, é um dos motivos da criação do filme, de acordo com a equipe que participou do Ateliê. “No nível micro, celular ou mesmo no nível comunitário, podemos perceber que algumas relações não são estabelecidas pela hierarquia, exclusão e privilégio de alguns seres em detrimento de outros. No nível microbiológico, podemos enxergar: existem outras relações possíveis. Monera, a era das monas, é um movimento de fabulação e criação coletiva que culmina em um tempo de abundância de fungos e bactérias, em um tempo de contaminação coletiva que leva ao prazer de toda uma comunidade”, explicam as pessoas que criaram a obra.

O prazer, a possibilidade de se alimentar e o debate em torno dos acessos políticos e sociais das pessoas transgênero e não binárias, está também no cerne das questões levantadas pelo filme. “A coletividade surge, então, como possibilidade de vida, de afeto e de alimentação, para uma população que vem vivido historicamente uma escassez desse alimento vital”, ressalta a apresentação da obra.

Trair o CIStema

Ao longo de dois anos, o programa Trair o CIStema já contou com 82 profissionais entre pessoas artistas, pesquisadoras e professoras, com diversas ações realizadas. Entre elas, quatro oficinas, sete rodas de conversa, quatro conversas experimentais, sete apresentações artísticas/ mostras, um webinários e dois ateliês de criação. Os ateliês de criação reuniram 20 artistas bolsistas e 12 professores. Cada um deles resultou em uma obra audiovisual: “Fragmento-Kymera” (1ª turma) e “Monera Fungi” (2ª turma).

O programa desenvolvido pelo MIS vem desde 2023 desenvolvendo ações educativas e de difusão tendo como premissa a valorização e o protagonismo de pessoas trans, travestis e não-binárias. A iniciativa propõe um olhar para os pactos ficcionais da cisgeneridade, questionando-os e reinventando o imaginário construído socialmente sobre corpos desviantes das normas de gênero. Além do Ateliê de Criação, o programa já realizou oficinas, rodas de conversas, apresentações artísticas, mostras e webinário. Atualmente, o Trair o Cistema é conduzido pelas educadoras trans Aires, Garu Pirani e rømã.

O programa vem compartilhando sua pesquisa em eventos da museologia e da cultura, tais como V Fórum Estadual de Museus, Festival Unaé, VII Fórum Nacional de Museus, 1º Congresso Latino Americano de Arquivos Trans, Fórum Brasileiro de Museus da Imagem e do Som, entre outros.

Ateliê Tecnologias Transvestigêneres

O Museu da Imagem e do Som do Ceará lançou em 2024 a segunda edição do edital de formação artística Ateliê de Criação – Tecnologias Transvestigêneres. A seleção exclusiva para 10 pessoas trans, travestis e não-binárias propõe diálogos entre os campos da arte e da tecnologia. Foram selecionadas pessoas que recebem uma bolsa no valor total de R$3.600,00, paga em três parcelas de R$1.200,00, concedidas entre os meses de realização da residência (setembro a novembro). Ao final, foi produzida uma obra coletiva.

O edital é uma ação do Trair o CIStema, programa do MIS que tem como objetivo a promoção de criações artísticas, ações educativas e de pesquisa desenvolvidas por pessoas trans, travestis e não bináries.

As pessoas selecionadas participaram de diferentes processos formativos, que envolvem a mediação e a tutoria por parte de profissionais com relevante atuação no campo das artes, de forma individual e/ou coletiva, além de oficinas, aulas abertas e partilhas com outros equipamentos públicos, com uma carga horária total de 121h/aula.

A busca pelo direito primordial: o direito de existir

É fundamental enfatizar que o Brasil ocupa há 15 anos o primeiro lugar em relação à mortalidade de pessoas trans, travestis e não-binárias. Diante desta estatística alarmante, o MIS-CE entende ser parte de sua missão, enquanto instituição pública de cultura, promover iniciativas para fortalecer a luta por direitos civis, especialmente a luta pelo direito primordial de todo ser humano: o direito de existir.

Esta ação inédita e histórica do edital do Ateliê de Criação Tecnologias Transvestigêneres busca contribuir para a promoção de políticas públicas no campo cultural, como estratégias educativas, que possam contribuir para a redução do número de violências contra pessoas trans, travestis e não-binárias no Ceará e no Brasil.

Serviço

Estreia da Obra “MoneraFungi”
24 de Janeiro (Sexta) – 17h
Mostra “Transmutações ”
Exibição de Obras do Edital Ocupa MIS Multilinguagem 2022 e 2023 e das 1ª e 2ª edição do Ateliê de Criação – Tecnologias Transvestigêneres
24,25 e 31 de Janeiro e 01 de Fevereiro (Sextas e Sábados) | 18h30 às 20h

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