Pelo olhar aguçado de Andréa Dall’Olio Hiluy, Fortaleza celebra aniversário revelando outra faceta além das praias: sua efervescência cultural. A curadora apresenta três lugares imperdíveis que mostram por que a Capital cearense respira mar, hospitalidade e, claro, muita arte
Sâmya Mesquita
samyamesquita@ootimista.com.br
Se você acha que Fortaleza é só praia e sol, está na hora de repensar seus conceitos! A capital cearense esconde verdadeiros tesouros culturais onde a arte pulsa em cada canto, contando histórias que vão do tradicional ao contemporâneo. O Otimista conversou com a arquiteta Andréa Dall’Olio Hiluy, que apresenta três lugares imperdíveis para quem quer mergulhar na cena artística local, entre galerias que misturam saberes ancestrais com linguagens modernas, museus que guardam a memória visual do Estado e centros culturais que democratizam acessos à arte.
A relação de Andréa com a cena cultural de Fortaleza é tão rica quanto os espaços que ela ajuda a construir. Como curadora, artista visual e educadora, vê na arte uma ferramenta de transformação. “Esses lugares fazem parte da minha história e da alma artística da Cidade. Eles mostram que a cultura não é luxo, mas necessidade”, reflete.

Artesano Casa Galeria
A Artesano Casa Galeria é recente, mas se apresenta como um importante ponto de encontro entre artistas, colecionadores e apreciadores da arte, pois carrega a complexidade da arte local desde suas fundições. A fundadora, Roberta Aguiar Tomaz, fez questão de instalá-la na rua Vicente Leite, que leva o nome de um dos maiores artistas cearenses. “É um local de confluência entre a produção contemporânea e a arte popular, onde tradição e inovação dialogam de maneira fluida e instigante”, diz Andréa, que é curadora do espaço. Com foco na valorização de artistas cearenses, a galeria ultrapassa fronteiras estilísticas e temporais, evidenciando tanto os saberes ancestrais quanto as novas linguagens visuais.
Também dedicada à formação de público, a galeria promove cursos formativos, oficinas práticas e acompanha artistas em seus processos criativos: “A Artesano se afirma como um espaço que celebra a arte como experiência sensível, ferramenta de educação e investimento atemporal”, evidencia a curadora. No anexo Espaço Cultural Vicente Leite — aquele mesmo que dá nome à rua — a mostra Ecos do Tempo homenageia mestres como Antônio Bandeira, Sérvulo Esmeraldo, Raimundo Cela, entre tantos outros, provando que nossa arte tem raízes profundas e ramificações infinitas.
MAUC
O Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (MAUC), no bairro Benfica, é apontado como Andréa como um verdadeiro baú de tesouros visuais. Seu acervo robusto — um dos mais importantes do Estado — reúne obras de grandes nomes da arte cearense, como Antônio Bandeira, Aldemir Martins, Raimundo Cela e Chico da Silva, dentre outros, além de artistas contemporâneos que mantêm viva a chama da criação local.
“O Museu atua como elo entre pesquisa acadêmica, ensino e extensão, integrando arte e conhecimento de forma orgânica e acessível. Por meio de exposições permanentes e temporárias, o MAUC mantém um diálogo constante com a sociedade, abrindo espaço para novas leituras de seu acervo e promovendo ações educativas que aproximam públicos diversos. Trata-se de um espaço formador, inclusivo e essencial para a valorização da arte cearense”, afirma Andréa, que já realizou seis curadorias no local, além de oito exposições coletivas e uma exposição individual.
Para a também artista, o Museu cumpre um papel essencial na valorização da produção cearense, mostrando que arte e educação andam de mãos dadas. “No MAUC encontrei um campo fértil para experimentações curatoriais e exposições autorais. Inclusive, também ministrei oficinas de arte, contribuindo diretamente para a formação cultural de novos públicos”, resgata.
CAIXA Cultural
Instalada no antigo Prédio da Alfândega, construção histórica no coração artístico da cidade — nas proximidades do Dragão do Mar —, a CAIXA Cultural Fortaleza é sinônimo de diversidade e acesso democrático. Com programação majoritariamente gratuita e de alta qualidade, o espaço abriga desde exposições de fotografia até espetáculos de teatro e dança, conectando Fortaleza ao circuito cultural nacional. Claro que existem outras CAIXAS Culturais pelo Brasil, mas, para Andréa, a unidade de Fortaleza é única: “O espaço conecta a cidade ao circuito nacional e internacional das artes, promovendo encontros potentes entre ideias, corpos e criações. Mas ao valorizar tanto nomes consagrados quanto artistas emergentes, a instituição reforça o papel da cultura como direito, expressão e transformação”.
A Caixa Cultural já recebeu Novos Olhares para Monalisa, exposição de Veridiana Brasileiro com curadoria de Andréa. O projeto busca celebrar a diversidade de olhares e técnicas, o que emana essa energia plural do lugar. “Também ministrei uma oficina que contribuiu para o fortalecimento da arte como ferramenta de transformação social e acessibilidade cultural”, comenta a curadora.
E por que visitar?
Segundo Andréa Dall’Olio Hiluy, Fortaleza precisa ser entendida além dos cartões-postais, com espaços que não apenas contam a história da arte local, mas também que mostram como a cultura pode ser um agente de mudança e conexão. “São lugares que ecoam histórias, promovem encontros e ampliam o acesso à arte, desempenhando um papel essencial na difusão da cultura e na formação de público. Estar conectada a esses territórios é reafirmar, todos os dias, meu compromisso com a Arte, com a cidade e com as múltiplas formas de expressão que nela florescem”, arremata.