CAIXA Cultural Fortaleza conta a vida de Carolina Maria de Jesus sob o olhar de artistas negras cearenses com a exposição Carolinas, que tem acesso gratuito até fevereiro, com obras visuais, pinturas e poemas
Brenda Alvino
redacao@ootimista.com.br
Mulher, negra, mãe, escritora. Carolina Maria de Jesus é uma das mais importantes escritoras da literatura brasileira. Sua vida e seus feitos são tema da exposição Carolinas, que prossegue aberta ao público até o dia 4 de fevereiro, na CAIXA Cultural Fortaleza. Para homenagear o legado dela, foram convidadas as “Carolinas contemporâneas”, artistas negras cearenses que têm em seus trabalhos forte influência da escritora. São elas: Alexia Ferreira, Ana Aline Furtado, Dhiovana Barroso, Dinha Ribeiro, Francisca Oliveira, Sarah Forte, Renata Felinto e Pretarau – Sarau das Pretas.
Na exposição, o público poderá apreciar poemas, instalações, pinturas, obras visuais, slam das artistas; além de um poema inédito da atriz e slammer carioca Rainha do Verso. A mostra também apresenta o espólio artístico literário de Carolina Maria de Jesus, fotografias, manuscritos, composições musicais, capas de livros, matérias jornalísticas, documentários e alguns trabalhos ainda inéditos da escritora.
O objetivo é tornar Carolina Maria de Jesus conhecida para vários públicos e fazer com que outras mulheres se reconheçam através dela. Para uma das curadoras da exposição, Nicole Machado, “o desejo é que o trabalho alcance uma diversidade imensa de pessoas, de diferentes classes sociais, de raça, gênero ou sexualidade, porque Carolina tem muito para nos apresentar enquanto brasileiros, brasileiras e, principalmente, como latino-americanos. Nosso objetivo é evitar que novos apagamentos enfraqueçam a literatura, as artes e a memória brasileira.”
É nesse sentido que a curadoria buscou pesquisar e apresentar diversos provérbios, trechos de romances, poemas, notas autobiográficas, manuscritos, fotografias e datiloscritos inéditos, em “pretuguês”, ou seja, o português brasileiro falado, como destacaria Lélia Gonzalez, autora e ativista brasileira.
Diante do legado de resiliência de Carolina, que trabalhou como empregada doméstica e catadora de papel para sustentar os três filhos, que criava sozinha, a sua autodefinição, autodeterminação e autocrítica são o que de mais valioso Nicole aprendeu com a escritora. “O que hoje entendemos como interseccionalidade, ela evidencia de maneira que temos uma outra leitura do Brasil e dos brasileiros, desde um ponto de vista localizado. Carolina me encanta como uma mulher latino-americana muito consciente com muitas reflexões sobre o continente africano”, destaca.
A presença de outras mulheres no projeto, que tiveram sua arte influenciada fortemente pela resistência e força da Carolina, abrilhantou a idealização da mostra. “Estamos imensamente gratas a cada uma delas, suas trajetórias e suas obras contribuem de maneira intensa no diálogo que surge a partir dessas ‘escrevivências’ de diversas vozes-mulheres”, finaliza.
Carolina Maria de Jesus deixou mais de 5 mil páginas escritas, entre romances, poemas e canções. O livro Quarto de despejo: diário de uma favelada é a obra mais famosa da escritora, lançada em 1960. Já entre 1977 e 2018, após a sua morte, foram lançados mais cinco livros: Diário de Bitita (1982), publicado originalmente na França, Meu Estranho Diário (1996), Antologia Pessoal (1996), Onde Estaes Felicidade (1977) e Meu sonho é escrever (2018). Seus relatos mostram suas vivências na favela, como sobrevivia à fome com seus filhos e as dificuldades da sua realidade.
Serviço
Exposição Carolinas
Visitação: até 4 de fevereiro de 2024
Horários: 10h às 20h
(terça a sábado); 10h às 19h (domingos e feriados)
Na CAIXA Cultural Fortaleza (avenida Pessoa Anta, 287 – Praia de Iracema)
Acesso gratuito
Informações: (85) 3453.2770 / Site da CAIXA Cultural