Com espetáculos filmados em realidade virtual, Bienal Internacional de Dança do Ceará / De Par Em Par chega à 7ª edição

Reconhecida internacionalmente como um dos grandes eventos de dança realizados no Brasil, a Bienal Internacional de Dança do Ceará, que teve sua primeira edição há 24 anos, em outubro de 1997, realiza desde 2008 a Bienal De Par Em Par, um desdobramento da consolidada edição dos anos ímpares. A 7ª edição da Bienal De Par Em Par, que seria em outubro de 2020, acontecerá excepcionalmente de 05 a 14 de março de 2021, com programação 100% online. 

A Bienal fez da necessidade de adequação ao isolamento social, por conta da Covid-19, uma oportunidade de abrir suas janelas para ser acompanhada dentro e fora do Brasil pelo canal do evento no YouTube, e de agregar à sua programação uma série de importantes projetos ligados à dança deste e de outros países. Assinam a curadoria desta edição o diretor da Bienal de Dança, David Linhares, e a bailarina e gestora cultural Cláudia Pires.

REALIDADE VIRTUAL

Manter a dança próxima do público sem a sua presença na plateia, levou a Bienal a investir em tecnologia na estrutura de filmagem dos espetáculos. Seguindo os protocolos de biossegurança recomendados pelas autoridades sanitária, os trabalhos serão apresentados em Fortaleza no Theatro José de Alencar, no Porto Dragão e no Cena 15 – Centro de Narrativas Audiovisuais do Porto Iracema das Artes, equipamentos da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará), com acesso restrito às companhias de dança e a equipe técnica, e transmitidos ao vivo no YouTube.

O acesso aos equipamentos a todos os profissionais envolvidos só será permitido após realização do teste RT-PCR (swab), que será oferecido pela Bienal, e a confirmação de resultado negativo de Covid-19.

Será utilizada a câmera VR, que se constitui em um conjunto de câmeras que conseguem filmar o espetáculo a partir de várias lentes alinhadas. Essa tecnologia permite compor uma espécie de esfera ótica onde se filma um espaço em 360 graus. É como se o espectador assumisse o lugar da câmera, podendo com isso escolher para onde olhar.

O cineasta cearense Alexandre Veras é o diretor da transmissão ao vivo. “A utilização dessa tecnologia traz a dimensão dos múltiplos recortes da imagem, abrindo ao espectador a possibilidade de maior interação diante de um quadro que não está pré-definido. O espetáculo é gravado mantendo uma dimensão cênica e o espectador pode navegar, fruir, olhando para onde quer. Isso lhe restitui essa possibilidade que às vezes o olhar da câmera retira, quando enquadra e fixa em um ponto de vista. Isso colocou outras possibilidades em relação à fruição do espetáculo cênico mediado pela tecnologia, é como se o espectador estivesse fazendo várias leituras do espetáculo. Isso não é mais nem menos, é só diferente”, explica Veras. “Independentemente da tecnologia, o que a Bienal de Dança pretende trazer a partir da realidade virtual é a abertura de outros possíveis,de outros modos da dança ser”, continua.

Além da transmissão ao vivo, a tecnologia utilizada na filmagem vai gerar um arquivo de imagens que possibilitará manter a íntegra dos espetáculos filmados e a produção dos documentários das companhias, que incluem cenas de bastidores, making of e o processo de produção de cada espetáculo.

ESPETÁCULOS AO VIVO, SEMINÁRIO TEPe, REDES CONFLUENTES

A Bienal De Par Em Par, além de espetáculos ao vivo no YouTube, contará com o Seminário TEPe e uma série de eventos integrados, que juntos formam uma parte da programação chamada de “Redes Confluentes”. Estes dois eventos agrupam mais de 1.000 artistas de 27 países, além do Brasil.

ESPETÁCULOS AO VIVO

De 05 a 14, às 17 horas, o público da Bienal poderá acompanhar ao vivo pelo canal do YouTube a transmissão de espetáculos direto do Theatro José de Alencar, do Porto Dragão e do Cena 15. Em cena, algumas das mais conceituadas companhias e artistas da dança do Estado.

São eles: Paracuru Cia de Dança apresentando “Praia das Almas” e a nova criação “Inventário de Belezas“, coreografia de Fernando Bongiovanni; a Companhia da Arte Andanças, com direção de Andrea Bardawil, em “O tempo da paixão ou o desejo é um lago azul” e “Graça”; Cia Vatá – Companhia de Brincantes Valéria Pinheiro em “233A 720 KALOS”; Alysson Amancio Cia de Dança apresenta em “Cabra da Peste”; Rosa Primo em “Iracema”; Zé Viana Júnior em “CorpoCatimbó”; Clarice Lima em “Intérpretes em crise”; Cia Balé Baião em “Prelúdio para danças caboclas”; e da França, a Cie. R.A.M.a, de Fabrice Ramalingom em “My (petit) Pogo”.

Às 19h, mais uma rica sessão de espetáculos ao vivo. Em cena, a Cia Dita com os espetáculos “Fortaleza” e “Mulata”; Jorge Garcia Companhia de Dança em “Nihil Obstat”Teatro Máquina em um de seus trabalhos mais emblemáticos, “O Cantil”; Rosa Primo apresentando “Tudo passa sobre a terra”; Andreia Pires em “Fortaleza 2040”; Edmar Cândido em “Canil”; Wellington Gadelha em “Gente de lá”; e a bailarina, coreógrafa e performer Silvia Moura com o ator, dramaturgo e diretor teatral Ricardo Guilherme em “Se ela dança eu canto”.

SEMINÁRIO TEPe

Diálogo e cooperação entre pesquisadores brasileiros e portugueses

Coordenado por Daniel Tércio (Lisboa – Universidade de Lisboa / FMH – Faculdade de Motricidade Humana), Leonel Brum (UFC – Universidade Federal do Ceará / UFF – Universidade Federal Fluminense), Beatriz Cerbino (UFF – Universidade Federal Fluminense) e Paulo Caldas (UFC – Universidade Federal do Ceará), o Seminário TEPe, acolhido pela Bienal, é um projeto de diálogo e cooperação entre dois grupos de pesquisadores brasileiros e portugueses que vem sendo trabalhado há três anos, propondo um debate em torno da dança, da paisagem urbanas e de inquietações.

“São múltiplos os percursos e as derivas para ensaiar zonas de resistência e de denúncia. É certo que o caminho se faz caminhando, mas poderemos sempre interrogar-nos: como continuar dançando, como continuar fazendo arte, como continuar na cidade? Enfim: como continuar?”, questionam.

O Seminário acontecerá de 05 a 14, sempre às 15h. na abertura, uma conversa entre a professora de Filosofia (Estética) Ana Godinho e o filósofo e pensador português José Gil terá como tema “Pandemia e alterações climáticas”. José Gil tem diversos artigos e ensaios científicos em revistas e enciclopédias de todo o mundo, destacando-se nas suas preferências a reflexão sobre o corpo.

Nos outros dias o Seminário TEPe abordará “Banco de Abraços: Mulheres que ensaiam zonas de resistência”, “[In]submersas”, “Sensorial walk”, “Travessia”, “1997|2004 Dança em Lisboa”, “Pop-Up!”, “Infodemics”, “RESTO: no tempo, no silêncio, na escuta” e “Dançar como árvore”.

REDE CONFLUENTES

Adiversidade e as diferentes propostas artísticas que percebem a tela como lugar de encontro

Pensada inicialmente como uma mostra de videodança e cinedança para integrar a Bienal em 2021, a mostra Redes Confluentes tornou-se rapidamente uma rede de redes, ou seja, um evento que reúne em sua programação sete mostras, agregando artistas de todos os continentes. Coordenada por Leonel Brum, que divide a curadoria com Beatriz Cerbino, esta programação tem foco na diversidade e nas diferentes propostas artísticas que percebem a tela como lugar de encontro. A exibição será no canal da Bienal no YouTube, de 07 a 14 de março, a partir das 20h.

Integram as Redes Confluentes: Mostra do Centro Coreográfico do Rio de Janeiro (CCORJ), Mostra do Festival Internacional dança em foco (RJ), Mostra Solar / Casa Hoffmann (Curitiba/PR), Mostra Universitária Ibero-americana de Videodança: Midiadança/Cursos de Dança da UFC (CE), Mostra REDIV – Rede Ibero-americana de Videodança (diversos países), Mostra do Festival Internacional VideoDanzaBA (Buenos Aires/Argentina) e Mostra do Festival Internacional FiverTour (Espanha).

HOMENAGEM

Nesta edição, a Bienal presta homenagem a Lourdes Macena, que fundou há 39 anos o Grupo Miraira, quando ingressou na Escola Técnica Federal do Ceará, atuando na disciplina de Educação Artística.

Lourdes nasceu em Barreira, cidade do Maciço de Baturité. Sua relação com a dança provém de sua conexão com um outro lugar que na década de 1970 chamava-se Congo, e era distrito de Limoeiro do Norte.

Sua dança surgiu das relações nestes lugares, pois nas brincadeiras de Boi, de Maneiro Pau, dos Reisados está a alegria e criação espontânea que seu corpo entende. Sua gestualidade vem das palmas dos carnaubais, do movimento das águas do Rio Banabuiú e das muitas ondas do mar de Iracema desta Fortaleza.

Seus giros, contra giros, vêm dos bilros das almofadas da sua avó. Toda a cena que cria para o palco ou para a praça busca revelar o povo valente, guerreiro, mestiço, cafuzo, negro, caboclo, miúdo, gigante e forte que renasce a cada dia sob o escudo de suas brincadeiras e sua fé.

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