Odete Roitman, Raquel Acioly e Maria de Fátima, icônicas personagens da teledramaturgia brasileira estão de volta à TV, nesta segunda-feira (31), com a estreia do remake de Vale Tudo. Críticos de televisão falam ao Tapis Rouge sobre as expectativas em relação à nova versão
Danielber Noronha
danielbernoronha@ootimista.com.br
Corrupção, abuso de poder, inflação crescente e um questionamento: vale a pena ser honesto no Brasil? Inquietações que caem como uma luva no Brasil dos tempos atuais foram as mesmas que nortearam Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères quando idealizaram Vale Tudo (1988), novela que se tornou um dos maiores clássicos da teledramaturgia brasileira. Agora, mais de 30 anos depois, a mesma narrativa ganha novos contornos nas mãos de Manuela Dias (Amor de Mãe, 2019), com um remake que estreia logo mais, na faixa das 21 horas da TV Globo – um das celebrações dos 60 anos da emissora.
Em um tempo onde a unanimidade parece cada vez mais distante, o folhetim já conseguiu grandes feitos: furar a bolha e virar assunto dentro e fora das redes sociais, antes mesmo da estreia. Entre defensores e avessos à nova versão, é difícil encontrar alguém cronologicamente on-line que não tenha ao menos um pitaco em relação ao remake, que ora agrada e logo em seguida gera polêmica.
Reações à parte, a Vênus Platinada escalou um elenco estalar para encarnar papéis que estão no imaginário de muitos noveleiros, incluindo Taís Araujo, Débora Bloch, Paolla Oliveira, Humberto Carrão, Cauã Reymond, Renato Góes, Julio Andrade, Malu Galli, Alexandre Nero, Matheus Nachtergaele e Luís Melo – bem diferente da tendência recente, onde vários postos centrais são ocupados por atores ainda pouco conhecidos do grande público.
Enredo

A relação entre mãe e filha com visões distintas sobre os meios para se vencer na vida deve desencadear uma série de acontecimentos com potencial para um novelão de mão cheia. Enquanto Raquel (Taís Araujo), uma mulher batalhadora, típica mãe brasileira, acredita ser possível ganhar a vida com integridade, sua filha, Maria de Fátima (Bella Campos), se dispõe a fazer qualquer coisa para alcançar o sucesso e abandonar a vida simples que leva em Foz do Iguaçu, no Paraná.
A situação entre as duas fica ainda mais insustentável quando, já no Rio de Janeiro, a magnata Odete Roitman (Débora Bloch) atravessa, de maneira distinta, o caminho das duas. De um lado, Maria de Fátima enxerga no herdeiro Afonso Roitman (Humberto Carrão), namorado de Solange (Alice Wegmann), a chance de dar um golpe para subir na vida. Do outro, Raquel passa a ser renegada pela própria filha, que se alia a Odete na tentativa de seduzir Afonso e fazê-lo desistir da ideia de morar no Brasil, onde funciona a sede da TCA, uma das empresas do Grupo Almeida Roitman. Neste imbróglio, acrescentam-se disputa por poder, romances, intrigas e traumas do passado, como os de Heleninha (Paolla Oliveira), filha de Odete Roitman, que luta contra o alcoolismo.
Expectativas
As expectativas do crítico de televisão Duh Secco são boas. Segundo ele, a nova versão deve adotar um tom menos crítico e mais folhetinesco. “Manuela Dias não mentiu quando disse que a novela é uma aposta de mãe e filha. De fato, é. Em 1988, porém, nas entrelinhas estava a aposta entre o Brasil de Raquel, o das batalhas diárias, nem sempre vencidas; e o de Maria de Fátima, de quem quer se dar bem a qualquer custo. A impressão que tenho é que a nova Vale Tudo não quer ‘incomodar’ uma parcela do público mais resistente ao debate social. E essa não é opção só do remake; a dramaturgia, no geral, tem procurado fugir de discussões mais aprofundadas”, avalia o idealizador do site duhsecco.com.br, onde publica notícias diárias sobre televisão.
Como uma boa noveleira, Lyvia Rocha, do @aquietv, também está ansiosa para conferir o remake. “Acho muito difícil não fazer sucesso e explico o motivo: a história é boa e segue atual. Acredito também que as adaptações farão bem à novela, até porque muita coisa que acontecia na trama original hoje não é mais aceitável”, defende a também jornalista. No olhar de Duh Secco, as atualizações se fazem necessárias. “Não dá para refazer Vale Tudo seguindo totalmente o texto original. Há questões atualizadas há tempos, como os direitos de casais homoafetivos, certamente incluídos na trama de Cecília e Laís, mas a narrativa, por tudo que li e vi até agora, me parece fiel à de 1988, com as devidas adequações”, complementa.
Elenco
A escalação de alguns nomes, especialmente do elenco principal, é um ponto que segue rendendo há meses, ganhando força, inclusive, com a liberação das chamadas de divulgação. Os críticos consultados pela reportagem celebram algumas escolhas e comentam possíveis problemas. “A escalação da Paolla Oliveira me surpreendeu! Fiquei feliz por ela. Paolla sempre se propõe a novos desafios e Heleninha é um desafio e tanto. Gosto muito de Alice Wegmann e acho que ela acertou ao aproximar sua Solange do tom de Lídia Brondi na versão original. Bella Campos não tinha minha torcida, na ocasião do falatório sobre os testes, mas foi aprovada e está buscando fazer o trabalho da melhor forma enquanto enfrenta críticas desproporcionais. A reação à presença dela no elenco ultrapassou o ‘incômodo’ e descambou para o ódio gratuito”, elenca Duh Secco.
Na visão de Lyvia Rocha, as comparações podem virar uma “pedra no sapato” do remake. “É difícil não comparar Maria de Fátima e Odete Roitman de 88 com as atuais. Em algumas chamadas, a Odete me parece mais perua do que antes, mas acredito que o talento de Débora Bloch se sobressairá e ela encontrará o tom da vilã”. Contudo, vai demorar um pouco para o público ver Débora em cena. Isto porque ela deve aparecer somente no capítulo 24, previsto para ir ao ar 26 de abril, aniversário de 60 anos da TV Globo.
“Agora, temos algumas escalações que achei perfeitas: o Poliana de Matheus Nachtergaele é um mega acerto, Cauã como César, Julio Andrade como Rubinho e Malu Galli interpretando a Celina também gostei bastante”, destaca Lyvia.
Entre as torcidas e polêmicas, o remake de Vale Tudo tem muitos elementos para se tornar um sucesso, assim como foi Pantanal (2022). Para os mais saudosistas, a versão original segue disponível no catálogo do streaming Globoplay.
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Confira uma das chamadas de divulgação da novela:
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Estreia de Vale Tudo
Nova novela das 21h da TV Globo estreia nesta segunda-feira (31), após o Jornal Nacional