Amanda Lima, a Miss Ceará Supranational 2025, está pronta para brilhar no Miss Supranational Brasil, que ocorre em Balneário Camboriú. Em entrevista ao Tapis Rouge, a fortalezense fala sobre carreira, inclusão e como transformou adversidades em força para inspirar outras mulheres
Sâmya Mesquita
samyamesquita@ootimista.com.br
A Miss Ceará Supranational 2025 tem nome e sobrenome: Amanda Lima. Advogada e modelo, ela foi a escolhida para representar o Estado no concurso Miss Supranational Brasil, marcado para ocorrer de 1º a 4 de abril, em Balneário Camboriú (SC). No Dia Internacional da Mulher, comemorado neste sábado (8), a fortalezense fala ao Tapis Rouge sobre como enxerga na moda uma ferramenta de transformação e do desejo de mostrar que a beleza não tem padrões e representar aquelas que, como ela, enfrentam desafios, mas não desistem.
Tapis Rouge – Como começou a sua história nos concursos de beleza?
Amanda – Eu costumava dizer que estava no meu coração desde a infância. Mas, como menina negra de cabelo crespo, eu não me imaginava nesse cenário de maneira nenhuma. Mas, obviamente, os tempos foram mudando, e olha quantas misses negras começaram a aparecer! Eu comecei a ver algumas sendo eleitas, pouquinhas, mas aquilo já foi um ponto-chave, uma luz no meu coração. Essa é a importância da representatividade, porque, se a gente não se vê naquele lugar, de maneira nenhuma vamos ter a ousadia de participar, para não ser frustrado. Em 2018, participei do meu primeiro concurso, que foi o Garota Portal Messejana. Eu fiquei no top 10, mesmo sem nunca ter pisado na passarela antes. A partir dali, as pessoas me conheceram, viram a minha vida e a minha história e viram que ela precisava ser contada. Eu não estava preparada, mas era uma pessoa com potencial. E aí, um dos jurados que era dono de uma agência de modelos me chamou para fazer parte. A partir dali, todas as portas começaram a se abrir. Eu fiz parte dessa agência e comecei a fazer campanhas para marcas grandes aqui do Ceará. Depois, participei do Miss Fortaleza Be Emotion e fiquei no top 5. A cada concurso que participava, eu já via o que poderia melhorar e já me moldava. E aí fui para o Miss Ceará. Foi a primeira vez que fui a nível estadual. De 2019 para 2023, fui crescendo no mundo da moda. .
Tapis Rouge – Como tem sido essa experiência de passar pelo Miss Ceará e se preparar para a competição nacional?
Amanda – Tem sido um misto de emoções. Eu tenho me preparado de todas as formas possíveis: aulas de oratória, passarela, aulas de inglês. Mas eu tenho cuidado principalmente do emocional. Nós precisamos ter inteligência emocional. Isso é importante até mesmo para que seja um processo saudável, um pouco mais leve e sem muita pressão. Estou cuidando em me preparar também em todos os quesitos necessários para o concurso, mas também de forma interna e pessoal. Tenho investido nisso até porque acredito que uma miss é uma líder e para que a gente possa liderar um povo, representar um povo, também é importante saber cuidar das nossas próprias emoções.
Tapis Rouge – Como você vê o papel dos concursos de beleza na promoção da representatividade?
Amanda – Eu vejo isso como um ato grandioso e de resistência. Não é só ocupar aquele espaço. O fato de só ocupar esse espaço já é uma revolução muito grande. Mas é algo que também é um alerta. Quantas misses negras o Ceará já teve? Agora, eu sou a segunda. Apesar de ser grandioso, também é algo preocupante e um alerta para a gente realmente vê a que ponto o racismo estrutural influencia a relação com a beleza. Porque a beleza da mulher negra sempre foi negada e retirada de nós. Mas, hoje, a gente pode ter espaços e criar as nossas próprias oportunidades, já que, às vezes, as oportunidades não aparecem. É algo grandioso, que me orgulha muito, mas é um alerta também para a questão da estética e da beleza numa perspectiva racial.
Tapis Rouge – E quais têm sido os maiores desafios que você tem enfrentado na sua preparação para o concurso?
Amanda – Algo que tem sido desafiador, mas não impossível, é conciliar tudo, porque é muita coisa. Eu já vinha de uma rotina bastante atarefada, porque faço estágio no Tribunal de Justiça do Ceará. Sou formada como advogada e também trabalho como modelo. Então, já vinha o desafio de conciliar as minhas duas profissões. E aí eu achei pouco e decidi me jogar no mundo dos concursos [risos]. Tem sido desafiador, mas não impossível. A organização é a chave. Trabalhar como miss exige tempo para aulas e preparação. As aulas de inglês, por exemplo, eu tenho on-line, o que facilita. Então, vou fazendo esse link entre o presencial, o on-line, na minha agenda e na dos profissionais com quem trabalho.

Tapis Rouge – Você teve uma trajetória de vida marcada por desafios, incluindo a perda da sua mãe, vítima de feminicídio. Como essas experiências moldaram quem você é e como influenciam sua atuação como miss?
Amanda – Eu sempre repito porque tenho isso muito forte no meu coração: coisas ruins acontecem com todos nós. Mas a forma como a gente lida com aquela situação é o que vai definir o resultado. Assim como tudo de ruim que aconteceu na minha vida – eu venho de família simples, perdi minha mãe para o feminicídio em 2012 –, no início foi muito difícil. A vida me trouxe perdas, tristeza, então eu procuro repassar para as pessoas esperança e amor. Eu escolhi fazer das adversidades a minha força, o meu combustível para continuar e repassar algo totalmente diferente. Em relação à justiça, no caso da minha mãe, eu fiz a escolha de me formar em Direito e, hoje, consigo levar justiça para as pessoas. Poderia muito bem ter escolhido ser uma pessoa amarga, mas eu decidi transformar tudo aquilo que aconteceu comigo em força. Transformei o luto em luta.
Tapis Rouge – Você tem apoiado algum projeto social? E como você acredita que seu reinado pode deixar um impacto positivo na sociedade?
Amanda – Eu apoio alguns projetos sociais, a maioria ligados à periferia. Se eu pudesse abraçar todos os projetos sociais possíveis, abraçaria. Mas, para o Miss Brasil, preciso levar um único projeto. O que eu vou levar é o Princesinha de Favela [PPDF], um projeto social que tem uma conexão direta com a minha história. Todos os projetos sociais são importantes, mas eu vejo que, às vezes, as pessoas focam muito na periferia só na questão do alimento e do saneamento básico. Sim, isso é necessário, mas outras coisas também são importantes, como educação e cultura. O Princesinha de Favela trabalha não só em um bairro específico, mas em diversos bairros, levando moda, cultura e educação através de oficinas. Lá também tem talentos, meninas e meninos que podem ser modelos, misses, mas precisam de oportunidades. A periferia está sempre escondida, e quando a gente entra lá através de projetos como esse, a gente consegue conhecer esses talentos.
Tapis Rouge – E falando no PPDF, como você vê o poder da moda na construção da identidade e na autoestima das pessoas?
Amanda – Eu consigo mostrar, através da minha história e da minha trajetória, que é possível alcançar lugares que parecem inalcançáveis. Uma menina da periferia, quando olha ao seu redor, muitas vezes só vê um caminho sendo imposto. Através da minha trajetória e das meninas do projeto social, eu consigo mostrar que há outros caminhos, que é possível transformar a realidade e não seguir apenas o que é imposto.
Tapis Rouge – Quais são suas maiores expectativas para o Miss Supranational Brasil?
Amanda – Estou vivendo o dia a dia. Obviamente, tenho me preparado para o concurso, mas estou focada em cada etapa. Temos provas pré-confinamento, como vídeos de apresentação, capas de revista e um fashion film. As expectativas são as maiores porque sinto que minha trajetória me preparou para isso. Não é só a coroa: é a chance de transformar vidas, de mostrar que é possível superar adversidades e alcançar sonhos.
Tapis Rouge – Qual mensagem você gostaria de deixar para outras mulheres, especialmente aquelas que vêm de contextos semelhantes ao seu?
Amanda – A mensagem que eu quero repassar é que é possível transformar a nossa realidade, independente da situação que vivemos. Eu sei que as situações são difíceis, mas, com determinação e coragem, é possível criar oportunidades. Se não me dão, eu vou atrás, eu crio minhas oportunidades.