Presidente da Adece aborda a nova estratégia de atração de investimentos do Ceará, focada nos hubs e nas energias renováveis
Pensada para gestar a futura Zona de Processamentos de Exportação (ZPE) do Porto do Pecém, a Agência de Desenvolvimento Econômico do Estado do Ceará (Adece) hoje é a grande articuladora dos setores produtivos do Estado. A sua recente reestruturação aglutinou câmaras setoriais e temáticas para pensar setores como um todo, além de ter criado outras câmaras para desenvolver setores que despontam no Estado, como gastronomia e economia criativa, por exemplo. A reestruturação da agência inclui também a possibilidade de atuar com fomento, gerindo recursos de fundos públicos ou privados.
“O que a gente trabalha aqui é desenvolvimento econômico para o estado do Ceará. Na última instância, quem decide onde vai investir é o empresário. O que nós fazemos é preparar a casa para receber”, resume o presidente da Adece, Eduardo Neves. O economista está na agência desde a sua fundação, em 2007, e já passou por várias gerências e diretorias.
As mudanças pelas quais a agência passou em 2019 foi reflexo do redesenho da estratégia de desenvolvimento econômico do Estado, traçada pela Secretaria do Desenvolvimento Econômico e do Trabalho (Sedet), chefiada por Maia Júnior. Foram priorizados setores chave, principalmente os ligados aos hubs aéreo, marítimo e tecnológico, bem como energias renováveis.
Um dos trabalhos que coroam a implementação deste novo modelo é o Atlas Solar e Eólico do Ceará, que a Adece tem adiantado em algumas feiras setoriais que participa. A publicação será lançada nas próximas semanas pelo governador Camilo Santana (PT) em parceria com a Federação das Indústrias do Ceará (Fiec). “É uma ferramenta importantíssima porque dá clareza ao investidor, está tudo mapeado, inclusive as devidas restrições ambientais de cada local”, adianta.

Recentemente a Adece passou por uma remodelação. O que muda na prática?
Houve uma reestruturação de todo o sistema de desenvolvimento econômico e a Adece assume outras questões que não existiam no Estado, como o fomento. Por isso, passamos a ser uma agência de desenvolvimento e fomento. Sempre se imaginou isso. Quando a Adece foi criada, a ideia era criar uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE). A ZPE nasceu dentro da Adece e depois virou uma organização solo. Esta foi a primeira fase da agência. Posteriormente, fizemos alguns estudos para o fomento e, recentemente, com a reestruturação da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), surgiu a oportunidade para fazer o fomento de fato. Estamos em contato com a Agência Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), que está dando todo o apoio, procuramos conhecer outras agências para saber a realidade do fomento em outros estados e fizemos a reestruturação da Adece dentro da estrutura de S.A.
A mudança também inclui a estrutura das 21 câmaras setoriais?
Adotamos um modelo bastante inovador e que já está dando resultado. Criamos duas câmaras novas, de gastronomia e economia criativa, que vão ajudar a desenvolver essas cadeias econômicas. Essa nova configuração das câmaras ajuda a alinhar as obras estratégicas ao Ceará 2050, e estamos conseguindo transversalizar as câmaras setoriais, o que nos ajuda a localizar onde devemos avançar em cada cadeia produtiva.
A Adece deve passar a atuar também como agência de fomento. Como será a atuação deste novo braço da agência?
Aliando o fomento às atividades da Adece, teremos condição de entrar com um novo ingrediente, digamos assim, que seria a possibilidade de emprestar recursos oriundos do FNE, Finep, linha de crédito do BNDES que podemos ser repassadores, pode ser fundo de investimentos, várias possibilidades. É um desenho que estamos montando, que tipo de linha a gente vai trabalhar e onde vamos aportar recursos. Mas tudo isso será para focar no desenvolvimento econômico e dar esse avanço que o Ceará precisa para os próximos anos.
Atualmente, quais são os maiores trunfos do Ceará para atrair novos investimentos?
Este ano inauguramos ou colocamos em implantação praticamente um empreendimento por mês. O país passou por uma crise muito grande e por isso a gente precisa se reinventar, se modernizar, ser mais agressivo no sentido de ocupar mais os espaços, e é isso que estamos fazendo, nos estruturando para não perder espaço e atrair novos investimentos. O Ceará tem hoje uma situação fiscal muito equilibrada, que nos dá condição de concorrência mais confortável com outros estados. Além disso, temos as grandes estruturas preparadas: temos o hub marítimo, o hub aéreo e o hub tecnológico e isso nos dá condição de atrair empresas ligadas a essas atividades.
Todos os setores prioritários para a estratégia de desenvolvimento econômico do Estado já têm suas respectivas câmaras?
A prioridade do Ceará são sete setores: calçadista e têxtil, energias renováveis, indústria da saúde, turismo, tecnologia, agronegócio e logística. Isso engloba todos os outros setores da economia. As câmaras setoriais permitem que a gente compreenda e acompanhe todos esses setores de perto, junto com os empreendimentos que a Sedet está buscando.
Existem segmentos econômicos prioritários para a Adece?
A trinca de hubs contempla os setores onde devemos crescer mais. Estamos com a estrutura pronta, a economia do País vem melhorando aos poucos. Nas energias renováveis, principalmente, nós temos a cadeia praticamente inteira. É uma área que deve crescer muito por causa da estrutura e da necessidade que o Brasil tem de investir em energia. E o turismo, obviamente, também deve continuar crescendo muito no estado do Ceará.
Durante um tempo, o Ceará ficou atrás de estados do Nordeste, como Rio Grande do Norte, nos leilões de energia eólica. O fato de retomar a liderança e desenvolver uma cadeira própria tem relação com os hubs?
Com certeza. A Câmara Setorial da Energia Renovável teve um papel extremamente importante. Por exemplo: foi por conta da mobilização dela que se trabalhou junto ao Meio Ambiente para fazer licenciamento simplificado para participar de leilão. No caso de vencer o leilão, aí sim tem que cumprir o rito do licenciamento normal. Por conta disso, o Estado passou a participar e ganhar mais leilões. Também é importante a parceria com a Seinfra, que tem uma área específica de energias renováveis e trabalha muito a questão das conexões, que são fundamentais para distribuir a energia produzida.
O Atlas Solar e Eólico do Ceará é aguardado há muito tempo e promete mapear todo o potencial do Estado. As restrições ambientais também estão explicitadas nas ferramentas?
Estamos lançando um atlas que é único no Brasil. Finalizamos as ferramentos para smartphone e web, onde vai ser possível localizar no mapa o que um município no Ceará tem de potencialidade pra energia solar e eólica e comparar com outro. Isso é importante para o investidor compreender o local e para os proprietários das áreas, que vão conhecer o potencial das terras. É uma ferramenta importantíssima porque dá clareza ao investidor, está tudo mapeado, inclusive as devidas restrições ambientais de cada local. Isso em todos os municípios, inclusive, produção off shore.
Os municípios têm aderido ao portal Investe Ceará, que também funciona como um “cardápio” de possibilidades de investimentos no Estado?
Tem sido bastante satisfatório. Lançamos no final do ano e várias prefeituras já se cadastraram, é uma ferramenta que interliga a potencialidade econômica de um município com sua câmara setorial, trabalhando a ampliação dessa vocação e mostrando para os investidores. O que a gente trabalha aqui é desenvolvimento econômico para o estado do Ceará. Na última instância, quem decide onde vai investir é o empresário. O que nós fazemos é preparar a casa para receber. Os locais que têm bem definidos quais são suas vocações têm mais chances de receber o investimentos do que outros que não estejam tão bem preparados, mas a decisão final é do empresário. O que a gente faz é propiciar a este investidor as melhores condições dentro do Ceará.