Estrelado por Marco Pigossi, estreia nos cinemas nacionais, nesta quinta-feira (20), “Maré Alta”, produção dirigida e escrita pelo italiano Marco Calvani. Ao Tapis Rouge, diretor e protagonista revelaram detalhes acerca do processo de construção do filme
Onivaldo Neto
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O dramaturgo italiano Marco Calvani e o ator brasileiro Marco Pigossi unem forças na produção norte-americana “Maré Alta” (High Tide, em inglês). Com estreia marcada para esta quinta-feira, 20, romance dramático narra a complicada jornada de um imigrante brasileiro, interpretado por Pigossi, prestes a ser deportado dos Estados Unidos. Além de dirigir, Marco Calvani também assina o roteiro do filme, que conta com nomes conhecidos de Hollywood no elenco, como Marisa Tomei (“Homem-Aranha: De volta ao lar”, 2017), Bill Irwin (“Interestelar”, 2014) e Mya Taylor (“Tangerina”, 2015). Pigossi e Calvani, que são casados, falaram com exclusividade ao Tapis Rouge sobre o longa carregado de significados importantes para ambos.
Enredo
No filme, Marcos Pigossi interpreta Lourenço, um brasileiro que deixa o país para viver um romance nos Estados Unidos. No entanto, seus planos são frustrados quando o namorado americano o abandona, deixando-o sozinho em Provincetown, longe da família e com o visto prestes a expirar. Em meio à desilusão e à incerteza, Lourenço conhece Maurice, encenado por James Bland, um americano que o ajuda a confrontar seus medos e a encontrar forças para recomeçar. A relação com Maurice se torna um ponto de virada na vida de Lourenço, que precisa lidar com as frustrações do passado e construir um novo futuro em um país estrangeiro. Imigração, identidade e a busca por recomeço após uma desilusão amorosa são temas norteadores do filme.
Do início à estreia

“Maré Alta” marca a primeira vez de Calvani à frente de um longa-metragem. O diretor estreante não sabe dizer ao certo de onde surgiu a inspiração para a história da produção, porém revela à reportagem que os primeiros esboços do roteiro começaram a ser escritos em 2020, no auge da pandemia da covid-19. “Eu estava vivendo isolado, como muitos de nós, e tinha saúde e muito tempo para refletir sobre as coisas de uma maneira diferente”, conta o diretor. Ainda conforme o profissional, além da pandemia, mudanças drásticas e acontecimentos trágicos ocorridos durante o período, como o assassinato de George Floyd nos EUA, também fizeram com que o enredo do filme saísse do papel.
“O mundo ao meu redor estava mudando tão dramaticamente. Eu simplesmente senti a urgência de tentar responder a todas essas perguntas que estavam fervilhando na minha mente como um homem gay e imigrante em um país estrangeiro que eu estava começando a não entender mais (…). Todos esses elementos contribuíram para a criação de ‘Maré Alta’. Decidi colocar personagens queer no centro disso e fazer um romance para abordar temas políticos como imigração, racismo sistêmico e direitos LGBT, mas através das lentes de um romance, mais vulneráveis, o que era bem novo para mim como artista”, afirma.
Perguntado se já pensava em seu marido, Marco Pigossi, para viver o protagonista do longa, Calvani expõe que o roteiro de “Maré Alta” estava quase finalizado quando conheceu o brasileiro. “Estava terminando o primeiro rascunho do roteiro e o personagem já era latino, mas não era brasileiro. Quando conheci Marco, nos primeiros dias que passamos juntos, conversamos muito sobre o que estava acontecendo em nossas mentes e corações como homens gays em um país estrangeiro, ambos vindos de famílias e países muito tradicionais e conservadores”, comenta.
Foi durante o processo de escrita que o cineasta transformou o personagem central da produção em brasileiro, mas guardou segredo de Pigossi, deixando o amor que estava florescendo entre os dois alimentar a história, conforme relato. “Foi um grande desafio, mas estávamos juntos nisso e foi assim que começamos também a colaborar mais ativamente no roteiro. Ele era tão específico e tinha tanta atenção aos detalhes, dirigi-lo foi incrível. (…) você sabe, fazer um filme é um milagre. Fazer um filme com alguém que você ama é provavelmente o mais bonito que eu poderia imaginar”, declara Calvani.
Já tendo passado por diversos festivais no Exterior e estreado nacionalmente no Festival do Rio 2024, “Maré Alta” chega às salas de cinemas do Brasil em um momento de grande transformação e valorização da cinematografia brasileira, fomentado principalmente pela conquista do Oscar pelo aclamado Ainda Estou Aqui. Sobre o cenário, o cineasta italiano deseja que o reconhecimento internacional conquistado pelo filme de Walter Salles, que aborda temáticas políticas e sociais, não ocorra exclusivamente no Brasil, reforçando a importância do lançamento de “Maré Alta” na atualidade.
“Um filme que quer passar e espalhar essa mensagem agora, eu acho que é muito importante e realmente espero que o público brasileiro possa se conectar com ele. É uma história queer, mas ao mesmo tempo é tão universal. A maior surpresa foi que tantas pessoas ao redor do mundo já foram tocadas. Não importa se são gays ou heterossexuais, mulheres, homens ou mulheres, velhos ou jovens, imigrantes ou americanos, todos eles foram muito tocados. Então eu realmente espero que o público brasileiro possa abrir seus corações e mentes de uma forma tão grande e generosa”, ambiciona Calvani.
O protagonista
Apesar de já ter integrado o elenco de produções americanas como “GenV’ (2023) e “Tidelands” (2018), “Maré Alta” é o primeiro longa-metragem internacional no qual Marco Pigossi é o protagonista. O ator destaca que a película representa um novo momento profissional e pessoal, ressaltando ainda o seu desejo de contar diferentes experiências. “(…) eu também tinha essa necessidade de falar, com mais profundidade, dentro desse lugar das vivências. Do que é ser um homem gay, principalmente do que é ser um homem gay fora do Brasil, sendo latino. Da vivência do imigrante, das experiências, das dores, das alegrias. É um momento novo profissional não só pelo personagem ou pela temática, mas também por ser o meu primeiro protagonista no cinema internacional, no cinema americano”, detalha.
Diferente do seu personagem, Lourenço, a língua inglesa já não é mais um obstáculo para o ator. Pigossi conta que já consegue se expressar bem através do inglês, o que contribui para os seus trabalhos lá fora, mesmo sendo sempre um desafio, como pontua. “Quando é na nossa língua, as palavras vêm carregadas de emoção. Ao atuar numa outra língua, a gente não tem essa carga emocional, ela tem que ser construída. No meu caso, (…) eu já aprendi a me expressar bem através do inglês, mas acho que sempre tem esse desafio. Já o Lourenço é o contrário. Eu trouxe essa dificuldade de se expressar para o personagem”, explicita.
Morando há cinco anos nos Estados Unidos, Pigossi divide o seu trabalho cênico em produções nacionais e internacionais. Com exclusividade ao Tapis Rouge, o ator antecipa que trabalhou em duas produções internacionais e duas aqui no Brasil, todas sem data de estreia nas telonas nacionais. “Geralmente, eu sigo bons personagens, sendo eles lá [nos EUA], sendo eles aqui [no Brasil]. Tenho dois filmes independentes para lançar nos EUA. O primeiro é um thriller chamado ‘Lago dos Ossos’, dirigido por Mercedes Bryce Morgan, e o outro se chama ‘Cuidado, você está namorando um narcisista’, da Ann Marie Allison. No Brasil, eu fiz o filme ‘Privadas de Suas Vidas’, do Gustavo Vinagre e do Gurcius Gewdner, que são diretores que eu admiro muito. E eu fiz também a releitura do ‘Quarto do Pânico’, nosso remake brasileiro dirigido pela Gabriela Amaral, que é uma diretora impecável e maravilhosa. O filme tem Isis Valverde, Caco Ciocler, André Ramiro, enfim, um elenco muito incrível”, anuncia.
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Assista ao trailer:
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Filme “Maré Alta”
Estreia nesta quinta-feira (20)
Romance/Drama
Classificação indicativa 16 anos