Fortaleza celebra a riqueza da arte cearense com a inauguração da Artesano Casa Galeria, neste final de semana. Com exposições, oficinas e um jardim multifuncional, o polo cultural e de entretenimento foi pensado para abraçar a diversidade e a vitalidade dos talentos locais. Ao Tapis Rouge, a arquiteta e empresária Roberta Aguiar Tomaz apresenta todos os detalhes do equipamento
Sâmya Mesquita
samyamesquita@ootimista.com.br
Fortaleza acaba de ganhar um presente que promete encantar os olhos e alimentar a alma: a Artesano Casa Galeria. Localizada no bairro Meireles, a galeria se apresenta como um convite para quem quer mergulhar no universo das artes, seja para admirar, aprender ou simplesmente se deixar levar pelas obras que contam histórias. Com dois andares dedicados à exposição e à venda de peças exclusivas, além de um espaço cultural anexo aos jardins com o mesmo nome da rua — o artista Vicente Leite (1900-1941) —, a Artesano se constrói como uma celebração do fazer manual, da criatividade e do bem-viver.

Logo na entrada, os visitantes são recebidos pela exposição “Ecos do Tempo Presente”, formada a partir de obras feitas por nomes como Andréa Dall’Olio, também curadora, Alana Oliveira, Jeová Siebra e Nicolas Gondim, entre outros talentos. A experiência começa logo na entrada, com a exposição de “mãos voadoras” do artista Assis Filho. Pinturas, esculturas, fotografias ocupam o sobrado, mostrando a diversidade e a vitalidade da produção local, inclusive com materiais menos vistos em galerias convencionais, como tecelagem e obras em cerâmica.
“Queremos que as pessoas sintam que a arte é parte do cotidiano, que ela não está distante ou inacessível”, propõe Roberta Aguiar Tomaz, arquiteta e empresária à frente do projeto. A galeria, que abre as portas ao público neste sábado (15), promete ser um ponto de encontro para amantes da arte, com uma proposta curatorial que dissolve as barreiras entre o tradicional e o contemporâneo.

“A gente quis ter um mix de artistas consagrados, como o Roberto Galvão, que tem 60 anos de arte, e artistas que estão com um ano de arte. Roberta abriu as portas e abraçou essa possibilidade, mesmo que, talvez, fosse mais fácil para uma galeria só ter artistas que já tenham nome, já estabilizados. Ela permitiu que outros artistas também tivessem essa possibilidade de apresentar seus trabalhos. Isso é muito bonito”, ressalta Andréa Dall’Olio, curadora da galeria.
A exposição “Ecos do Tempo Presente” é um convite para refletir sobre as raízes da arte regional e sua influência no presente, além de democratizar o fazer artístico. Tanto que 50% dos artistas em exposição são mulheres – algo raro de se encontrar em exposições coletivas, sejam permanentes ou temporárias. Sem falar na preocupação com a vendagem das obras. “A gente precisa falar sobre o cuidado com o artista, porque ele precisa de espaços de venda. E, para isso, precisa-se que as pessoas conheçam os artistas. É um trabalho em que a Roberta, desde o começo, deu voz a eles”, reflete Andrea, que trouxe à galeria uma gama de operários da Arte com quem vem trabalhando há anos, como Alan Oliveira, Bosco Feitosa e as irmãs Silania e Jacinta Cavalcante.
Mas a Artesano não se limita ao contemporâneo. Passando por esta primeira exposição e seguindo por um jardim igualmente contemplativo, o Espaço Cultural Vicente Leite abriga a exposição Ecos do Tempo Passado, uma homenagem a ícones cearenses, como Antônio Bandeira, Chico da Silva e Vicente Leite.
Cultivando talentos

Além das exposições, a Artesano se propõe a ser um local de formação e troca. Oficinas, cursos de história da arte cearense e programas de acompanhamento para artistas estão entre as atividades oferecidas. Os jardins e as salas privativas, no primeiro andar, também estarão disponíveis para eventos privados, como lançamentos de livros, saraus e apresentações musicais, reforçando o compromisso da galeria em ser um polo de cultura e entretenimento. Em breve, o número 743 da rua Vicente Leite ainda terá um café, a ser locado, além de uma adega no porão do sobrado! “A ideia é de um fim de tarde com arte, música, uma fogueira e um vinho”, revela Roberta.
Sonho em forma de galeria
A relação de Roberta com a arte vem da infância, quando passava as férias na casa dos avôs e fazia cursos de crochê: “Até aquele trabalho dos vaqueiros, para mim, também era arte. E, até hoje, em toda viagem que eu faço, o primeiro ponto é sempre um museu. Então, acho que essa inquietude está dentro de mim desde muito cedo”. Assim como todos os que possuem uma alma de artista, não demorou muito para que a vida corporativa fosse deixada de lado em prol do alimento da alma. Foi quando a arquiteta fechou o escritório de consultoria e, com o apoio da família, montou a Artesano.
A Artesano nasceu de um projeto de Mestrado de Roberta, que estudava diversas manifestações culturais do Cariri. “Veio muito da arte popular cearense., até por conta dos artistas do Cariri com os quais eu convivi, que tenho carinho e até hoje mantenho contato. Quando eu fui ao ateliê da Andrea, que ela me apresentou as obras do Bosco, da Jacinda e de tantos outros nomes incríveis, eu disse: ‘Andrea, neste momento a Artesano está dando uma virada de chave’”, diz a arquiteta.
E quando perguntada sobre qual a visão sobre o espaço para os próximos anos, a resposta de Roberta é clara: “Eu consigo ver vários artistas cearenses nascendo aqui na Artesano, estourando no mundo. E eu vejo uma residência artística aqui dentro. Vejo, em breve, a Artesano de portas abertas para o Brasil, para ter trocas e para a gente conhecer gente nova”.
Quem visitar a Casa Galeria, perceberá que o espaço vai além. É um lugar onde a arte respira, onde o passado e o presente dialogam e onde o futuro da cultura cearense está sendo escrito. “Aqui, a arte não é só para ser vista, mas vivida. A vida é arte e a arte é vida”, resume Roberta.
Assim como esta que vos escreve saiu de lá com uma mente em completa ebulição, será difícil para você, caro leitor, não sair de lá igualmente inspirado. E uma coisa é certa: ainda veremos a história da arte cearense sendo reforçada dentro daquelas paredes de tijolo maciço.
serviço
Artesano Casa Galeria
Abertura: neste sábado (15), até as 18h
Na Rua Vicente Leite, 743 – Meireles
Funcionamento de segunda a sexta, das 9h às 18h, e aos sábados, das 9h às 12h
Informações pelo telefone (85) 99141-8600 e pelo Instagram @artesanogaleria
Local com acessibilidade espacial