Em cartaz desde o dia 10 de setembro, no Museu de Arte Contemporânea do Ceará (MAC-CE), no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC), a itinerância da 35ª Bienal de São Paulo, intitulada coreografias do impossível, será estendida até o dia 1º de dezembro. Com recursos de acessibilidade sensorial, a mostra segue com visitas gratuitas de quarta a sexta, das 9h às 18h, e das 13h às 18h aos sábados, domingos e feriados, sempre com último acesso às 17h30.
A partir de fotografias, instalações, vídeos, esculturas, desenhos, bordados e outras expressões artísticas, a exposição com curadoria de Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel reúne trabalhos como a Cozinha Ocupação 9 de Julho – MSTC e os artistas Deborah Anzinger, Denilson Baniwa, Gabriel Gentil Tukano, Katherine Dunham, Leilah Weinraub, MAHKU (Movimento dos Artistas Huni-Kuin), Maya Deren, Melchor María Mercado, Nadir Bouhmouch e Soumeya Ait Ahmed, Nontsikelelo Mutiti, Nikau Hindin, Rosa Gauditano, Simone Leigh e Madeleine Hunt-Ehrlich.
Segundo a gestora do MAC-CE, Cecília Bedê, a mostra, que já recebeu quase 8000 visitantes desde a abertura, evidencia um conjunto potente de obras de artistas de diferentes nacionalidades que instigam o espectador a atentar para problemáticas sociais, ambientais e culturais da contemporaneidade. “Ficamos muito felizes com a possibilidade de ampliar o período de visitação, pois é uma oportunidade para que residentes de Fortaleza e turistas possam conferir, gratuitamente, essa primorosa seleção que tivemos o privilégio de receber, entre apenas onze cidades brasileiras”, celebra a gestora.
Ações educativas
Além da visitação, o MAC-CE também segue com ações que dialogam com a exposição. No dia 23 de novembro, das 14h30 às 17h30, no espaço da ocupação Cozinha Ocupação 9 de Julho – MSTC (1º andar), será realizada a oficina “(Re)tintar: por um Olhar do Afeto – Oficina de Autorretrato Abstraído” com os educadores Mariana Santos e Felipe Teles. Com objetivo de proporcionar uma autorretratação afetuosa a corpos pretos e pardos como possibilidade de resistência às práticas e comportamentos violentos impostos pela sociedade racista, a oficina educativa convida especialmente pessoas negras-pretas e negras-pardas, com idade a partir de 14 anos, a exercitar um olhar afetuoso para si, através da produção artística de autorretratos abstraídos. Com 20 vagas, as inscrições gratuitas vão até o dia 21 de novembro e podem ser feitas através do link bit.ly/retintarmacce.
Já no dia 30 de novembro, das 15h às 17h30, na sala expositiva com trabalhos de Deborah Anzinger (também no 1º andar), será realizada “A afro-abstração de Deborah Anzinger como um recipiente para a realidade: oficina de colagem abstraída com plantas e espelhos”, ministrada pela educadora museal Marianne Bonfim. Pensando a importância da acessibilização de conhecimentos para a prática artística atrelada à promoção do diálogo acerca de temas como corpo, identidade e ancestralidade negra, a arte-educadora propõe a troca de experiências e saberes voltados para a linguagem da colagem abstraída, utilizando matéria orgânica e fragmentos de espelhos, tendo como referencial os trabalhos da artista afro-jamaicana Deborah Anzinger. Limitada a 20 vagas para pessoas com idade a partir de 14 anos, a oficina tem acesso gratuito mediante inscrição via formulário on-line bit.ly/colagemabstraídanomacce, disponível entre 15 e 25 de novembro.
Sobre o acervo
Entre os destaques, a curadoria traz para Fortaleza o coletivo Cozinha Ocupação 9 de Julho, do Movimento dos Sem Teto do Centro (MSTC), que apresenta a rede multidisciplinar que atua desde 2017 com políticas de redistribuição, lixo zero e uma grande preocupação com segurança alimentar, dando visibilidade à luta por moradia em São Paulo.
O colorido das peças vívidas do coletivo MAHKU não passa despercebido por quem visita o Museu. Integrado pelos artistas Ibã Hunikuin, Kassia Borges Karaja, Acelino Hunikuin, Bane Hunikuin, Mana Hunikuin, Itamar Rios, Yaka Hunikuin e Cleudo Hunikuin, o coletivo apresenta pinturas que trazem traduções visuais dos cantos sagrados Huni Meka, reverberando o ativismo cultural e a preservação das terras dos povos originários.
Os trabalhos de dois amazonenses também integram a coletiva. Gabriel Gentil Tukano, falecido em 2006, que perpetuam a cosmogonia Tukano e a sacralidade do território ancestral, e Denilson Baniwa, que no conjunto de trabalhos Kaá, Itá e Tatá, faz referência às práticas ancestrais dos povos Baniwa face aos ataques mitológicos e estruturais enfrentados por sua comunidade.
Uma forte presença feminina marca a coletiva. A coreógrafa Katherine Dunham, por exemplo, pioneira da dança moderna, tem apresentados seus registros em vídeo sobre ritmos e gestualidades na região do Caribe, entre 1940 e 1960. Em Shakedown (2018), Leilah Weinraub documenta a vida e a cultura de um clube de strip-tease lésbico em Los Angeles, que resulta num filme-experiência íntimo, ousado e celebrativo da lesbiandade afro-americana. Também pode ser visto Meditation on Violence [Meditação sobre a violência] (1948), de Maya Deren, um dos grandes nomes do cinema experimental, que explora a dança e a temporalidade.
Já Simone Leigh e Madeleine Hunt-Ehrlich, no filme Conspiracy [Conspiração], reforça as redes de solidariedade produzidas secularmente como espaços de insurgência das mulheres negras e feministas nas diásporas africanas, suas múltiplas configurações, estratégias e chaves coletivas.
Oportunidade ímpar para conferir Vidas proibidas, fotografias de Rosa Gauditano que ganham nesta 35ª Bienal a sua primeira exposição. A série traz registros de comunidades lésbicas em São Paulo na década de 1970, ainda no período da ditadura militar, que, com a luta pela liberdade sexual, resistência e o orgulho, fez frente aos anos de repressão.
Também merecem atenção as obras da jamaicana Deborah Anzinger, cujo trabalho transita entre a linguagem e a materialidade, explorando binários que se opõem e se constituem mutuamente.
Responsável pela concepção da identidade visual da 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível, a artista visual e educadora Nontsikelelo Mutiti propõe um mergulho nos significados das tranças e dos cabelos como um dos elementos da diáspora africana que carregam não só sentidos políticos e estéticos, mas subjetivos, que dizem muito sobre o cotidiano, as experiências e da história das pessoas negras na diáspora.
No Álbum de paisajes, tipos humanos y costumbres de Bolivia [Álbum de paisagens, tipos humanos e costumes da Bolívia], produzido nos primórdios da República da Bolívia, são apresentadas as aquarelas pintadas por Melchor Maria Mercado durante suas viagens pelo território boliviano, agora exibidas fora do seu país natal.
Os diferentes formatos dos trabalhos da dupla Nadir Bouhmouch e Soumeya Ait Ahmed constituem um espaço expandido das artes e das tradições orais das comunidades Amazigh do norte da África, remetendo a uma praça central, lugar de encontro e relação.
No projeto Maramataka: The Stellar Lunar Calendar. De-colonising Time [Maramataka: O calendário estelar lunar. Decolonizando o tempo], de Nikau Hindin, junto a um grande aute (tecido obtido a partir de um longo processamento da casca da amoreira) suspenso, há um conjunto de cartas celestes que descrevem em trezes meses lunares o ano maori em curso. Se antes esses mapas serviram para orientar os sistemas de navegação e colheita, hoje eles ressurgem como contraponto à noção ocidental, linear e progressiva do tempo.
Sobre a 35ª Bienal de São Paulo
A itinerância em Fortaleza da 35ª Bienal de São Paulo – coreografias do impossível é fruto de parceria entre a Fundação Bienal de São Paulo e o Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura, e o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, por meio do Museu de Arte Contemporânea do Ceará, gerido pelo Instituto Dragão do Mar (IDM). É apresentada pelo Ministério da Cultura, o Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas, e o Itaú, e tem assinatura da J.Macêdo.
Sobre a Fundação Bienal de São Paulo
Fundada em 1962, a Fundação Bienal de São Paulo é uma instituição privada sem fins lucrativos e vinculações político-partidárias ou religiosas, cujas ações visam democratizar o acesso à cultura e estimular o interesse pela criação artística. A Fundação realiza a cada dois anos a Bienal de São Paulo, a maior exposição do hemisfério Sul, e suas mostras itinerantes por diversas cidades