Pensada para facilitar a realização de obras audiovisuais em vias e equipamentos públicos da capital, a Fortaleza Film Commission segue ganhando corpo, com participação de múltiplos setores. Integrante do comitê, Joana Limaverde falou ao O Otimista sobre o atual status do projeto e ganhos possíveis a partir da aprovação da iniciativa
Danielber Noronha
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O turismo cinematográfico tem ganhado cada vez mais popularidade mundo afora, apelando para o desejo do público de se sentir mais próximo dos cenários de séries, filmes e demais produções. Vendo este movimento, Fortaleza trabalha para criar um ambiente propício para a realização de obras nas vias e equipamentos públicos. Denominada Fortaleza Film Commission (Comissão fílmica), a iniciativa capitaneada pela Prefeitura de Fortaleza, em conjunto com outros órgãos, busca atender a uma demanda antiga do audiovisual local, que pede uma política de estado contínua, que passa pela valorização dos agentes envolvidos e da possibilidade de fazer fluir a sétima arte pelos quatro cantos da cidade. Um dos nomes empenhados em fazer o projeto sair do papel é a atriz, diretora de cinema e apresentadora Joana Limaverde.
“Estamos finalizando o texto do decreto que irá oficializar o funcionamento da Fortaleza Film Commission e estudando meios para contratação da consultoria para implementação”, atualiza Joana. Ela aponta o papel da indústria do audiovisual como um setor estratégico, levando em consideração a geração de renda para diversos setores, como turismo, construção civil e alimentício. “Fazer parte dessa iniciativa da Secultfor me faz crer que minha experiência de 30 anos no mercado audiovisual do eixo RJ/SP pode agregar muito às experiências do setor cearense”, projeta. Nesta entrevista, ela dá detalhes do atual estágio do projeto e, ainda, aponta uma série de ganhos à economia do município, caso a proposta seja aprovada com êxito. Confira!
O Otimista – Além de você, quantas pessoas atuam atualmente no comitê formado para a implantação da Film Commission?
Joana Limaverde – Formamos inicialmente um grupo de trabalho multidisciplinar com representantes que atuam em diversas frentes: SetFor [Secretaria de Turismo de Fortaleza], Sefin [Secretaria Municipal das Finanças de Fortaleza], Câmara Setorial do Audiovisual, SDE [Secretaria de Desenvolvimento Econômico], CitiNova, Vila das Artes, CUCA, Cine Ceará/UFC, e membros da Secultfor [Secretaria da Cultura de Fortaleza]. A ideia é descentralizar o discurso, tendo consciência de que é algo que percorre as mais diversas temáticas e setores.
O Otimista – Como se sente em fazer parte de uma iniciativa que pode fortalecer o segmento do audiovisual local?
Joana – É uma missão muito importante e uma demanda de décadas do setor audiovisual local. Historicamente, políticas públicas voltadas para o mercado audiovisual são frágeis e correm risco de se extinguirem com o passar dos governos. Por isso, é importante a implementação de uma política pública de estado perene, para fortalecer a indústria do audiovisual, que é um setor estratégico por empregar e gerar renda para diversos outros setores, como turismo, construção civil, alimentício e da cadeia da economia criativa. Portanto, fazer parte dessa iniciativa da Secultfor me faz crer que minha experiência de 30 anos no mercado audiovisual do eixo RJ/SP pode agregar muito às experiências do setor cearense, e, dessa forma, atender suas demandas da melhor forma possível.
O Otimista – Quando e como surgiu essa empreitada?
Joana – Desde os anos 1980 se pretendia criar um polo industrial de audiovisual no Ceará, já com o entendimento de que o turismo cinematográfico gera renda e emprego em grande escala, quando comparado a outras linguagens artísticas, e atrai mais investimentos e prosperidade para a região. Hoje em dia muito se fala em soft power, mas esse conceito é usado na prática há pelo menos 70 anos nos EUA, retratando seus filmes em Nova York, Hollywood e levando para todo o mundo o ‘American Way of Life’. Nos anos 1990, por um período, funcionou o Bureau de Cinema, em Fortaleza, que cumpria basicamente os objetivos de uma Film Commission. Mas infelizmente a iniciativa não prosperou. Desta vez pretendemos, por meio de diálogos descentralizados, encontrar possibilidades que fortaleçam o mercado e possam prosperar com a devida previsibilidade.
O Otimista – Quais são os objetivos da Fortaleza Film Commission?
Joana – O principal objetivo de uma Film Commission, termo utilizado internacionalmente, é facilitar e centralizar as permissões e licenciamentos para filmagens em vias e equipamentos públicos. Cada Film Commission tem suas particularidades, porém, outro fator importante é criar um ambiente film friendly, ou seja, uma cidade amigável para o cinema, que abra portas na região para atrair mais produções audiovisuais, gerando lucros não somente para o mercado audiovisual, já que 70% do orçamento de uma obra audiovisual é distribuído para outros 68 segmentos da economia. Desta forma, se emprega numa única produção centenas de profissionais e serviços antes, durante e depois do processo de filmagem. Tendo em vista essa grande movimentação, a Film Commission passa a ser estratégica, não só para a cultura da cidade, mas para a economia do município.
O Otimista – No momento, estão em qual fase do projeto?
Joana – Estamos finalizando o texto do decreto que irá oficializar o funcionamento da Fortaleza Film Commission e estudando meios para contratação da consultoria para implementação.
O Otimista – Vocês atuarão nas frentes de formação, produção e difusão, certo? Pode detalhar o que deve consistir em cada uma delas?
Joana – Entendemos que a criação de políticas públicas para o setor também irão garantir maior crescimento socioeconômico e impulsionar o turismo local. Todo esse projeto será detalhado em seus pormenores durante o processo de consultoria para implementação e regulamentação da Fortaleza Film Commission, nosso próximo objetivo após a aprovação do decreto.
O Otimista – Já é possível projetar uma data para a Film Commission ser lançada oficialmente ou ainda é cedo para para isso?
Joana – O lançamento aconteceu no ano passado, durante o Cine Ceará, em evento na Fiec [Federação das Indústrias do Estado do Ceará]. Agora estamos aguardando os trâmites regulares para a contratação da consultoria. Com a consultoria contratada, o processo leva em torno de um ano para ser implementado.
O Otimista – Caso seja aprovado, quais ganhos você projeta para a fruição da arte na capital?
Joana – Tomando por base o exemplo da SP Film Commission, que é, no Brasil, o melhor exemplo de consolidação de uma Film Commission, sendo a segunda maior da América Latina, os números são extremamente relevantes para a economia do município. Mas guardando as devidas proporções, os dados são bastante animadores. A fonte é a Consultoria Internacional de Indústrias Criativas. Segundo o levantamento, a cada R$ 1 investido na Film Commission de São Paulo, há o retorno de R$ 20 ao município. Em seis anos de implementação em SP, foram R$ 2,6 bilhões de orçamentos de produções, mais de 100 mil empregos diretos, 250 mil empregos indiretos e R$ 6 bilhões gerados para outros setores, à partir do audiovisual. É importante ressaltar que são números de São Paulo, mas que nos ajudam a ter um panorama positivo para a implementação em Fortaleza.
O Otimista – Indo além, é possível pensar também em ganhos para o turismo à medida em que as paisagens de Fortaleza apareçam em produções cinematográficas?
Joana – Nossa perspectiva é trabalhar para que os mais diversos setores possam ganhar com isso. Estamos lançando um olhar macro para o audiovisual, vendo como investimentos a curto, médio e longo prazos. Prospectamos, sim, ganhos para o turismo, à medida em que a gente vai receber equipes para as produções e que Fortaleza seja um cenário cobiçado a partir destas produções. Vemos muito potencial!