Com lançamento nesta terça (26), no Teatro Dragão do Mar, fotolivro Lágrima mostra o que sobrou da Velha Jaguaribara, evacuada e inundada para a construção do açude Castanhão
Sâmya Mesquita
samya@ootimista.com.br
Dizem que as imagens falam mais do que mil palavras. Então o fotolivro Lágrima, do fotógrafo Fernando Jorge, deve declamar poemas para aqueles que presenciaram as ruínas da Velha Jaguaribara em seu auge.
Lágrima reúne histórias e reflexões visuais ao longo de 63 imagens, fotografadas entre 2015 e 2020. Elas percorrem as águas do açude Castanhão, reservatório situado no leito do Rio Jaguaribe.
O livro será lançado no Teatro do Dragão do Mar, em Fortaleza, nesta terça-feira (26), com conversa com os presentes às 19h30 e sessão de autógrafos às 20h30. A compra pode ser feita no hall do teatro por R$ 100.
A velha Jaguaribara
Jaguaribara situava-se na região do Médio Jaguaribe, a 287 km de Fortaleza. O Castanhão foi apresentado como a principal estrutura para, em períodos de seca, assegurar o abastecimento hídrico da Região Metropolitana de Fortaleza. Então, em 2001, Jaguaribara teve dois terços de seu território inundado. No entanto, nos últimos anos, por conta de longos períodos de estiagem, o nível das águas foi descendo. Por isso foi possível não só ver as ruínas, mas rememorar vivências da velha cidade.
Ao O Otimista, o fotógrafo e professor da Casa Amarela (UFC) Fernando Jorge fala que acompanhou o processo de desocupação e posterior estiagem nos noticiários. Até que surgiu o interesse artístico em visitar o local e fazer registros visto que, segundo ele, suas fotos giram em torno da ação do tempo sobre as coisas e as pessoas.
O fotógrafo conta que o que mais o surpreendeu foram os rastros de vida que ficaram no local, como placas de casas, pedaços de bonecas, telhas, somados a uma paisagem que antes fora aquática. “Toda vez que eu ia, encontrava um cenário diferente por conta da seca”, relembra.
“O que sempre me perguntam é: ‘E os habitantes da velha Jaguaribara? Eles viram as suas fotos? O que eles acharam?’ E aí eu mostrava alguma coisa. Via de regra, a resposta a essas fotos era o silêncio”, diz o artista.
Para Fernando Jorge, o trabalho artístico também tem um viés político, de protesto, já que a questão da água é muito urgente e sensível para os nordestinos. “Imagina uma pessoa que passou 60, 70 anos morando num mesmo lugar. Tem toda uma relação de memória e de identidade com aquele espaço. E por vezes a arbitrariedade do Estado não leva isso em conta”, reflete.
Serviço
Lançamento do fotolivro Lágrima, de Fernando Jorge
Data: Terça-feira, 26 de julho
Horário: 19h30
Local: Teatro do Dragão do Mar. R. Dragão do Mar, 81 – Praia de Iracema
Valor do livro: R$ 100,00
Entrada gratuita