Renno Poeta é o cantor e compositor cearense que escreveu inúmeros hits que o público escuta na voz de artistas como Wesley Safadão, Marília Mendonça e Gusttavo Lima. Em entrevista, ele fala do processo de composição de seus sucessos
Naara Vale
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Cantor, multi-instrumentista, compositor. São muitos os papéis protagonizados pelo músico Renno, mais conhecido como Renno Poeta. Apresentado aos teclados aos oito anos, ele não largou mais a música. Começou tocando em aniversários infantis, foi para bandas maiores, tocou em bares e restaurantes, festas grandes, acompanhou artistas renomados, fez faculdade de música, até montar a dupla com o ex-parceiro Ítalo, com quem tocou durante 14 anos.
Em 2019, Renno deu início à carreira solo e “enveredou pelo mercado nacional” de vez, como diz. Mas antes mesmo disso, há cerca de quatro anos, Renno começou um trabalho que hoje faz dele um dos compositores mais gravados por grandes artistas nacionais, como Wesley Safadão, Marília Mendonça, Bruno e Marrone, com hits que vêm batendo recordes nas rádios e plataformas de streaming. Ao todo, já são quase 350 composições gravadas. Só na voz de Wesley Safadão são 47 canções, entre elas o sucesso “Ar Condicionado no 15”.
No próximo dia 17 de janeiro, ele lança nas plataformas digitais seu primeiro single de carreira solo, “Pegada do Roceiro”, que terá participação especial de Safadão. A canção vai integrar o seu novo álbum homônimo, que será lançado ainda este ano. Em entrevista exclusiva ao O Otimista, Renno falou sobre esse processo intenso de criação de grandes sucessos e o orgulho de ouvir suas canções na voz do público.
O Otimista – Conta um pouco como foi seu início de carreira? Com que idade e como você começou na música?
Renno – Comecei a tocar com 8 anos de idade quando ganhei meu primeiro teclado e comecei a estudar. Depois, comecei a tocar em aniversários infantis, festa de criança. O próximo passo foi entrar na igreja e, aí, participei de algumas bandas. Com 14, 15 anos, comecei a tocar na noite de Fortaleza, tocava em bares, pizzarias, aniversários e casamentos. Daí comecei a acompanhar alguns artistas locais até chegar o momento de entrar na faculdade, com 16 anos. Sou formado em música – piano. Lá na faculdade, comecei a tocar música instrumental, que era jazz, música erudita, música clássica no piano, bossa nova e, ao mesmo tempo, tocando alguns artistas cearenses. Na faculdade, conheci o Ítalo e foi aí que a gente montou a nossa dupla “Ítalo e Renno”, que inicialmente era um trabalho de música instrumental, só de jazz. Aí comecei a me interessar pela sanfona, praticamente já depois de formado. Comecei a acompanhar alguns artistas, participei de alguns eventos com o Dominguinhos, Waldonys, Adelson Viana, até que participei da banda do Nonato Luiz e o Fagner me viu tocando e me convidou para tocar na banda dele. Lá eu tocava piano e sanfona. Fazendo parte dessa banda do Fagner, conciliava com a dupla Ítalo e Renno. Passei dois anos e meio na banda do Fagner e saí para me dedicar à dupla. Passei 14 anos com a dupla. Antes de terminar a dupla, já fazia um trabalho de composição. Há uns quatro anos estou no mercado de composição.
O Otimista – Em 29 de setembro de 2018, vocês anunciaram o fim da dupla Ítalo e Renno, com quem fez parceria durante 14 anos. O que mudou na sua carreira depois que seguiu em trabalho solo?
Renno – Eu já vinha desenvolvendo um trabalho que, eu não digo solo porque a gente era dupla, mas eu escolhi um caminho e o Ítalo, outro. Mas graças a esse entendimento e essa parceria que a gente tinha, acabou a dupla numa boa, foi uma decisão completamente acordada pelos dois. A gente resolveu seguir caminhos diferentes. Eu resolvi enveredar pelo mercado nacional, eu queria uma coisa que levasse a minha música mais longe, que não ficasse só na seara regional, só no Ceará. Então eu comecei a compor e viajar sozinho mesmo. Comecei a conhecer alguns artistas e foi quando comecei a gravar com esses artistas que hoje cantam as minhas músicas.
O Otimista – O que você quer dizer com “resolveu enveredar pelo mercado nacional”? Você mudou o seu estilo? O que você precisou fazer para alcançar isso?
Renno – A gente continuou com a dupla, mas de segunda a quarta, quando não tinha shows, eu pegava a minha sanfoninha, entrava num avião e ia bater em Goiânia e ia conhecer alguns artistas. Então, o mercado nacional me foi apresentado dessa forma. Comecei a conviver com artistas, comecei a escrever músicas que não eram só forro. Quando eu digo mercado nacional é que não era só forró. Comecei a compor para o sertanejo, para o pagode, para o funk, comecei a compor baladas para uma dupla, por exemplo, que eu sou muito fã que é o Bruno e Marrrone.
O Otimista – Já são quase 350 composições lançadas nacionalmente, com inúmeros sucessos gravados por nomes como Wesley Safadão, Marilia Mendonça, Gustavo Lima… Como suas letras ficaram conhecidas por esses artistas?
Renno – A porta de entrada foi uma música chamada “Ar condicionado no 15”. Foi a minha primeira canção que bateu primeiro lugar nas rádios do Brasil e permaneceu por 90 dias. Depois que você compõe um hit como esse, naturalmente os artistas começam a buscar os compositores e ficam querendo que a gente faça uma dessas para ele. Depois vieram várias [músicas] com vários artistas e eles começaram a beber da minha maneira de compor, que é uma mistura do que tem no Nordeste, do que tem no Sudeste e do que tem no Centro-oeste.
O Otimista – Existe uma fórmula mágica para criar letras que caiam no gosto do público?
Renno – Quando os cartógrafos vão fazer um mapa, eles facilitam a vida da gente. Eles fazem desenhos que as pessoas leigas entendam. A música é meio que isso: é como desenhar um mapa para que as pessoas que escutem e entendam com facilidade. Então, o segredo é você tentar ser simples. Ser simples é mais difícil do que ser complicado. Difícil é você pegar uma situação complicada de descrever e transformar em uma coisa fácil, natural, cotidiana. Se eu tivesse que dar uma dica para os novos compositores seria: seja simples.
O Otimista – Como é o seu processo de composição? Há um momento de sentar para escrever?
Renno – Não é tão engessado como um trabalho em escritório, mas a gente sempre se isola. Geralmente, às segundas, terças e quartas – que eu não estou fazendo show – vou para Goiânia, São Paulo e algum lugar no próprio Ceará, mais isolado, vou sozinho ou com a minha turma e a gente começa a raciocinar e tentar escrever o que as pessoas querem ouvir. A gente começa a escrever histórias da vida real e essas histórias começam a entrar na cabeça das pessoas. E quando você acerta muito numa história que as pessoas estão querendo ouvir e ela é bem escrita e é simples, elas se tornam hits.
O Otimista – As músicas são escritas sob encomenda ou você escreve e depois apresenta aos cantores?
Renno –As duas coisas. Em via de regra, a gente escreve descompromissado e vai mostrando aos artistas uma seleção de 10 músicas. Ele escuta as 10, escolhe a que achou legal, vai para o estúdio e faz uma prévia dela, e se encaixar bem na voz dele, ele grava. Então, é uma peneira muito grande até você chegar no topo, num primeiro lugar, por exemplo, do Spotify, como foi a música da gente gravada pela Marília Mendonça, “Todo mundo vai sofrer”. Ela é a música recordista do Spotify. É a que ficou mais tempo em primeiro lugar no Brasil de todos os tempos. A gente bateu esse recorde em 2019 e foi indicado à música do ano também no prêmio Multishow. Então, até chegar a esse ponto da artista ouvir os compositores, e desses compositores ela escolher 30 músicas, fazer outra peneira que viram 15 e dessas 15, o público abraçar uma e essa uma conseguir reverberar, são muitas etapas.
O Otimista – Existe alguma canção que é o seu xodó e que você se orgulha mais de ter escrito?
Renno – Poderia citar algumas porque cada uma tem um estilo diferente, mas “Todo mundo vai sofrer”, da Marília Mendonça, “Ar condicionado no 15”, do Safadão, “Na conta da loucura”, do Bruno e Marrone, que foi a primeira canção gravada por eles, “Quem pegou pegou”, do Henrique e Juliano também é um marco muito grande porque eu acho que foi uma das canções que mais teve execução no Youtube dentro das primeiras 24 horas de lançamento, bateu 8 milhões de visualizações. Tem várias que eu tenho um carinho. Na realidade, a gente sempre trata cada uma como se fosse filha.
O Otimista – Qual o sentimento que te dá quando você vê uma canção sua na voz do público?
Renno –Eu lembro lá atrás quando eu escrevia só para mim. Quando eu escrevia e ninguém queria ouvir aminhas músicas. Então, quando eu escuto uma música que eu escrevi sendo cantada por milhões de pessoas, eu entendo que é só uma questão de tentativa, de não titubear, não desistir do projeto, do sonho e que a música é muito mais do que as pessoas lhe rotulam. Quando você faz com o coração, quando foca naquilo querendo fazer bem feito, querendo ou não, ela estoura, não tem jeito.
O Otimista – Hoje em dia é muito difícil diferenciar quem é do sertanejo e quem é do forró. Os artistas e os ritmos se misturaram de uma forma que fez nascer o “forrónejo”. Hoje em dia como você se define?
Renno –A única coisa que eu não posso negar é que eu sou sanfoneiro. Na sanfona eu tocava música erudita, tango, o que quer que seja. Então, não posso ser rotulado. Hoje eu sou um cara que gosta de tocar música boa, música que faz feliz, música que abra o sorriso das pessoas. Sou uma cara de toca sanfona e canta, sou um cantor sanfoneiro. Independente do estilo, meu show é para pessoas que gostam de alegria, de ser felizes, extravasar. Eu não canto para mim, canto para as pessoas, então, o que elas quiserem ouvir, eu tô dentro.
O Otimista – Você vai entrar agora em estúdio para gravar um novo álbum. Fala um pouco desse novo trabalho.
Renno – Vou lançar dia 17 de janeiro meu primeiro single carreira solo com participação do Wesley Safadão nas plataformas digitais, no youtube. O nome da música é “Pegada do roceiro”. Uma música pra cima que tem uma linguagem meio nordeste, meio sudeste, meio centro-oeste… eu fiz uma música para ficar numa linguagem bem nacional. Ela conta um pouco da minha história porque pessoas desacreditadas que fazem com amor, elas são vistas. Na verdade, é uma história de amor que eu quis trazer aquele cara que deu a volta por cima sem ter grana, sem ter nada, mas que conquista as pessoas através do amor. A música vai ser o carro-chefe do cd que terá o mesmo nome e também será lançado dia 17.