Com peças que celebram a cultura nordestina e técnicas artesanais, Marina Bitu ganha espaço na moda brasileira ao transformar memórias afetivas em roupas. A grife cearense, que une design sofisticado, responsabilidade social e uma narrativa que valoriza raízes, se prepara para retornar à passarela do São Paulo Fashion Week em abril
Sâmya Mesquita
samyamesquita@ootimista.com.br
Imagine uma marca que transforma memórias afetivas em roupas, misturando tradição, arte e contemporaneidade. É assim que Marina Bitu, fundada há oito anos pela estilista cearense de mesmo nome, vem conquistando espaço no cenário da moda nacional. Com peças que celebram a cultura nordestina e técnicas artesanais, a marca se destaca por sua abordagem única, que une design sofisticado e responsabilidade social.
A história de Marina Bitu, que atua como designer desde 2009, é marcada por uma conexão profunda com as raízes cearenses. Tanto que tudo começou em um ateliê modesto, em 2017, em Fortaleza, com a estilista à frente das criações. “Tinha o desejo de criar roupas que tivessem um significado maior na história de quem usaria, como mais ou menos era a história das roupas das nossas avós”, explica Marina em entrevista exclusiva ao Tapis Rouge.
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Em 2019, Cecília Baima entrou no negócio após uma temporada em Lisboa. “Já era amiga da Marina há muitos anos. Nos encontramos nesse momento em que ela saiu do formato de ateliê e passou a atuar como marca no mercado”, relembra a agora sócia e diretora comercial da marca. Juntas, participaram do projeto Novos Designers, do Shopping Iguatemi Bosque. “A gente já saiu na Vogue e em outras revistas importantes, o que impulsionou muito a marca no começo”, conta.
Conquistando o Brasil
O diferencial de Marina Bitu está na capacidade de traduzir a cultura nordestina em peças contemporâneas e desejáveis. “Eu tenho um entendimento de uma responsabilidade nossa de atuar na manutenção da nossa cultura”, explica Marina. Como neta de mulheres que valorizavam a memória afetiva das roupas, a designer buscou imprimir nas peças não apenas beleza, mas também histórias: “Antigamente, a roupa não se descartava, porque ela representava um momento, uma memória vivida”. Essa filosofia se reflete até hoje, em coleções que exploram técnicas como o crochê, o bordado e os plissados, sempre com um toque moderno.
Nos últimos anos, Marina Bitu ganhou projeção nacional, com participações em eventos como o São Paulo Fashion Week e o DFB. Marina também destaca a colaboração com a pintora cearense Paula Siebra e a coleção inspirada no Cariri, que trouxe à tona técnicas artesanais da região: “A gente olhou para as associações daquela região e tentou trazer uma narrativa verdadeira e coerente”.
A marca também tem compromisso com a sustentabilidade e a valorização da mão de obra local. “Trabalhar com artesanato, ter uma remuneração justa com os artesãos e trabalhar principalmente com mulheres são valores inegociáveis para nós”, afirma Cecília Baima. Além disso, Marina Bitu adota práticas como o frete neutro e a compensação de carbono, em parceria com instituições de replantio. “A gente tenta minimizar o impacto ambiental, desde a produção até o descarte”, completa.
Futuro promissor
Para o futuro, Marina segue focada em explorar as infinitas possibilidades criativas que a cultura nordestina oferece – inclusive com um mega desfile na SPFW deste ano, marcado para abril. Também há planos de expandir a presença no mercado nacional: “Em 2025, a gente tem prospectado algumas colaborações com outras marcas nacionais que vão trazer ainda mais alcance para a nossa marca”. A expectativa é diversificar os trabalhos com os artesanatos, conhecendo outros grupos e aprofundando essas relações. “É muito importante que a gente vá tornando esse sistema, essa relação cada vez mais complexa e mais completa”, acrescenta a estilista.
Cecília também planeja expandir a grife com a abertura de uma loja física em São Paulo até 2026: “A gente pensa em expandir, mas com passos seguros”. Por enquanto, as compras podem ser feitas pelo site, com entrega para todo o Brasil, ou, no caso das sortudas clientes fortalezenses, com agendamento de uma visita em casa.
Com um trabalho que valoriza a cultura cearense e, por consequência, brasileira, Marina Bitu não apenas cria roupas, mas constrói pontes entre o passado e o presente, entre o local e o global. “Eu acho que nosso trabalho é muito isso: olhar para esse lugar e entender o que é que vai dar aqui nesse pedaço de chão”, reflete Marina. E, com cada coleção, a marca continua a encantar e inspirar, provando que a moda pode ser, acima de tudo, uma forma de contar histórias e valorizar raízes.