Por Marcos Lessa,
cantor e compositor
Os frutos do movimento artístico no Ceará sempre foram pra mim motivo de grande orgulho. Na música, cheguei de forma mais substancial à obra dos compositores cearenses após trabalhar algum tempo com o genial Manassés de Sousa, que considero um padrinho musical em minha vida. Mais ou menos nos idos de 2009, eu ainda começando minha carreira aqui em Fortaleza, o “Mana” me conheceu e me incentivou muito que eu cantasse e ouvisse os compositores cearenses. Assim virei um fã de carteirinha de todos eles. Evaldo Gouveia, Lauro Maia, Fausto Nilo, Petrúcio Maia, Fagner, Belchior, Ednardo, Rodger Rogério e Ricardo Bezerra, só pra citar alguns.
Eu sempre viajei muito pelo Nordeste, desde adolescente, e percebi que o povo cearense é o menos bairrista. O baiano é aquela coisa louca de paixão por ser baiano, o pernambucano da mesma forma e assim também os paraibanos e tudo mais. Então, eu resolvi e assumi diante de mim mesmo que seria um cantor orgulhosamente cearense. A cada ano que passou, fui adquirindo muita propriedade nisso. Acho que minha voz quando estou cantando as coisas da minha terra adquire o melhor tom, o melhor timbre, como se estivesse fazendo o que Deus pensou para ela: cantar o Ceará. Sem falsa modéstia, como também isento de qualquer arrogância, eu ouso sim dizer que sou um dos “últimos dos moicanos” a defender a música cearense, bem como a música brasileira, como eu defendo e graças a Deus tenho tido também muitas oportunidades para fazê-lo.
Celeiro de vozes
Mas não estou só! O Ceará é um canteiro riquíssimo de vozes lindas, exóticas, originais, afinadas e fortes e, infelizmente, nem todos têm a escuta, a atenção e os espaços que merecem. Estamos agora testemunhando em Fortaleza uma mudança de gestão e eu renovo minha esperança em poder ver nossa classe artística mais unida, que possamos nos ajudar mais, nos conhecer mais, para que possamos fazer um “encontro das águas”, unir os públicos, os estilos, as ideias. Eu clamo, espero e peço que os novos gestores da pasta da cultura utilizem cada vez mais e melhor o tanto de equipamentos culturais que temos aqui. Juntando Estado e Município, só em Fortaleza temos os palcos do Anfiteatro e do Teatro Dragão do Mar, o Anfiteatro da Volta da Jurema, o Teatro José de Alencar, o Cineteatro São Luiz e o Teatro São José, que têm o dever de estar a disposição dos nossos artistas. Espero que os gestores façam com que esse recurso possa ser usufruído pelo máximo de artistas aqui, filhos do Ceará.
Eu, quando ainda estava começando a cantar, ficava muito contrariado ao ver pessoas chegando nos lugares de liderança e prestigiando “sua turma”. O gestor é um lugar a serviço do povo, suas opções e preferências pessoais têm que ser colocadas de lado e ele deve se antenar e ter ciência do acervo humano e artístico de sua localidade.
Mais arte na cidade
Essa é minha fé para 2025 e para os anos que virão: ver todos os palcos de Fortaleza inundados de Festivais, de Mostras Culturais, de Jam Sessions, enfim, vivos e utilizados plenamente por todos nós.