Chegando na metade do seu segundo mandato, o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), tem como meta ressignificar o modelo de ocupação urbana da Praia de Iracema. Ele propõe que a região seja uma espécie de distrito de inovação, com menos carros, mais gente na rua, muitos negócios voltados para o turismo e, principalmente, em sintonia com a Economia Criativa, setor ligado à serviços e produtos inovadores, geralmente na área da cultura, e que contemplam identidade e aspectos dos costumes locais. “Queremos que a Praia de Iracema seja um espaço moderno, cosmopolita, preservando a sua história, mas ligada sempre na modernidade e amigável com turista e morador”, resume.
Nesta entrevista, o prefeito também adianta outras novidades que a região deve receber para requalificá-la, assim como o Centro e pontos estratégicos em toda a orla que prometem deixar o litoral de Fortaleza melhor ocupado e mais atrativo.
Tapis Rouge – A Praia de Iracema, além de estar na memória afetiva da maioria dos Fortalezenses, tem dois centros culturais, fluxo contínuo, comércio próprio e muitos moradores. Mesmo assim, passa por processo de degradação urbana. O que a Prefeitura propõe para requalificar a área?
Roberto Cláudio – A Praia de Iracema é um espaço que agrega um conjunto de significados. É a praia querida da cidade inteira, não é apenas de quem vive nela. Com o tempo, com o uso do solo mais vantajoso em outras regiões da cidade, acabou ficando esquecida e hoje tem muitos imóveis desocupados e uma ocupação aquém do potencial dela. Quando começamos a fazer as primeiras intervenções, ainda no primeiro mandato, percebemos que o problema não era apenas obra, mas sim a necessidade de buscar um novo plano de ocupação dela. Queremos que a Praia de Iracema seja um tipo de praia diferente, vinculada à cultura, à economia criativa. Claro que isso envolve melhorar o calçamento, recuperar o calçadão, iluminar mais, mas isso sozinho não vai resolver e devolver a Praia de Iracema da nossa memória.
TR – Vários outros planos foram elaborados nas últimas décadas e fracassaram. O que garante que não vá falhar como os anteriores?
Roberto Cláudio – Se por um lado tem esse abandono, por outro, a Praia de Iracema é um lugar de muita resistência. Muita gente vive e empreende ali, além do grande polo cultural que possui. Por isso resolvemos construir esse plano ao lado da população e formamos o Conselho da Praia de Iracema. Pedimos que moradores, empresários, frequentadores e estudiosos montassem e entregassem ao poder público um plano de desenvolvimento, então não é feito pela Prefeitura somente, mas pela sociedade civil organizada e consiste num conjunto de ações a serem implantadas ao longo de 12 meses, vigorando desde janeiro. Para viabilizar uma maior e melhor ocupação, identificamos todos os imóveis desocupados e conseguimos carência de alguns proprietários, além de termos apresentado um projeto de isenção tributária para negócios ligados à Economia Criativa, para que se estabeleçam naquele quadrilátero negócios como bares, restaurantes, moda e economia da cultura. Temos um conjunto de negócios que devem se instalar ao longo do segundo semestre, sendo umas três ou quatro âncoras.
A ideia é ter um espaço de modernidade, reciclagem, amigável para caminhadas e ciclistas, voltada para a economia criativa, para a modernidade e a tecnologia, amigável para caminhadas e “bicicletadas”.
TR – Além desta política de atração de novos investimentos, a área vai receber melhorias estruturais?
Roberto Cláudio – Também tem o aspecto físico, estamos melhorando o calçamento nas ruas Tabajaras e Pacajus, recuperando o calçadão entre a João Cordeiro e o Poço da Draga, trocando a iluminação, dando condições para que novos negócios se estabeleçam lá. Dentro dessa perspectiva, de um lugar de melhor convivência urbana, também vamos instalar um ecoponto e seis pontos de reciclagem. Queremos até o fim do ano quase a totalidade do lixo com potencial reciclável indo pra coleta seletiva. Também estamos fazendo fiscalizações em todos os imóveis comerciais para regularizar quem não tem alvará ou está com alvará disfuncional. Por fim, teremos um imóvel feito de contêiner, na própria areia, que será uma central de serviços de ordenamento urbano. Lá vai ter Polícia, Agefis e Regional 2 funcionado simultaneamente, ainda em junho. Além dessa unidade, o governador Camilo Santana está escolhendo entre três imóveis que disponibilizamos para abrigar a nova Delegacia do Turista. Ainda na questão da segurança, vamos instalar, não só na Praia de Iracema, mas em toda a orla, torres de segurança com câmeras integradas ao Ciops e ao setor de imagens da Guarda Municipal. Tudo isso vai dar uma nova dinâmica urbana, melhorar a convivência e efetivamente a segurança.
TR – Esta nova dinâmica urbana também contempla pedestres e ciclistas?
Roberto Cláudio – A ideia é ter um espaço de modernidade, reciclagem, amigável para caminhadas e ciclistas, voltada para a economia criativa, para a modernidade e a tecnologia, amigável para caminhadas e “bicicletadas”. Uma das ações nestes 12 meses é o Plano de Mobilidade da Praia de Iracema, que vai melhorar a circulação de pedestres e ciclistas, instalar calçadas mais largas, e regulamentar estacionamentos. Paralelo a isso será instalada uma Área de Trânsito Calmo e instituída restrição de tráfego de veículos em alguns trechos e horários. Mas a grande novidade será um sistema de bicicletas compartilhadas específico para a Praia de Iracema, gratuito para rodar naquele quadrilátero. Já estamos testando esse sistema aqui no Paço Municipal, como uma bicicleta corporativa.
TR – Como funcionará a taxação de eventos na Praia de Iracema e qual o destino dos recursos?
Roberto Cláudio – Por ser uma área muito voltada para esse setor, vamos criar uma taxa de eventos, que vai alimentar um fundo específico para financiar ações na Praia de Iracema. Também seguindo a ideia da boa convivência urbana, os eventos vão ser compartilhados com os moradores por meio de um aplicativo específico para moradores, para facilitar a entrada e a saída deles. Isto demostra que os locais não podem ser revitalizados somente pela mão da economia, queremos que a Praia de Iracema seja viva, inovadora, mas permaneça como local de moradia. O nosso plano não vai resolver tudo em um ano, será ao longo do tempo, mas o meu objetivo é chegar em janeiro, quando completa um ano, e as pessoas olharem a Praia de Iracema e notarem que ela está diferente.
TR – O Museu do Homem do Mar, projetado por Oscar Niemeyer para ser um diamante saindo do mar, na altura do espigão da Rui Barbosa, foi descartado neste planejamento?
Roberto Cláudio – Um projeto do Niemeyer nunca pode ser descartado, certamente seria um ícone, mas o problema dessa obra é o custo. Há quatro anos o projeto passava de R$ 55 milhões, hoje com certeza seria mais de R$ 70 milhões. A despeito de toda a importância, seria um investimento próprio, sem PPP, e no momento é inviável fazer um investimento dessa monta. Então estamos propondo três alternativas para os espigões, que estão em análise, sendo a roda gigante a mais avançada. Vale lembrar que será uma PPP (Parceria Público-privado) e será um ícone da cidade sem que o poder público gaste um único centavo. As outras duas propostas são o heliponto, com restaurante embaixo e espaço de convivência, além de um outro museu, o Museu de Motivações Marítimas, com marina, no espigão do Náutico.
TR – O restante da Beira Mar, excetuando a Praia de Iracema e os espigões, também receberá intervenções?
Roberto Cláudio – A nossa maior indústria de empregos turísticos é a Beira Mar, precisa ser um espaço de inclusão, de oportunidade. Por isso vamos lançar o projeto Beira Mar de Todos. Em junho devemos iniciar a engorda da faixa de praia, em torno de 150 metros, que deixará o Náutico mais ou menos na mesma altura da João Cordeiro. Vamos ter um novo calçadão, com paisagismo, vamos ordenar a feirinha, melhorar a aparência das barracas e a circulação de pessoas.
TR – Recentemente foi inaugurada uma linha de ônibus que liga a Beira Mar ao aeroporto. Outras ações que beneficiam a logística do turista também foram pensadas?
Roberto Cláudio – Vamos inaugurar também em julho o primeiro trajeto de ônibus turístico Hop on Hop off de Fortaleza, fazendo o circuito praia-centro. Em um segundo momento, vamos ter outra linha, fazendo o circuito praia-praias, saindo da zona hoteleira e indo até o Beach Park, passando pela Praia do Futuro. Ou seja: teremos dois itinerários, um histórico e outro mais de lazer.
Também vamos implementar melhorias para os turistas que vêm pra cá por causa das confecções, lançando o Polo Econômico da Moda, que vai integrar José Avelino, recentemente ordenada, o Centro Fashion e o Feirão do Mucuripe, com acessos totalmente requalificados, ônibus circulando e inserido no circuito turístico da cidade, que também vai ganhar em julho outro equipamento: o Teatro São José, que está com obras em conclusão, e a reforma da praça Cristo Redentor, integrando-se ao Dragão do Mar.
TR – O governador Camilo Santana falou em entrevista recente à Tapis Rouge sobre a PPP que será instituída para viabilizar o Acquario. Qual o papel do município neste processo?
Roberto Cláudio – Estamos montando uma operação urbana consorciada chamada Litoral-Centro, pegando um trecho de praia pouquíssimo explorado, que vai do Acquario até a Leste-Oeste. Vamos fazer uma grande operação urbana para atrair investimentos hoteleiros e gastronômicos e permitir construções verticiais, alterando o padrão construtivo. Em troca disso vamos fazer toda uma nova organização dessas praias. O Poço da Draga vai continuar exatamente onde está, só as moradias que serão verticalizadas e a comunidade ganhará plano viário, drenagem, esgotamento sanitário e toda a cidade ganhará uma nova e valorizada área de desenvolvimento. Vamos mandar esse projeto para a Câmara em agosto e a contrapartida exigida será essa, nenhum morador será retirado.
TR – Este trecho será integrado aos projetos que o Governo do Estado prevê para a Estação João Felipe e arredores?
Roberto Cláudio – Fortaleza vai ganhar uma grande esplanada da cultura. A ideia é chamada de Estação das Artes, juntando o “L” que já é do governo com a praça, museus, pinacoteca, área de gastronomia e as encostas nas laterais da Santa Casa e do Centro de Turismo. O Governo do Estado pediu que cedêssemos a Praça da Estação e a requalificação já está sendo licitada pelo governo, acredito que o resultado saia em julho. A área de ônibus será transferida para um terreno que temos ao lado da praça José de Alencar, que também será requalificada até dezembro e vai ganhar um mini terminal de ônibus integrado com o metrô, contemplando os dois modais.
Foto: Eri Nunes