Em 1993, uma pequena ótica tradicional do Centro de Fortaleza resolveu dar um passo a mais e apostar no segmento de shopping center. Na ocasião, a empresária Talyzie Mihaliuc havia acabado de assumir a gestão da então Ótica Santa Luzia e, como já vendia joias de forma autônoma, queria dar uma nova cara ao negócio.
Foi aí que surgiu a Tallis Joias, comandada pelas irmãs Talyzie e Talynie Mihaliuc e pela mãe, Gorete Arruda. Com três lojas, nos shoppings Aldeota, RioMar e Iguatemi, a joalheria é representante exclusiva no Ceará de grifes do porte de Montblanc, Rolex, Bvlgari, Tag Hauer, Tissot e Mido.
Além disso, a marca aposta no Atelier Tallis, com peças autorais criadas pelas irmãs Talynie e Talyzie a partir das ideias trazidas pelos consumidores. De acordo com Talyzie, atualmente quase metade das joias vendidas são autorais. Para ela, a aposta para joias autorais é a brasilidade. “O design brasileiro está novamente em alta, com muito colorido, muitas pedras naturais, e nós estamos apostando nessas tendências”, avalia.
A Tallis também tem uma rede de semi joias de luxo, a Doratto, com seis lojas em Fortaleza e surgida a partir da carência de acessórios de qualidade – necessidade que a alta do ouro, em 1998, mostrou.
A quê você atribui o sucesso da Tallis Joias, que chegou aos 25 anos consolidada no mercado de luxo e com três lojas?
Ao relacionamento que a gente conseguiu estabelecer com os clientes e com os parceiros, e, acima de tudo, a Deus. São relações construídas na confiança e na verdade. A gente – falo de nós três, tanto minha mãe quanto a Talynie – tem muito forte essa coisa do bem receber, então o cliente se sente em casa, ele é acolhido por nós. Isso e o fato de trabalharmos somente com produtos maravilhosos, genuínos, são os diferenciais que fazem a gente ter cada vez mais clientes fiéis. Isso se reflete na nossa equipe. Temos gente com 25 anos de casa. Por isso a nossa equipe é engajada, altamente comprometida.
Você não apenas reposicionou a empresa da família, mas fundou uma outra loja, passando do mercado popular para o de alto padrão. Como se deu esse processo?
Eu nasci na Ótica Santa Luzia. Era uma ótica popular, na Pedro Pereira, 130. A minha infância foi toda indo pra lá, amava ir nas férias e limpar óculos, fazer de conta que estava fazendo uma venda. Na hora da merenda eu ainda ia à Samasa comprar sorvete (risos). A venda da joia é muito pessoal. Quando eu tinha quase 18 anos, comecei a vender joias e no ano seguinte a gente foi para shopping (no caso, o Avenida), já com a marca nova. O principal objetivo era atingir o público de shopping e também marcar um novo momento, quando deixamos de ser somente ótica pra ser joalheria. Comecei a viajar para o exterior em busca do que tinha de melhor.
Você começou a trabalhar no ramo muito cedo. Como você teve certeza que este seria o negócio da sua vida?
Quando a gente passou pro shopping, estava tudo pronto, mas só ia funcionar na outra semana. Estávamos só eu e uma vendedora que trabalha com a gente até hoje. Aí eu disse ‘eu vou abrir é hoje’! Apesar de ser um Sábado de Aleluia, eu vendi tanto que percebi que era aquilo que eu queria fazer pelo resto da vida.
Em algum momento você chegou a duvidar que conseguiria realizar tudo isso?
Eu sou muito grata às famílias que confiaram na gente. Éramos só mulheres, batalhando. Na separação dos meus pais a gente ficou com a loja e uma caixa de duplicata vencida. A gente foi atrás, renegociou, pediu crédito, recomeçamos do zero e, em menos de um ano, estava tudo pago. Acho que as pessoas, as famílias que já estavam comprando com a gente, perceberam o nosso esforço.
O que significa pra você comandar uma empresa familiar, só de mulheres, que se reinventou e conquistou um espaço como o da Tallis em um nicho de mercado tão restrito e disputado como o de alto padrão?
É a realização de um sonho. Eu sonhava com tudo isso, com as três lojas, com as representações de grifes de peso. Tudo isso eu já tinha na minha cabeça, lutei muito e consegui. Primeiro veio a Montblanc, há 15 anos; depois Bvlgari, da qual somos a terceira representação no Brasil; e por último veio a Rolex. Acho que eu nunca me dei a chance de errar. Sempre fui muito afoita, mas deu tudo certo e eu tenho orgulho da nossa trajetória. A maior riqueza que nós temos é essa rede de relacionamento, tanta gente que aposta, acredita e nos quer bem.
Quais são os papéis que cada uma de vocês exercem no dia a dia da empresa?
A gente tem uma relação muito bacana, acho que às vezes eu sou mais mãe dela (Gorete Arruda) do que o contrário (risos)! Em muitos momentos eu quis uma mãe que dissesse o que eu tinha que fazer, principalmente no começo da Tallis, sem saber de nada. Claro que eu queria uma proteção, mas hoje em dia eu agradeço por ter uma mãe que sempre apostou em mim. Ela sempre assinou embaixo de tudo o que fiz. Ela confia plenamente no meu tino, sempre me pôs pra cima. A Talynie é uma grande companheira, fiel, paciente, que está mais junto dos funcionários. Então as diretrizes do negócios podem até ser minhas, mas eu conto com o apoio delas, que é fundamental para que tudo dê certo. A minha mãe é a acolhida, o relacionamento, e a minha irmã é a minha grande companheira pra tudo na vida.
Com tanta experiência no mercado, como você avalia as mudanças no segmento de luxo ocorridas nos últimos anos?
Acho que as pessoas estão consumindo mais aqui, o que é bom, porque movimenta a economia local, não do exterior. A Tallis tem todos os lançamentos. Não existe mais essa coisa de lançar hoje na Europa e a gente só receber ano que vem. Além disso, a diferença de preço é quase nenhuma, e em alguns momentos aqui está até mais barato, principalmente quando a tabela muda no exterior. Então, no Brasil, você tem os lançamentos, o preço equivalente e ainda parcela em 10 vezes. Fora isso, acredito que o padrão de consumo está mudando mesmo, não é mais aquela coisa desvairada do comprar. Hoje viaja-se muito mais para passear do que para comprar.
O Atelier Tallis deve ser a prioridade daqui pra frente?
A gente tem apostado muito nisso. Já faz alguns anos que a Talynie e eu criamos joias sob encomenda, mas cada vez mais o consumidor quer uma peça que tenha a sua cara. Além disso, o custo/benefício é maravilhoso, e criar é muito gratificante. A gente sabe o que o cliente quer, a joia tem que ter significado. Então, a gente procura entrar no mundo do cliente e captar o que ele quer, criar de acordo com o desejo da pessoa.