“Teve efetividade, perpetua”, diz Romildo Rolim sobre o BNB

Efetividade e perpetuação. Essas palavras se repetem no vocabulário de Romildo Rolim, presidente do Banco do Nordeste. Para ele, são causa e efeito. Também são suas metas de todo dia. “Teve efetividade, perpetua. Não teve efetividade, pode não perpetuar”, diz ele sobre o futuro da instituição, que completa 67 anos.

A efetividade, ele explica, é fazer mais com menos. Fomentar o desenvolvimento do Nordeste, mas também trazer resultados financeiros, como o lucro líquido de quase R$ 745 milhões no primeiro semestre de 2019, um recorde. Para chegar à cifra, o banco fez mais desembolsos, com mais velocidade e menos risco. “Acredito que vamos perpetuar porque estamos fazendo o dever de casa”.

O presidente volta a conjugar o verbo quando fala da sua permanência no cargo. “Ninguém se perpetua em cadeira. Romildo Carneiro Rolim não tem amor a cadeiras, mas tem muito amor à Instituição”, diz ele, que é funcionário com mais de 30 anos de casa.

Na Presidência desde dezembro de 2017, conta que ainda não teve uma posição oficial, mas que sua continuidade já foi sinalizada por pessoas do Governo. A questão, relata, tem pouca relevância. “O que importa mesmo é o trabalho, botar mão na massa. Não é só sentar na cadeira e ser presidente”, enfatiza logo após constatar que sua gestão tem sido efetiva.

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Romildo Rolim concedeu entrevista exclusiva ao Tapis Rouge em seu gabinete na última sexta-feira, 16

O BNB acaba de divulgar um excelente balanço do primeiro semestre. Como esses resultados foram alcançados?

Os resultados do balanço do primeiro semestre do BNB realmente surpreenderam, mas eles são fruto de um trabalho mais focado na operação do Banco do Nordeste como banco de desenvolvimento. Foram feitas mais contratações, mais desembolsos comparativamente ao ano passado. A gente fez mais que o ano passado, fizemos com maior velocidade. Também conseguimos fazer reduções das nossas despesas administrativas – isso foi muito bom, foi efetivo – e redução do nosso risco de crédito. Com isso, chegamos a esse resultado de quase 745 milhões de lucro líquido.

O balanço mostra avanço em praticamente todos os indicadores, mas o lucro líquido se sobressai, com 223% de crescimento. Isso se deve a redução de despesas?

O lucro líquido em si aparece com a melhor gestão do risco de crédito, melhores operações, melhores ativos, menos provisões para devedores duvidosos, melhor recuperação de crédito, redução das despesas administrativa – com o programa Economizar Faz Bem, que lançamos há algum tempo e estamos colhendo os resultados -, maior velocidade nas contratações e desembolsos. Fizemos algumas alterações no processo de crédito, dando velocidade. Hoje, também somos um banco digital, mais rápido. Tudo isso somado deu esse resultado efetivo.

O senhor falou de banco digital. O BNB é um banco, que precisa dar resultados, mas também é um banco de desenvolvimento, que precisa dar maior suporte ao cliente. Como conciliar isso?

Estamos acompanhando todas essas tendências, esse momento da transformação digital é muito presente no Banco do Nordeste. Isso começou no ano passado, com os pequenos, que é o nosso foco como banco de desenvolvimento. No segmento microcrédito e pequenas e médias empresas, podemos dizer que o BNB é um banco digital: fazemos cadastro digital, abrimos conta, contratamos operações. Começamos nesses dois segmentos. Como somos um banco de desenvolvimento, existe ainda um atendimento quase personalizado, mas também com inserção digital. Temos também nossos hubs de inovação: aqui em Fortaleza, inauguramos em Salvador, estamos com reunião em Recife para fazermos uma terceira unidade lá. Isso é para termos pessoas, colegas, startups pensando como fazer melhor o nosso produto.

O balanço também mostra avanço no segmento Corporate, de grandes empresas, e infraestrutura. O Ceará tem grandes investimentos. Em quais deles o BNB está presente?

Em 2017, aplicamos R$ 3,6 bilhões no Corporate. Em 2018, aplicamos R$ 16 bilhões no segmento de infraestrutura. Fizemos energia, geração, transmissão e distribuição. Em geração, fizemos só energia limpa, principalmente eólica e solar. Fizemos água, saneamento, mobilidade, os dois aeroportos – de Fortaleza e Salvador – em que estamos em processo caminhando para finalizarmos o desembolso. A infraestrutura pavimenta o desenvolvimento. Neste ano, estamos com orçamento de R$ 12 bilhões para aplicar em infraestrutura. São recursos do FNE, com 20 anos de prazo total e cinco anos de carência. Também estamos aplicando em energia, mobilidade, alguns aeroportos no Nordeste com leilões neste ano – Recife é o principal deles – para a gente poder trabalhar nisso. Aqui no Ceará é forte em infraestrutura, tem energia, tem mobilidade, tem grandes projetos, tem o entrono do projeto do Pecém. Quando estávamos fazendo o planejamento dos recursos do FNE para este ano, conversamos muito sobre isso com as entidades. Sempre fazemos isso e já estamos conversando para 2020. O planejamento para o FNE é sempre participativo. Estamos conversando, sendo parceiros, e o banco financiador desses projetos grandes e estruturadores em todos os estados.

A Vopak, que ganhou a disputa pelo parque de tancagem do Pecém, colocou na proposta ao Estado que pode investir com recurso próprio ou com financiamento, citando BNDES e BNB. O Banco foi procurado pela empresa?

Sobre a Vopak, não tenho conhecimento. Os superintendentes estaduais estão sempre prospectando negócios. Temos as melhores linhas de crédito, os maiores prazos e as melhores taxas estão com o FNE, do qual somos o único gestor.

E a Transnordestina?

Sobre a Transnordestina, prestamos serviço para a Sudene de avaliação e vistoria. Somos o braço técnico da Sudene para o projeto. Realmente, eles estão adimplentes, mas não reiniciaram as obras. Estamos aguardando o recomeço. Temos linhas de crédito para a infraestrutura. Se houver pleito dos investidores… tem outros atores, não só a Sudene. O principal recurso que tem la é o FDNE, administrado pela Sudene. Estamos dispostos, sim, a participar e ser o órgão financiador. Nós fazemos operações com o FDNE, mas somos só o repassador. É como se fosse o braço financeiro da Sudene, que é a dona do recurso.

Qual a sua perspectiva para a economia brasileira e do Nordeste?

Somos otimistas. O melhor termômetro é demanda por crédito. Essa demanda, desde o ano passado, a gente vê que é muito crescente. No ano passado, contratamos R$ 32,6 bilhões de FNE. Nossa meta seria R$ 30 bilhões e já era ousada. Além do microcrédito que contratamos em torno de R$ 11 bilhões. Ao todo foram R$ 43 bilhões. Este ano temos orçamento em torno de R$ 40 bilhões e podemos dizer que todas as nossas demandas estão dentro de casa. Nossas esteiras negociais e técnicas já estão lotadas e são demandas responsáveis. Essas demandas são de empresários sérios, que sabem o que querem, com nicho de mercado já consolidado, que estavam com dúvida no passado e agora querem investir e crescer. Isso significa confiança, que a curva de crescimento já se mexeu. As reformas que já começaram a acontecer, estão no caminho da aprovação final, são positivas, realmente motores para a economia reagir. O Nordeste é um celeiro de oportunidades, de crescimento. Acreditamos que podemos muito ajudar e estar dentro desse processo de crescimento do Nordeste. Crescendo o Nordeste, cresce o Brasil.

A demanda que está no Banco corresponde a toda a meta de aplicação para 2019?  

A programação orçamentaria do FNE neste ano é de 27,7 bilhões, formalmente atualizada e deliberada pelo Conselho Deliberativo (Condel) da Sudene. Mas, se tiver recurso, a gente vai além e justifica depois. Fizemos, tinha demanda, não tinha impedimento legal normativo. No fim do ano não dá tempo fazer outro Condel, aí a gente justifica. Estando dentro da legislação, ok. No ano passado eram R$ 30 bilhões, fizemos R$ 32,6 bilhões e justificamos, tudo tranquilo. A gente está muito veloz, a pontualidade está melhor, a inadimplência do banco está reduzindo, a qualidade da carteira, aumentando. Isso é muito bom para a gente, estamos contratando cada vez melhor, melhores projetos, o cliente está pagando, está vindo mais recurso. A tesouraria não pode virar o ano com dinheiro. Queremos dormir zerados. No ano passado, fizemos R$ 32 bilhões porque em 2017 também não tínhamos aplicado tudo, tinha uma sobra de 2017 para 2018.

E isso está sendo feito com índice máximo em governança.

Essa questão da governança é muito importante. O Banco preza muito por isso: governança, ética, integridade. Temos um código de conduta e ética e é um ponto que a gente discute muito com nossos colegas, funcionários, fornecedores. Tudo que a gente faz aqui tem que ser correto, dentro das regras, com ética e integridade. Uma empresa só se perpetua se for dessa forma. Qualquer desvio de conduta, a gente não aceita. Estamos agora no quarto ciclo desse indicador de governança (IG-Sest). A gente conseguiu ser aprovado nos 49 itens avaliados. Tiramos a nota máxima. Foram 60 estatais e somente 13 tiveram nota máxima. Acho que todas deviam ter tirado nota máxima porque é obrigação, é papel da estatal ser eficiente. É um privilégio ter a estrutura paga pela sociedade, poder servir a sociedade.

O senhor acredita que o BNB vai ter vida longa?

Acredito. Digo aqui que a gente tem que ser efetivo, cumprir o papel com efetividade, com resultado, com qualidade, com menor custo. A efetividade significa fazer mais e com menos. Assim nós seremos avaliados como uma empresa que vai se perpetuar pelo nosso acionista, que é o Governo, pela sociedade. Houve efetividade, perpetua. Não houve efetividade, pode não perpetuar. Então queremos ser efetivos. Acredito que vamos perpetuar porque estamos fazendo o dever de casa. A gente fez 67 anos agora e, digo aos colegas, o banco precisa existir por mais 67 anos no mínimo.

O senhor já teve ok do Governo para a sua permanência na Presidência do Banco?

Não houve exatamente um ok, houve ok de pessoas do Governo, do Ministério da Economia.  A gente conversa todo mês, houve meses em que a gente conversou toda semana. A gente apresenta resultados, os resultados do banco têm sido muito bons. A gente tem feito esse dever de casa, de dar efetividade ao banco, ao trabalho. O Governo tem sido muito efetivo no acompanhamento das estatais. Isso é bom porque não deixa ninguém dormindo em berço esplêndido. A gente é daqui, de casa. Estamos aqui e sabemos que tudo tem começo, meio e fim. Ninguém se perpetua em cadeira, sei disso. Romildo Carneiro Rolim não tem amor à cadeira, mas ele tem muito amor à Instituição. Como ele trabalha e ele colabora para o bem dessa empresa, qualquer cadeira ele vai ter aqui. Aliás, às vezes, em momentos anteriores, se avizinhando de acabar algum ciclo, mais de uma cadeira apareceu. O governo atual já está há oito meses e o banco só cresce, só faz um melhor trabalho, se aproximando mais do Governo. Essa questão de se fica ou não fica… está aqui dentro, para mim, já é um privilégio. Ser funcionário da empresa há 30 anos já é um privilégio. O restante é só mostrar o serviço. Não só eu, porque o presidente não faz o trabalho sozinho. Não tem resposta em si, mas resposta nem sempre precisa ser dita, ela pode ser sentida ou ser comunicada por meio de outros gestos.

As especulações em torno da Presidência do Banco ou do próprio Banco atrapalham o trabalho de vocês?

Não. Nunca atrapalha. No dia a dia, a gente sabe o que é falácia e o que não é. 90% do que foi dito, propagado, foi falácia. O que importa mesmo é o trabalho, botar mão na massa, fazer, conhecer o negócio. Não é só sentar na cadeira e ser presidente, superintendente ou gerente.

Os ânimos estão muito acirrados no Brasil. O senhor é presidente de um banco estatal, com um governo de direita, mas atende ao Nordeste, com governos de esquerda. Isso o coloca em alguma saia justa?

Não. O banco está trabalhando para as pessoas, para o setor produtivo, para sua missão de desenvolvimento. Claro que somos banco de governo e temos que seguir as estratégias do governo atual. Fazemos isso, somos bastante disciplinados. A gente ouve, tem disciplina e fica atento para algumas questões que sejam diferentes disso para a gente não ter nenhum problema de relacionamento com o governo. É importante e tem que ser assim.

Como o senhor vê o desenvolvimento regional no Brasil?

É importante. O País é grande. O Brasil é muito diferente, o que é bom para uma região pode não ser para a outra. Tem que ter políticas diferentes e tem que ter instituições que cuidem dessas políticas para poder descentralizar e fazer melhor. Acho muito importante, está sendo feito, o governo está dando todo o suporte. Através do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Regional, o Governo está olhando isso. A ministra Tereza Cristina, o ministro Canuto têm vindo ao Nordeste. Através desses ministérios está sendo feita, tocada e olhada a questão regional.

E o que o BNB representa para o Nordeste?

O banco representa muito para o Nordeste. É o principal órgão de promoção do desenvolvimento da região. Temos diversas instituições: Sudene, Dnocs, BNB, Codevasf, que são igualmente importantes. Tem que fortalecer as quatro. O Banco tem sempre feito muito. Fortalecendo todos, cada um no seu papel, tem muito ganho.

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