Confira os melhores momentos em vídeo e a entrevista na íntegra abaixo:
Identificar em novos empreendimentos a possibilidade de crescimento e estruturá-los para atuar em novos mercados, sem esquecer a oferta de experiências inovadoras. Este é o objetivo da aceleradora de negócios Evolve, fundada pela empresária Carla Pontes – também herdeira e diretora do Grupo Marquise – e por seu sócio, Eliardo Rodrigues Filho.
Seu primeiro negócio próprio surgiu quase por acaso, consequência de um investimento bem sucedido na rede de alimentação saudável Club Life, uma das pioneiras no Brasil do conceito grab & go (pegue e leve). “Conheci como cliente e foi a primeira vez que eu experimentei comida saudável realmente gostosa. Procurei conhecer melhor a ideia, propus entrar como investidora e o negócio foi crescendo. Foram surgindo outras oportunidades e eu vi que dava para investir em outras coisas, fazer o aporte de gestão, a discussão de estratégia, mas tendo um negócio com sócios operadores, que entendam e toquem bem o dia a dia”, explica.
Atualmente com 20 lojas em três modelos – o Club Life To Go, com operações menores e conceito grab & go; café; e restaurante a la carte com conceito mais despojado e refeições servidas em bowls – a rede, que teve sua origem em São Paulo, opera em Fortaleza, Recife, Teresina, Brasília, Curitiba, Porto Alegre e Belo Horizonte. Ainda neste semestre, vai começar a operar também no exterior, começando no Porto, em maio, e Miami (EUA), em junho, além de ter a previsão de 10 novas lojas no Brasil em 2019.
DIVERSIFICAÇÃO
A segunda fornada de investimentos da Evolve é a Unhas Flash. Nascida em Fortaleza e concebida para oferecer serviços de manicure em até meia hora, sem precisar marcar horário e a preço fixo, tem sua primeira unidade funcionando no RioMar Fortaleza. Após a entrada na Evolve, a empresa já conta com mais sete unidades em processo de abertura e previsão para desembarcar em São Paulo este semestre. Com a estruturação da empresa por lá, a expectativa é de abrir cinco novos quiosques por mês. Carla promete ainda a entrada em um terceiro segmento em 2019, oferecendo serviços e produtos que a concorrência não tem.
Para encarar novos desafios, Carla tem a seu favor a formação (MBA em Harvard), a experiência na consultoria Ernest&Young e no Banco Santander, além de 12 anos na Marquise. No grupo, dirige três segmentos – as centrais de serviços ao cidadão Vapt-Vupt, com quatro unidades em Fortaleza, Juazeiro do Norte e Sobral; o Shopping Parangaba; e a Rede Tambaú de Comunicação, com uma afiliada do SBT na Paraíba, um portal de notícias e duas FMs Jovem Pan, sendo uma em Maceió.
Tapis Rouge – A Evolve nasceu por acaso, a partir do sucesso da Club Life?
Carla Pontes – A ideia da Evolve começou com o primeiro investimento em uma empresa de alimentação saudável, o Club Life, que já existia e eu entrei como investidora e também aportando na estratégia. O Club cresceu bastante, chegamos a 22 unidades em dois anos, inclusive fora do Brasil (Porto e Miami) e a gente percebeu que tinha um mercado de empresas de médio e pequeno porte que tinham negócios bons e promissores, mas não conseguiam crescer por uma série de fatores. Seja por problemas de investimento, de estratégia, de gestão, e entendemos que poderia ser um bom negócio. Foi aí que a gente criou a Evolve, uma aceleradora de negócios. A gente identifica pequenos ou médios que têm potencial e entra com o investimento, passa a ter participação societária e aporta também know how de gestão. O meu sócio Eliardo Rodrigues entra na operação do dia a dia, para fazer os negócios de fato alavancarem.
A aceleradora é uma modalidade de investimento que ainda não é comum no Brasil. Como foi esse insight?
É muito comum nos Estados Unidos, principalmente na Califórnia, onde tem muitas start ups. A diferença da aceleradora para a incubadora é que esta pega ideias embrionárias, já na aceleradora entramos em empresas comprovadas, mas ainda pequenas ou médias. A ideia de fazer isso aqui veio da visualização desse mercado em outros lugares. Em SP existem algumas aceleradoras, não muitas. A grande diferença da nossa para as demais é que nós, de fato, entramos na gestão. As aceleradoras hoje em dia têm por modelo de negócio simplesmente colocar dinheiro, enquanto a gente, além do investimento, entra com estratégia.
Entrar no dia a dia da empresa também diminui o risco do investimento?
Sem dúvida. O nosso modelo de negócio também é diferente das aceleradoras comuns por ter participação societária relevante, onde a gente tem poder de decisão. O investimento é feito, a gente define junto as estratégias e aprova as coisas que estão acontecendo ali. A gente entende que estar na gestão é importante tanto para diminuir o risco, quanto para, de fato, fazer aquilo que a gente sabe fazer bem, que é o desenvolvimento de negócios.
Vocês procuram negócios com essa particularidade da inovação, ou outra característica específica?
A gente tem três pilares, não temos um segmento que a gente concentre. Obviamente, vemos mercados que entendemos ter potencial, mas não existe um foco específico. O principal para a gente é a escolha do empreendedor. O fundamental é analisar se o empreendedor realmente entende muito bem do negócio dele. Independente dele ter, por N motivos, condições de expandir ou não, tem que entender muito bem do seu negócio. Se conhece e opera bem o mercado em que já está, é o primeiro pilar. O segundo é o próprio segmento. Como ele se comporta, como se desenvolve, quais as perspectivas, quem são os concorrentes, enfim, se o mercado tem potencial. E o terceiro é o modelo de negócio específico. Se tem potencial de escala, de crescimento, e se é um negócio que tem boas margens, que é estruturado. Se tem essas três coisas – um bom empreendedor, mercado com potencial e uma empresa com modelo de negócio escalável -, a gente entra com investimento, modelo de gestão e expansão. E o sócio empreendedor, isso é pré-requisito, tem que estar sempre à frente, operando o negócio.
Esse aporte de know how de gestão inclui também modelos de gestão específicos?
Temos sim, por isso que na avaliação vemos a escalabilidade, o potencial de crescimento. A gente tem expansão tanto por modelos próprios quanto por franquias, temos um know how administrativo, operacional e processual para fazer esse crescimento. Toda a parte jurídica, de manualização, a gerência de implantação de negócios, software de gestão de projetos, equipe e ferramentas para focar no crescimento. Por isso a importância do empreendedor entender do negócio. A gente deixa ele tocando o negócio e faz a expansão, a estratégia, a parte organizacional, financeira e contábil, com todos os modelos para trabalhar nisso.
O primeiro negócio de vocês foi comida saudável; o segundo, serviço rápido de manicure. Vocês buscam ter sempre negócios inovadores?
Sim, a gente sempre busca entrar em mercados estabelecidos, mas com propostas diferentes. A gente quer que a experiência do consumidor seja diferente da que o mercado já entrega. O Club é uma empresa de alimentação saudável sem ser xiita. Tem doce, tem filé, tem opções veganas… A experiência é diferente. Quando começou a tendência da alimentação saudável, existiam modelos de negócio muito rígidos. A nossa proposta é ser uma alimentação saudável, acima de tudo saborosa e com uma experiência agradável. Então é para todos, não é só para o público fit ou para quem está fazendo dieta. A experiência que a gente quer entregar com o Club é a de que o saudável é saboroso. O Unhas Flash também é uma experiência diferente, de velocidade com qualidade. É diferente da experiência do salão, são momentos de consumo diferentes. Quando você vai ao salão geralmente é quando tem tempo, vai fazer mais de uma coisa. Já o Unhas não, é para quem precisa, mas não tem tempo. É uma solução de velocidade com qualidade, com uma experiência de cuidado. E temos ainda um terceiro projeto que está em estruturação, ainda estamos na fase de branding e posicionamento de mercado, mas de novo em um segmento que já existe, estabelecido, porém com uma proposta diferente do que é feito hoje.
O Unhas Flash nasceu em Fortaleza e o Club Life tem forte presença na Região Nordeste. A Evolve tem a preocupação de fomentar negócios daqui para crescer em outras regiões?
Eu sou nordestina, nasci em Fortaleza, mas fui morar em São Paulo muito cedo, aos 17 anos. Fiz faculdade lá e tive a oportunidade de estabelecer uma rede de contatos e de entender muito o mercado de lá, mas também morei e trabalhei aqui, onde se vê ideias incríveis. Por outro lado, existe uma barreira muito grande para sair do Nordeste e expandir para São Paulo. Assim como existe também o contrário, por motivos diferentes. Entrar em outros mercados não é fácil. Além da barreira cultural, existe o bairrismo mesmo. E, naturalmente, a aceleradora começou com negócios daqui do Nordeste que a gente viu que tinha potencial de crescimento em São Paulo. Então a gente faz essa ponte Nordeste-Sudeste.
A Evolve está sempre analisando novos projetos, ou no momento está focada somente nestes três negócios?
A gente sempre está analisando oportunidades. Temos três projetos andando agora: o Club Life , que já está estabelecido e em crescimento; o Unhas Flash, que é inicial e em três meses a gente expandiu de uma unidade para cinco; e o terceiro é embrionário ainda. Além desses três, já dentro da nossa carteira, estamos analisando três outros. A gente tem um pipeline onde analisa o negócio, escolhe e põe para dentro, para a equipe tocar.
Há uma meta da Evolve para acelerar quantos projetos novos por ano?
A gente não tem meta para novos negócios. Temos metas de crescimento para cada um dos projetos em desenvolvimento e, para a aceleradora, uma meta de retorno.
O Club Life foi seu primeiro negócio próprio?
Foi. Era um negócio que já existia e eu entrei como investidora. Eu gosto, me identifico com essa coisa da alimentação saudável, mas achava chato, não era prazeroso. Conheci como cliente e foi a primeira vez que eu experimentei comida saudável gostosa, boa de verdade. Procurei conhecer melhor a ideia, coincidentemente um dos sócios é daqui de Fortaleza, e eu entrei investindo, não me envolvendo no dia a dia da gestão inicialmente. Aí o negócio foi crescendo, foram surgindo outras oportunidades e eu vi que dava para investir em outras coisas, fazer o aporte de gestão, a discussão de estratégia, mas tendo um negócio que seja tocado no dia a dia pelos outros sócios, no caso o Eliardo Rodrigues, sócio original, que toca toda a parte comercial, expansão, marketing, e a operação com os empreendedores. Eu entro com as estratégias financeira, de mercado e de operação, e a equipe toca o dia a dia junto com os empreendedores. Paralelo à Evolve, eu continuo tocando alguns negócios do Grupo Marquise.
Qual das três vertentes do Club tem maior potencial?
Temos a linha grab & go, o Club Life Café e o Club Life, que é um modelo novo de restaurante a la carte que a gente desenvolveu para entrar em shopping centers e em locais onde não se precisa ter uma alimentação rápida. A nossa grande aposta é nos dois modelos de café, porque não existe ainda o modelo de café saudável. Por exemplo, nossa coxinha não é frita, é assada e com massa de castanha; os nossos doces não têm farinha branca ou açúcar refinado etc. A gente aposta muito no segmento de café, são dois modelos que a gente está testando em Fortaleza, e o a la carte, que estamos testando em São Paulo. O To Go continua, mas vai para modelos de operações menores, mais enxutos.
A expansão para o Exterior será ainda este ano?
Estamos em processo de abertura da primeira unidade em Miami Beach (EUA), programada para junho, e no Porto vai começar em maio. Por enquanto a gente quer consolidar nessas cidades. Acredito que Miami tem muito espaço para crescer, mas vamos abrir o primeiro, arredondar o modelo, entender a cultura local, e por isso sempre temos um sócio local. Ao chegarmos ao modelo ideal, vamos concentrar a expansão nestes mesmos locais. Não adianta, de repente, eu ir para a França, que tem um mercado e uma cultura completamente diferentes. A nossa estratégia é essa: abrir uma operação, entender o mercado, consolidar e fazer a expansão. Do Club a gente deve abrir em torno de 10 operações ainda este ano, entre cafés, bowls e grab & go. Para o Unhas a meta é abrir cinco unidades por mês a partir de julho. Até lá será o período de entrada e adaptação em São Paulo. Então devemos abrir de 20 a 30 unidades este ano.
O Unhas é voltado só para mulheres ou também atende homens?
Eu achava que o nosso público seria predominantemente feminino, mas já temos entre 30% e 40% de clientela masculina. Analisando, acho que é ainda mais interessante para o homem sentar e ter um serviço de manicure de 20 minutos do que ir até um salão ou chamar uma profissional em casa. Acho que essa praticidade atraiu o público masculino e nos surpreendeu esse volume de clientes homens.
Vocês pensam em levar também a Unhas Flash para o Exterior?
Primeiro a gente vai consolidar no Brasil, mas sim, já estamos mirando os Estados Unidos. Não vamos começar agora, mas já estamos estudando o mercado. Lá, as manicures são essencialmente brasileiras e russas, e é um modelo muito caro. A gente está observando para, com o nosso modelo, entregar um serviço bom com um preço mais acessível. Não temos data, mas 2020 é uma boa perspectiva.