Premiado em festivais, o documentário Soldados da Borracha estreia nesta quinta (5), no Cinema do Dragão. Dirigido por Wolney Oliveira, filme revisita trajetória de 60 mil brasileiros enviados à Amazônia, durante a Segunda Guerra Mundial, para extrair látex em condições desumanas
Sâmya Mesquita
samya@ootimista.com.br
O ano de 2024 está sendo um marco para o cinema cearense. Após receber sucessos como Greice, Mais Pesado é o Céu, Vermelho Monet, Estranho Caminho e Motel Destino, o Cinema do Dragão exibirá, a partir desta quinta-feira (5), o documentário Soldados da Borracha, do cineasta cearense Wolney Oliveira. Reconhecido em festivais no Brasil e no Exterior, o filme resgata a pouco conhecida história de 60 mil brasileiros enviados a Amazônia durante a Segunda Guerra Mundial, no que o autor descreve como “um plano mirabolante entre Brasil e Estados Unidos”.
Durante o conflito, esses trabalhadores foram recrutados pelo Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia (Semta) para extrair látex, insumo crucial para a indústria bélica dos Aliados. Promessas de retorno como heróis nacionais e aposentadorias equiparadas às de militares nunca se cumpriram. “Foi quase um genocídio”, destaca Oliveira, referindo-se às condições precárias enfrentadas pelos trabalhadores, marcados por doenças, fome e abandono. A saga, pouco lembrada nos registros oficiais, ganha vida no documentário por meio dos depoimentos de sobreviventes e pesquisas historiográficas detalhadas.]
Produzido ao longo de uma jornada que passou por estados como Ceará, Acre, Rondônia e Amazonas, o projeto enfrentou desafios logísticos e financeiros. “A principal dificuldade foi a logística, porque filmamos em várias regiões, e a velha dificuldade de captar recursos. Mas tivemos a sorte de contar com o patrocínio de instituições como o BNDES e a Ancine”, explica o diretor. Além disso, o filme foi viabilizado com apoio da Lei Paulo Gustavo e do Canal Brasil.
Legado e aprendizado
Mais do que um relato histórico, Soldados da Borracha é um convite à reflexão sobre o papel do cinema documental na formação de uma consciência crítica. “O documentário abre sua cabeça e traz emoções inesperadas. É uma forma de conhecer histórias que jamais imaginávamos, como a dos soldados da borracha”, ressalta. Ele acredita que, mesmo com o filme e um livro publicado sobre o tema, o Brasil ainda deve um reconhecimento mais digno a esses trabalhadores: “A PEC dos Soldados da Borracha [346/2013] resultou em uma indenização de apenas R$ 25 mil por 70 anos de história negada. Isso está longe de ser justiça”.
O Diretor Executivo do festival Cine Ceará espera que o público de Fortaleza se emocione com os relatos e os personagens únicos que compõem o filme. “As pessoas vão conhecer uma história ainda desconhecida, cheia de absurdos e de personagens interessantes, alguns até hilários. A principal reflexão é sobre o abandono desses trabalhadores pelo governo brasileiro e americano”, diz.
Prêmios
A produção já acumula alguns reconhecimentos, como no Festival É Tudo Verdade, onde recebeu o prêmio de Melhor Longa-Metragem Nacional pelo júri da ABD-SP, o filme coleciona prêmios. Destaques incluem o troféu Margarida de Prata, da CNBB, por ressaltar valores humanos e éticos, e reconhecimentos em festivais como o Festival de Havana, em Cuba, o Fest Aruanda, a Mostra Ecofalante e o Festival Guarnicê. “Os festivais foram cruciais para dar visibilidade a essa história, especialmente no Brasil, onde a reação do público foi muito positiva”, ressalta Wolney Oliveira.
Com uma narrativa impactante e visualmente rica, Soldados da Borracha é indispensável para quem quer conhecer o Brasil profundo, apagado pelo tempo, mas que também joga luz sobre questões éticas e políticas ainda urgentes.